Em um painel intitulado “Mutirão: Rumo a uma Ação Climática Exponencial” no The ExChange Summit, André Corrêa do Lago, presidente da COP30, defendeu nesta segunda-feira (2) a necessidade de reverter o ceticismo e a inércia diante dos desafios socioambientais globais.
“Temos que devolver a confiança no combate à mudança climática“, disse o embaixador no primeiro dia do evento que reúne no Rio de Janeiro cerca de 150 participantes, entre orquestradores de sistemas, mentores e lideranças visionárias de várias parte do mundo.
O diplomata apresentou a ideia de um mutirão proposto para acelerar ações na esteira da realização da 30ª edição da conferência do clima no coração da Amazônia brasileira.
“A ideia do mutirão, que está pegando e sendo bem recebida internacionalmente, é trazer de volta uma confiança de que a gente pode fazer diferença”, explicou Corrêa do Lago. “Cada um de nós, individualmente, empresas, instituições, pequenos e grandes países podemos contribuir para esse esforço.”
Na visão do presidente da COP30, a ser realizada em Belém em novembro, é momento de combater o ceticismo no discurso de quem prega “que não adianta mais nada, já se avançou demais, passou a meta de redução de um grau e meio, agora só precisa adaptação”.
O embaixador ressaltou que o negacionismo climático diminuiu diante dos eventos extremos mais frequentes em todo o mundo, mas o mundo não pode, agora, ceder lugar ao pessimismo.
“A nova visão negativa da mudança do clima está muito voltada à crença de que não adianta fazer esse esforço porque continuam usando fósseis e fazendo investimentos que não levam em conta a crise.”
O presidente da COP argumentou que, embora o uso de combustíveis fósseis tenha aumentado 60% desde a década de 1990, quando se inicia essa agenda climática, o mundo cresceu ainda mais, assim como os esforços por eficiência energética e energia limpa.
Para Corrêa do Lago, se a diplomacia não conseguiu a eliminação de 95% dos gases do efeito estufa, sucesso de negociação empreendida pelas Nações Unidas diante da ameaça à camada de ozônio, as sucessivas COPs do clima registram ganhos importantes ao dirigir países para o combate à mudança climática.
“Os anos já provaram que os países que fizeram isso não são os perdedores, mas ganhadores. Aqueles que investiram nessas áreas criaram emprego, melhoraram a economia, e isso é uma coisa que temos que divulgar muito melhor.”
O mutirão proposto pela presidência da COP servirá de vitrine para uma cesta de soluções nascidas ao redor do mundo, explicou Corrêa Lago para uma plateia que está discutindo justamente mudanças exponenciais para enfrentar problemas complexos como a emergência climática.
The ExChange é uma conferência internacional organizada pelo Centro para Mudanças Exponenciais (CE4C), fundado na Índia, com o suporte do Instituto Beja, que propõe conversas imersivas para o compartilhamento de aprendizados e busca de conexões e caminhos para a mudança exponencial, com foco em uma ação climática transformadora.
Indagado sobre as possibilidades reais de avanço nas metas de redução de emissões e de substituição dos combustíveis fósseis nesta COP, o embaixador ressaltou o papel do Brasil como país sede e dono da maior floresta tropical do mundo, além de citar exemplos de avanços.
“Nesse esforço, tanto de mitigação quanto de adaptação climática, tem muitas boas notícias. Menos boas do que a gente gostaria, mas já temos várias alternativas e vários caminhos”, disse o embaixador.
Corrêa do Lago exemplificou com dados sobre a China. “Vocês já ouviram que a China continua construindo usinas a carvão, aumentando suas emissões”, afirmou. “No entanto há uma realidade que também está acontecendo na China, o maior investidor em energias renováveis e país que tornou o carro elétrico barato.”
Segundo o diplomata, a África está podendo usar energia solar agora, porque a China diminuiu 90% do custo dos painéis solares.
O embaixador relatou que esteve recentemente na Arábia Saudita, entre os grandes produtores mundiais de petróleo. “Os sauditas pretendem ter 50% da sua eletricidade solar e eólica até 2030. Todos os países estão se mexendo em grande parte por causa dessas negociações do clima.”
O Exchange Summit promove entre 2 e 4 de junho uma série de debates em torno do tema, com objetivo de ganhar de escala para soluções inovadoras para a construção de um futuro mais sustentável e equitativo.
“Cada um nesta sala é um orquestrador de sistema e está aqui para se conectar com outros”, explicou Sanjay Purohit, curador-chefe do Centro para Mudança Exponencial, na sessão de abertura do evento.
O indiano falou sobre o conceito de mudanças exponenciais, valores e modelos que norteiam a busca coletiva por um impacto positivo no planeta.
“Todo nós aqui reunidos podemos exercer na prática a responsabilidade de ser porta-vozes das grandes mudanças que precisamos fazer acontecer no Sul Global”, completou Cris Sultani, fundadora do CME, o Centro para Mudanças Exponenciais no Brasil, e do Instituto Beja.
A editora Eliane Trindade viajou ao Rio para participar do ExChange Summit a convite da organização do evento.
Fonte ==> Folha SP