A recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 15% ao ano sustentou a pressão no custo de capital das principais redes varejistas. No caso do GPA, o resultado prático é que a companhia decidiu frear o volume de aberturas de lojas a partir deste segundo semestre.
No segundo trimestre de 2025, foram nove unidades abertas (oito das chamadas lojas de proximidade e um supermercado), além de mais 11 nos primeiros três meses do ano. E, salvo qualquer mudança prevista, para 2025 a tendência é não ter mais nenhuma nova loja.
“Com as dívidas atreladas ao CDI, a Selic a 15% trouxe um enorme desafio para as empresas. É muito preocupante o nível de juros que o Brasil tem hoje”, diz Marcelo Pimentel, CEO do GPA, ao NeoFeed.
“De fato, precisa dar um sinal de arrefecimento, mas ela ainda é bastante alta. No momento atual, é prudente e responsável que a gente faça essa pausa até que tenhamos mais clareza do custo de capital. E só depois disso podemos pensar em investimentos”, complementa.
A decisão dificulta a meta do GPA, estabelecida em 2022, de alcançar, até o fim de 2026, mais 300 novas lojas. Até aqui, são 213 unidades inauguradas. Isso significa que, para cumprir a meta e levando em consideração o cenário de abertura zero no segundo semestre, seria necessário que a empresa inaugurasse um mercado a cada quatro dias em 2026.
Levando em conta o volume atual da dívida da companhia, de R$ 4 bilhões (em 2022 era de R$ 6,5 bilhões), o patamar da taxa de juros representa para a companhia um custo extra adicional de pelo menos R$ 600 milhões, somente com pagamento de juros.
“Em abril de 2024, economistas esperavam uma taxa de 10% no máximo naquele ano. Terminamos com 11,75% e já estamos em 15%. É possível imaginar que, para uma varejista, que tem margens baixas e ganha no giro, um aumento de 50% no custo do dinheiro representa um enorme impacto”, diz o CFO Rafael Russowsky.
“A gente acredita que essa taxa deve cair, mas, na realidade, não sabemos exatamente o que vai acontecer. É necessário ter cautela porque qualquer mudança que haja nesse cenário, como aconteceu em 2024, o GPA consiga seguir entregando resultado, ainda de que forma mais modulada”, complementa.
Sem esses novos ativos no horizonte, a aposta para o segundo semestre está no e-commerce da companhia, que registrou crescimento de 16,4% no segundo trimestre, com receita de R$ 609,5 milhões no período, o equivalente a 13% do volume total de vendas da companhia. O canal hoje entrega margem Ebitda de 9,9% à companhia.
O resultado das vendas pela internet representou um avanço de 1,1 ponto percentual na participação do faturamento do GPA, em comparação com o mesmo período de 2024. Ainda que tenha crescido em todas as bandeiras do grupo, as vendas online das lojas de proximidade representaram um avanço em 1,5 ponto percentual, o que fornece um corredor de crescimento para a empresa.
“A gente acredita que esse crescimento de vendas pode ser compensado pela penetração do e-commerce. Em 2022, o canal não era rentável e o resultado representava só 8%. Fechamos o negócio de last mile e marketplace, porque nosso negócio é vender comida”, afirma Pimentel.
Hub da venda digital
A partir de 2023, a empresa fechou o centro de distribuição do e-commerce e transferiu para as próprias lojas, que hoje funcionam como um modelo de hub logístico. O resultado foi sair de um patamar de 45% de entregas no mesmo dia para atuais 75%. Com isso, o custo logístico também caiu.
Com um canal rentável, o grupo acelerou, então, o volume de investimentos no e-commerce. No segundo trimestre, a empresa implementou um projeto-piloto em cerca de 50 lojas de proximidade para entregas de produtos no formato conveniência, sem ser do dia a dia, mas com entrega mais rápida, podendo chegar a até 30 minutos. Bebidas geladas, por exemplo, estão entre as principais compras nessas lojas virtuais.
A ideia é que, até o fim do ano, o formato esteja presente em praticamente todas as 370 lojas nesse modelo. “A vantagem do digital é que não precisa fazer nenhuma grande mudança na loja. Nessa estratégia, diferente do cliente do supermercado, passamos a contar com parceiros para essa entrega, o que otimiza esses custos”, explica Pimentel.
Um ponto-chave desse foco, na avaliação do executivo, é a fidelidade deste tipo de cliente que realiza compras no modelo multicanal, com uma frequência três vezes maior, com um tíquete médio quatro vezes maior do que o que frequenta um único canal, especialmente o físico.
No resultado do segundo trimestre, o GPA reportou receita líquida de R$ 4,67 bilhões, alta de 4,2% sobre o mesmo período de 2024. O crescimento de vendas nas mesmas lojas foi de 5,1%, com ganho de participação no segmento premium. Na bandeira Pão de Açúcar, a alta nas vendas das mesmas lojas foi de 6,5%.
Entre abril e junho, a companhia conseguiu reduzir o prejuízo em 34,9%, passando de R$ 332 milhões, no segundo trimestre de 2024, para os atuais R$ 216 milhões. No semestre, a redução foi de 61,2%.
No acumulado de 2025, as ações do GPA registram valorização de 28,5% na B3. A companhia está avaliada em R$ 1,66 bilhão.
Fonte ==> NEOFEED