MERCADO DE AÇÕES

Popularidade de Lula tem nova ameaça com rumos da economia

Popularidade de Lula tem nova ameaça com rumos da economia

Novos sinais de deterioração no cenário econômico tendem a dar tração ao aumento da desaprovação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) verificado nas últimas pesquisas de opinião, às vésperas do início do ano eleitoral. A sequência de fatos considerados negativos para Lula, iniciada no fim de outubro, sobretudo a megaoperação policial no Rio de Janeiro, que reacendeu o debate sobre segurança pública, passou a desgastar o governo. Mas o temor de estagnação econômica e o eventual esgotamento de dribles orçamentários podem agregar ameaças à reeleição e alimentar o discurso da oposição. As últimas pesquisas de intenção de voto indicam que a recuperação da popularidade de Lula, observada entre junho e outubro, perdeu fôlego. O impulso gerado pela ofensiva governamental contra o tarifaço que à época havia sido imposto pelos Estados Unidos às exportações brasileiras não se sustentou. O desgaste para o governo com a COP 30 diante da falta de organização e estrutura em Belém – inclusive com um incêndio em 20 de novembro – também é um fator que poderá pesar contra o Planalto nas próximas sondagens. Juros altos freiam PIB e endividamento e inadimplência das famílias batem recordes No último dia 17, o Banco Central (BC) divulgou o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), que registrou recuo de 0,9% no terceiro trimestre deste ano. Para a equipe econômica do governo, as projeções refletem o peso da taxa básica de juros (Selic), que está em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006. Outro dado que preocupa analistas e investidores é o elevado patamar de endividamento do brasileiro, que atingiu em outubro um recorde, com 80% das famílias do país tendo alguma dívida, conforme o levantamento mensal da Confederação Nacional do Comércio (CNC). O total de inadimplentes também bateu recorde, com 30,5% das famílias com dívidas em atraso e 13,2% declarando não ter condições de pagar. Más notícias já chegam também ao mercado de trabalho. O Ministério do Trabalho divulgou na quinta-feira (27) que o país abriu 85,1 mil vagas formais de trabalho em outubro. Os dados representam queda de 35% em relação a outubro de 2024, quando foram criados 131,6 mil empregos com carteira assinada. Foi o pior resultado para o mês de outubro desde 2020, quando novas formas de coleta e integração de dados foram incorporadas. Para completar, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou que o seu índice de expectativa de demanda por produtos industriais caiu de 52,5 para 51,3 pontos em novembro — a pior marca para esse mês desde 2016. O recuo de 1,2 ponto reflete uma percepção de menor intensidade no consumo para o fim de ano, com empresários antecipando queda tanto nas vendas domésticas quanto nas exportações. Simultaneamente, o índice de emprego no setor industrial caiu para 49,1 pontos e o de exportação para 48 pontos, sinalizando expectativas negativas nesses dois campos. Desgastes com CPMI do INSS e COP 30 também devem desgastar mais o governo Juan Carlos Arruda, diretor-geral do Ranking dos Políticos, vê nas pesquisas recentes de aprovação do governo a continuidade de um alerta importante para o governo. “Se as dificuldades econômicas persistirem, assim como a percepção de ineficiência ou mais episódios como a reação à operação no Rio de Janeiro, o cenário atual pode se agravar”, sublinha. No plano político, Lula também tem colhido notícias que podem agravar sua situação nas pesquisas. A nova fase da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal (PF), elevou a pressão sobre o governo ao prender o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto e outros envolvidos em fraudes bilionárias na Previdência. A operação cumpriu 10 mandados de prisão e ações em 15 estados. Seu primeiro impacto foi dar impulso aos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, comandada pela oposição. Ainda houve desgastes também com o saldo negativo da realização da Cúpula do Clima (COP30), em Belém. Um dos pavilhões pegou fogo na reta final, no dia 20, e o local precisou ser esvaziado. O incidente repercutiu entre parlamentares da oposição e na imprensa internacional. Ambos apontaram os problemas estruturais da COP. No caso dos políticos oposicionistas, eles também salientaram a responsabilização do governo e os gastos para a realização do evento. O Executivo gastou ao menos R$ 787,2 milhões com a realização da COP 30. Reação do governo à maré de notícias ruins não obteve êxito, diz especialista Segundo o professor de Ciências Políticas Antônio Flávio Testa, o governo tentou reagir à nova onda de más notícias, mas acabou não tendo sucesso. Nem mesmo o processo na Justiça Eleitoral para cassar o mandato do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, foi adiante. “A população do estado e do país aplaudiu a megaoperação. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tentou assumir o controle, mas também não conseguiu”, observa. Além disso, o governador do RJ anunciou mais 10 operações e já iniciou novos procedimentos para conter a ocupação territorial do crime organizado. Embora as negociações em torno do projeto antifacção, proposto pelo governo e conduzido pela oposição, com o relator, deputado Guilherme Derrite (PP-SP), tenham gerado insatisfações para ambos os lados, Testa acredita que a população segue inclinada a apoiar a pauta conservadora, inclusive a de associar as organizações criminosas ao terrorismo – ainda que essa equiparação não tenha sido incorporada no texto que passou na Câmara na terça-feira (18). Arruda, do Ranking dos Políticos, avalia que, ao passar a conviver com um cenário menos previsível para 2026, o governo ainda tem de encarar um campo conservador liderado por Jair Bolsonaro – que segue influente, “mesmo com todas as incertezas jurídicas sobre o destino e a inelegibilidade” do ex-presidente. “Para Lula, isso significa que a estratégia de reeleição não poderá se apoiar apenas no contraste com o adversário. Será necessário apresentar entregas concretas, comunicar de forma mais assertiva e recuperar a confiança do eleitor moderado”, diz. Pesquisas mostram retomada da queda na aprovação do governo Depois de três meses de leve alta, três institutos de pesquisa