A energia solar consolidou-se como um dos motores mais dinâmicos da transição energética global. Em 2024, o mundo ultrapassou a marca de 1.200 gigawatts (GW) de capacidade instalada, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), representando um salto de mais de 30% em relação ao ano anterior.
O investimento global no setor atingiu US$ 310 bilhões, superando pela primeira vez os aportes feitos em petróleo e gás para novas infraestruturas de geração elétrica.
No Brasil, o crescimento é ainda mais expressivo. Dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) mostram que o país encerrou 2024 com 37 GW de potência instalada, dos quais 31 GW vêm da geração distribuída — sistemas instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos de residências, comércios, indústrias e propriedades rurais. Essa modalidade, que representa mais de 80% da matriz solar nacional, já beneficia mais de 2 milhões de unidades consumidoras.
O impacto econômico é igualmente significativo. Desde 2012, quando o setor começou a ser regulamentado no Brasil, já foram atraídos R$ 170 bilhões em investimentos privados e gerados mais de 1 milhão de empregos acumulados, segundo a ABSOLAR. Só em 2024, a energia solar respondeu por 13% de toda a capacidade elétrica instalada no país, e a expectativa é que essa participação dobre até 2030.
Para o engenheiro civil e especialista em energia solar Lucas Cabral Gouvea, fundador da Greenvolt Tecnologia Fotovoltaica, trata-se de um movimento irreversível. “O setor fotovoltaico no Brasil reúne uma condição rara: demanda crescente, incentivo regulatório e amadurecimento tecnológico acontecendo ao mesmo tempo. Essa combinação cria um ambiente seguro para investidores e acelera a popularização da energia limpa”, analisa.
Esse avanço é sustentado por três pilares principais:
1. Redução de custos – O preço médio dos módulos fotovoltaicos caiu mais de 80% nos últimos dez anos, acompanhando a evolução tecnológica e a escala global de produção.
2. Tarifas de energia em alta – O custo da eletricidade convencional no Brasil aumentou cerca de 70% no mesmo período, incentivando consumidores a buscar alternativas de autogeração.
3. Regulação estável – O Marco Legal da Geração Distribuída (Lei nº 14.300/2022) garantiu regras claras e previsibilidade para quem investe no setor.

Os benefícios não se limitam ao bolso do consumidor. A matriz solar ajuda a reduzir a sobrecarga do sistema elétrico nacional, diminui perdas na transmissão de energia e reduz as emissões de gases de efeito estufa. Segundo o Ministério de Minas e Energia, só em 2024 a geração solar evitou a emissão de 34 milhões de toneladas de CO₂, equivalente ao plantio de mais de 240 milhões de árvores.
Apesar do otimismo, o setor enfrenta desafios importantes: dependência da importação de equipamentos — principalmente da China, que concentra mais de 80% da produção mundial de módulos fotovoltaicos —, necessidade de ampliar linhas de crédito específicas e falta de mão de obra qualificada em determinadas regiões. Ainda assim, estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicam que o Brasil aproveita hoje menos de 0,05% de seu potencial técnico, estimado em 28 mil GW.
“Estamos diante de um mercado que vai muito além da instalação de painéis. Há oportunidades na cadeia de fornecimento, na manufatura nacional, no desenvolvimento de softwares de gestão e no armazenamento de energia. Quem entrar agora com estratégia sólida estará posicionado para liderar na próxima década”, conclui Gouvea.