Gerdau cumpre promessa e vai cortar investimentos no Brasil

Gerdau cumpre promessa e vai cortar investimentos no Brasil

A Gerdau, maior companhia produtora de aço no Brasil, vai cumprir a promessa que vinha fazendo nos últimos meses e decidiu cortar o volume de investimentos que seriam usados para aumentar a capacidade produtiva no País.

Desde fevereiro, a companhia vinha alertando que poderia reavaliar os aportes no Brasil por causa do aumento expressivo da presença do aço chinês no mercado brasileiro. Com a confirmação de que o volume do produto importado pelo país asiático alcançou a marca de 23,4% no primeiro semestre, a paciência da companhia com o governo federal chegou ao fim.

O tamanho do corte será definido entre agosto e setembro, e revelado pela empresa em outubro. Em 2024, a empresa realiza um ciclo de investimentos de R$ 6 bilhões e, deste total, dois terços do capex são direcionados para o Brasil.

Mas já há um efeito prático reflexo dessa decisão: 1,5 mil trabalhadores foram desligados pela Gerdau no primeiro semestre deste ano. E mais cortes de postos de trabalho devem ocorrer no segundo semestre.

O anúncio foi feito na manhã desta sexta-feira, 1º de agosto, pelo CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, durante apresentação de resultados do segundo trimestre.

“Nossa situação é muito grave. O governo federal não entendeu com profundidade o que está acontecendo. Não conseguimos compreender como eles aceitam esse patamar de penetração nunca visto de aço importado”, diz Werneck, em resposta à pergunta feita pelo NeoFeed.

Segundo o executivo, com esse volume de aço estrangeiro, especialmente vindo da China, o Brasil deixará de arrecadar R$ 7 bilhões em impostos da indústria nacional do aço, justamente pelo maior acesso do produto vindo do exterior.

“A gente não deseja que esse aço seja bloqueado. Sempre entrou aço importado no Brasil. Mas precisa haver um equilíbrio, permitindo que a produção nacional possa competir de forma isonômica”, afirma.

No fim de maio, completou um ano da adoção de cota-tarifa e, segundo Werneck, não houve nenhum avanço para discutir sobre medidas mais rígidas. A expectativa era que surgissem alternativas na reunião do comitê-executivo de gestão (Gecex) da Câmara do Comércio Exterior (Camex), órgão do governo, realizada no dia 24 de julho, mas não houve mudanças.

“O setor agora vive com a dura realidade de ter que lidar com isso e promover novas adequações em capacidade produtiva e investimentos futuros”, diz Werneck. “Se a importação crescer ainda mais, vamos fazer mais ajustes.”

Na esteira dos cortes da Gerdau, também está nos planos a interrupção das linhas de produção de suas fábricas, como a usina de Mogi das Cruzes, que produz aços especiais.

“Chega um momento que há tão pouco volume que não faz sentido continuar produzindo. É preferível paralisar a usina e transferir essa produção para outras unidades e diluir esse custo.” A maior parte das demissões realizadas pela companhia ocorreu em Pindamonhangaba (SP).

A garantia da Gerdau, no entanto, é que, se houver uma sinalização prática e definitiva sobre um freio adotado pela União para essa entrada do aço importado, o cenário muda. “No momento em que o governo federal aplicar medidas de defesa comercial, imediatamente a gente pode voltar com essas usinas e seguir produzindo.”

Werneck também explica que a decisão já tomada de reduzir os investimentos futuros no Brasil não afetam os aportes já anunciados pela empresa. O CEO afirma que a decisão não afeta recursos alocados em outros países pela empresa.

Segundo dados do Instituto Aço Brasil, a penetração do aço importado no mercado brasileiro em 2020 correspondia a 9,3% do volume presente no País e, desde então, vem crescendo de forma rápida. Em 2022, chegou a 13,6%, passando para 18,5% em 2023, número mantido em 2024. Agora, em seis meses, foram mais 4,9 pontos percentuais.

Impacto do tarifaço

Com produção local no Estados Unidos, a Gerdau foi beneficiada no segundo trimestre com o aumento no volume no país, o que garantiu o crescimento da receita da companhia no período, mesmo com o baixo desempenho no Brasil. Do Ebitda de R$ 2,56 bilhões alcançado pela companhia no período, 61% vieram dos Estados Unidos.

Segundo o executivo, a empresa não se envolveu com as discussões realizadas pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Comércio, Indústria e Serviços (MDIC) Geraldo Alckmin, que vem reunindo setores para entender o impacto do tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros.

“Não nos engajamos em nenhum desse debate. A gente entende que essa é uma atribuição do governo federal. A gente não viajou para Washington para falar com alguém do governo dos Estados Unidos. Esse não é o nosso papel”, afirma.

Mas, o CEO admitiu que, de forma lateral, a decisão da Casa Branca deve resvalar na Gerdau. “A nossa preocupação é porque muitos de nossos clientes no Brasil compra nosso aço, transformam em máquinas e equipamentos, e exportam para os Estados Unidos. Esse efeito a gente ainda não consegue medir”, diz.

No tarifaço, o setor de máquinas não foi incluído entre os quase 700 itens isentos da cobrança da alíquota de 50% a partir da semana que vem.

Entre abril e junho deste ano, a Gerdau reportou receita líquida de R$ 17,5 bilhões, alta de 5,5% sobre o mesmo período do ano anterior e 0,9% sobre o primeiro trimestre. O lucro líquido ajustado foi de R$ 864 milhões, 8,6% a menos do que o segundo trimestre de 2024.

No Brasil, a receita líquida cresceu 1,7% (R$ 7,3 bilhões) no segundo trimestre sobre a mesma base de 2024, enquanto nos Estados Unidos a alta registrada no período foi de 12,8% (R$ 9,1 bilhões).

No acumulado de 2025, as ações da companhia na B3 registram desvalorização de 8,2%. A Gerdau está avaliada em 31,9 bilhões.



Fonte ==> NEOFEED

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