Depois de jogar pela janela sua escolha inicial para administrador da Nasa, o presidente Donald Trump colocou Sean Duffy, secretário dos transportes, como chefe interino na agência, com a missão de acelerar a implementação das novas políticas da Casa Branca, com um foco obsessivo (e pouco realista) de bater a China na corrida espacial.
Em nova diretiva distribuída internamente à Nasa nesta semana, Duffy instruiu a agência a acelerar planos para colocar um reator nuclear na Lua. O plano original era montar uma pequena usina de energia de 40 kilowatts na década de 2030. De acordo com o novo plano, agora será um equipamento mais potente, com 100 kilowatts, e lançamento previsto para 2030.
É equipamento essencial para estabelecer longas estadias tripuladas no solo lunar, uma vez que o ciclo dia-noite lá (que se estende por 28 dias terrestres) e a ausência de atmosfera produzem grande amplitude térmica e períodos longos sem luz solar.
Em paralelo, a Nasa trabalha para encerrar operações e, até 2030, deorbitar a Estação Espacial Internacional, substituindo-a por instalações comerciais desenvolvidas pela iniciativa privada. Um plano já existe para isso, mas Duff acaba de reformulá-lo, reduzindo a capacidade prevista para essas futuras estações comerciais, que agora, para preencher os requisitos da agência, precisam manter apenas quatro tripulantes por períodos de um mês em órbita. É o esforço possível, quase desesperado, para evitar que não haja um hiato americano sem ocupação da órbita terrestre baixa depois de 2030. Durante essa transição, a estação chinesa Tiangong, operando desde 2021, seguirá em pleno funcionamento.
Por fim, tivemos nesta semana o anúncio de que a empresa SpaceX criou um programa comercial de transporte de cargas para Marte com seu veículo Starship, que já teve a adesão da Agência Espacial Italiana para o envio de experimentos ao planeta vermelho.
No papel, são ideias incríveis, que manteriam os EUA na liderança da exploração espacial. A realidade, contudo, bate à porta. Ao mesmo tempo em que apresenta essas novas diretivas, a gestão Trump está promovendo um corte pesado de orçamento (ainda em revisão pelo Congresso) e de pessoal (cerca de 20%) na Nasa, o que torna as novas metas ainda mais fantasiosas que as originais. Dificilmente haverá dinheiro, para não falar em força de trabalho, para acelerar esses programas.
Ao mesmo tempo, o hype da SpaceX com o Starship contrasta com as dificuldades enfrentadas no programa de testes, atrasado e ainda se recuperando de três falhas consecutivas. Entre isso e a possibilidade de levar astronautas à Lua ou cargas a Marte, há um Sistema Solar de distância.
Tudo faz contraste com os chineses, que já têm uma estação orbital e devem continuar a tê-la nos anos 2030, além de estarem na trilha para uma alunissagem tripulada até o final da década e para ter amostras trazidas da superfície de Marte no começo da próxima. É bem possível que a missão Artemis 2, que deve voar em abril do ano que vem e levar astronautas às imediações da Lua pela primeira vez desde 1972, seja o canto do cisne da liderança americana na exploração espacial.
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Fonte ==> Folha SP