O impacto emocional da gestante no desenvolvimento do bebê

Especialista em psicologia pré e perinatal explica como sentimentos maternos moldam a vida emocional da criança desde o útero

A gestação é um período em que corpo e mente se transformam diariamente. Mas, além das mudanças físicas, existe um campo silencioso e potente: o emocional. Segundo Manoel Augusto Bissaco, especialista em psicologia pré e perinatal, o bebê não apenas acompanha esse processo, como o vive junto com a mãe. Emoções, hormônios, estados de tensão e bem-estar passam pelo corpo da gestante e chegam ao feto de maneira muito mais profunda do que se imagina.

Manoel explica que o útero funciona como um primeiro ambiente emocional. “O bebê percebe o mundo interno da mãe. Ele não entende a emoção como um adulto, mas sente suas vibrações, alterações hormonais, ritmo cardíaco e até o padrão de respiração. Cada estado emocional da mãe é uma informação que chega até ele.”

Como o cortisol atravessa a placenta e impacta o bebê

Entre esses sinais, um dos mais estudados pela ciência é o cortisol, conhecido como o hormônio do estresse. Em situações de ansiedade, medo ou grande pressão emocional, os níveis de cortisol aumentam no organismo da gestante. Esse hormônio consegue atravessar a placenta e alcançar o bebê, que reage a esse aumento com alterações no próprio ritmo cardíaco e nos movimentos.

Manoel reforça: “O bebê responde ao que a mãe sente. Quando a gestante vive períodos prolongados de estresse, o feto experimenta esse ambiente como uma espécie de alerta constante. Isso influencia diretamente a formação do sistema nervoso e a forma como essa criança, no futuro, lidará com estímulos e emoções.”

Ele explica que não se trata de evitar emoções negativas — afinal, ninguém passa nove meses vivendo apenas coisas boas —, mas de criar um ambiente emocional mais estável e consciente. Para o especialista, o ponto central é o acolhimento: “O bebê sente mais a maneira como a mãe lida com a emoção do que a emoção em si.”

Emoções boas também constroem memórias internas

Assim como o estresse deixa marcas, as emoções positivas também fazem diferença. Sensações de tranquilidade, alegria, amor e segurança influenciam a liberação de hormônios como ocitocina e serotonina, que também chegam ao bebê. Esses momentos contribuem para a formação de um sistema nervoso mais equilibrado.

“Quando a mãe respira fundo e se acalma, o bebê sente essa transição. Quando ela canta, fala com carinho ou simplesmente coloca a mão na barriga com presença, ele recebe isso como segurança. São primeiras memórias afetivas que vão acompanhá-lo pela vida”, afirma Manoel.

A importância do cuidado emocional na gestação

Para o especialista, cuidar da saúde emocional na gravidez é tão essencial quanto o pré-natal físico. Terapias, grupos de gestantes, atividades como meditação, caminhadas, yoga e até pausas de silêncio ao longo do dia auxiliam a regular o sistema emocional da mãe — e, consequentemente, o do bebê.

“A gestação não é apenas a formação de um corpo. É o início de uma história emocional compartilhada. Mães que se acolhem, reconhecem seus limites e buscam apoio quando necessário oferecem ao bebê um ambiente interno mais seguro e afetuoso.”

Manoel conclui com uma mensagem que costuma repetir em suas consultas: “O bebê aprende a sentir com a mãe. A forma como ela se trata durante a gestação será, muitas vezes, a base de como ele aprenderá a se tratar no futuro.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *