Negacionismo econômico-climático – 14/06/2025 – Opinião

Máquina laranja com a caçamba erguida em frente a um prédio histórico e de uma rua alagada

A cinco meses da COP30, conferência global sobre emergência climática em Belém, estreitam-se as perspectivas de sucesso do governo brasileiro na ingrata tarefa de mobilizar um mutirão internacional para mitigar o aquecimento do planeta e adaptar populações vulneráveis a impactos já perceptíveis.

A figura do mutirão pelo clima foi cunhada pelo embaixador André Corrêa do Lago, na esperança de motivar negociadores da reunião que presidirá. Como que a intuir o risco de estagnação nas tratativas entre duas centenas de países, lançou á mesa outro conceito: negacionismo econômico.

Eventos atmosféricos extremos, previstos há décadas pela ciência, já se fazem presentes. A realidade se encarregou de educar o ceticismo climático —tendência ideológica que nega projeções de especialistas, semeando dúvidas pontuais sobre estudos, considerados alarmistas.

Desastres se repetem: inundações no Rio Grande do Sul, incêndios florestais na Califórnia, secas na amazônia e no pantanal e ondas de calor na Europa. Outros virão, e ainda mais danosos, se o planeta não transitar para a renúncia a combustíveis fósseis até meados deste século, como se acordou na COP28.

Só a conta da reconstrução gaúcha chegou a R$ 100 bilhões, assinalou Toni, montante que saiu quase todo dos cofres do poder público —ou seja, do bolso dos contribuintes, não dos setores econômicos que mais poluem a atmosfera e bagunçam o clima. Ademais, quanto valem as 3.000 vidas perdidas em 2024? As quebras de safra? E as doenças zoonóticas turbinadas nos habitats deslocados de seus vetores?

Desconhecem-se tais cifras porque os atores envolvidos estão mais empenhados em calcular subsídios para fomentar setores tradicionais, como o do petróleo. No Brasil, observa-se discordância entre o Palácio do Planalto e Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, em relação à exploração de petróleo em área costeira da mesma amazônia para onde levou a COP30.

Corrêa do Lago e Toni não têm boas respostas diante dessa contradição, nem poderiam ter. É ao governo Luiz Inácio Lula da Silva que irá a cobrança em Belém.

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Fonte ==> Folha SP

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