Como identificar o que deve (ou não) ser dito no trabalho – 15/06/2025 – Carreiras

Ilustração estilizada de uma figura humana masculina, representada de maneira abstrata e simplificada. A silhueta é composta por tons de rosa e azul escuro, com destaque para o rosto sem detalhes faciais, voltado para a direita, e uma mão erguida, como se estivesse prestes a tocar algo ou se afastar. O personagem veste uma camisa branca com gravata preta, sugerindo uma figura formal, talvez um trabalhador ou executivo. O fundo é composto por um padrão de tijolos azuis, criando uma sensação de isolamento ou bloqueio, como se o personagem estivesse preso ou cercado por um muro simbólico. A composição transmite um ar de introspecção, solidão ou repressão emocional, reforçado pelo contraste entre a rigidez do fundo e as linhas suaves do personagem.

Se você é jovem e acabou de iniciar sua carreira, pode ser difícil entender o quanto se abrir no trabalho. Devo compartilhar aspectos pessoais para criar vínculos ou evitar totalmente essas questões? Conversei com especialistas que explicaram como estabelecer limites neste ambiente.

Primeiro, é preciso ter em mente que nem todos os assuntos são adequados para o mundo corporativo. E quais são eles? Questões que envolvem dinheiro, brigas familiares e/ou conjugais, traumas e opiniões políticas.

Por quê? Contar os detalhes da sua vida para os colegas pode gerar exposições desnecessárias. “Sempre que você trata de um excesso, se acaba passando um pouco desse limite mais formal, corporativo, você pode estar se expondo e gerando um ruído ou má interpretação”, diz Anderson Nishiura, sócio-diretor da Apter.

  • Lembre-se: as pessoas são criadas de formas diferentes e adquirem personalidades distintas. Uma informação que pode ser banal para você não necessariamente será recebida pelo outro da mesma maneira.

Além disso, compartilhar demais pode dar motivo para que as pessoas façam suposições sobre sua vida pessoal e até utilizem informações contra você para tirar vantagem em algumas situações, pontua Tamires Teixeira, psicóloga e mentora de carreiras.

Imagine o cenário: você trabalha em um setor que cuida das finanças de uma empresa e contou para sua equipe que está devendo um banco ou que contraiu alguma dívida.

A partir desta informação, as pessoas podem inferir que você é um profissional ruim por atitudes que teve no âmbito privado. “Talvez o olhar dessas pessoas, pode ser de ‘caramba, se a pessoa não consegue lidar com as suas próprias finanças, como vai lidar com as finanças da empresa’?” exemplifica Teixeira.

↳ Por isso, antes de comentar algo pessoal com colegas, faça uma reflexão: se eu compartilhar essa informação, vou criar mais vínculos, identificação e proximidade com colegas, ou posso abrir espaço para interpretações equivocadas sobre minhas atitudes e sobre minha personalidade?

No caso de ausência no trabalho, quanto é preciso revelar? Para os especialistas, o mínimo necessário para justificar sua falta para o gestor é o suficiente, já que isso impacta no fluxo de trabalho de outras pessoas.

Em casos que envolvem questões de saúde, por exemplo, você pode detalhar o que está acontecendo dependendo da cultura organizacional da empresa em que estiver, diz Nishiura. Líderes bem treinados sabem recepcionar informações delicadas com cautela, sigilo e respeito.

“O gestor sempre tem que estar aberto, disponível, mas nunca de uma forma invasiva para poder ouvir o profissional. Então, vejo com bons olhos quando um profissional se sente à vontade em compartilhar um aspecto de saúde”, exemplifica o sócio-diretor.

Caso não tenha abertura com seu líder direto, mas ainda queira compartilhar o que está acontecendo, pode procurar algum colega, com quem tenha mais proximidade, para relatar a situação, aconselha Nishiura. “Para você poder pegar algumas dicas de abertura, inclusive talvez essa pessoa consiga fazer o desenho de como levar essa informação a mais para o seu gestor principal” diz.

Importante: essa discussão não diz respeito à fazer uma separação total entre a vida pessoal e profissional.

“É muito difícil a gente entrar às 8h no trabalho e desligar tudo que aconteceu na vida e voltar à vida pessoal depois das 17h e 18h. É importante a gente ter essa oscilação e elas [vida pessoal e profissional] acabarem se complementando, desde que não haja nenhuma indisposição” aponta o sócio-diretor.

Para Nishiura, os colaboradores nunca devem deixar de respeitar autenticidade e jeito de ser no dia a dia, mas é preciso ter cautela. Ele avalia que é saudável compartilhar alguns aspectos pessoais, desde que haja um propósito, principalmente se for com o objetivo de criar relacionamentos de longo prazo e melhorar o dia a dia da equipe em que você trabalha.

De uma perspectiva psicológica, não é possível fazer essa separação completa. Segundo Teixeira, trazemos para o mercado de trabalho tudo aquilo que é negativo e positivo em nós. “Mas isso não significa que você vai utilizar tudo que você é dentro daquele espaço”, diz.


Conselhos de CEO

Profissionais em cargos executivos dão dicas para quem está em início de carreira

Sobre ela: Vera Buzanello é Diretora Geral da Warner Bros. Brasil e Head de Receita de Distribuição da Warner Bros. Discovery (WBD) para a América Latina, atuando em diversas frentes como distribuição, publicidade, produção, programação, finanças e mais. Com carreira iniciada na Discovery em 1998, ocupou cargos de liderança em distribuição e vendas, incluindo a Vice-Presidência Sênior para a América Latina/USH. É pós-graduada em Marketing pela PUC-RJ.

Meu primeiro emprego… Foi como estagiária na área de Comunicação da Petróleo Ipiranga. Após um ano de estágio, fui efetivada. Essa experiência foi fundamental para minha formação profissional e para o desenvolvimento de uma visão prática do mercado.

O que eu faria diferente… De forma geral, não mudaria muito. Sempre tive clareza sobre as oportunidades e paciência para construir minha trajetória. No entanto, olhando para trás, percebo que muitos momentos de estresse poderiam ter sido vividos com mais leveza. Mas hoje entendo que faz parte do processo de crescimento, o chamado “growth pain”.

Um erro do qual não esqueço… Fui muito focada na construção da minha carreira, o que me levou a não valorizar tanto as pausas pessoais e os momentos de apreciação. Com o tempo, aprendi que é fundamental parar, respirar e reconhecer as conquistas antes de seguir adiante. Ver o copo meio cheio, e, acima de tudo, aproveitar a jornada.

Uma habilidade essencial… Acredito que a inteligência emocional é uma das competências mais importantes. Conhecimento técnico, dedicação e persistência são essenciais, mas a capacidade de lidar com emoções, aprender com as experiências e resolver conflitos de forma construtiva é o que diferencia os grandes profissionais. Saber o que realmente importa e manter o equilíbrio diante dos desafios é uma habilidade valiosa em qualquer área.

Um conselho para jovens profissionais… Eu diria para terem foco e persistência. É essencial manter a determinação e seguir em busca dos seus objetivos. Vivemos em uma era de abundância de informações e muitas possibilidades. Isso nos dá a sensação de que tudo está disponível no momento que queremos,mas a carreira profissional é construída ao longo de diversos momentos de dedicação —e leva tempo. É importante saber buscar conhecimento, mas, sobretudo, filtrá-lo com discernimento.



Fonte ==> Folha SP

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