Quão diferentes são a esquerda de Lula e a direita de Trump? – 21/10/2025 – Bernardo Guimarães

A imagem mostra uma placa de um posto de combustível da marca BR, parcialmente submersa em água. A placa é verde com letras brancas e uma parte superior amarela que parece estar escorrendo, como se fosse óleo. Ao fundo, há árvores ao redor e uma área alagada, indicando uma inundação.

É razoável supor que, se o presidente fosse Bolsonaro, o processo teria sido parecido.

Na taxonomia da política, Lula e o PT são tipicamente vistos como o oposto da direita de Bolsonaro e Trump. Faz sentido essa classificação? No campo da economia, estão em oposição as ideias da esquerda de Lula e da direita de Trump?

Começo pelo óbvio. A defesa de Trump da indústria nacional americana se parece muito com as políticas de Dilma Rousseff. As tarifas de Trump de 2025 são o exemplo mais claro do protecionismo de seu governo, mas não é de modo algum um exemplo isolado. Por exemplo, a ordem executiva de Trump de 2019 que fortaleceu o “Buy American Act” tem muitos paralelos com a “Lei do Conteúdo Nacional” que entrou efetivamente em vigor em 2011.

Uma alternativa a isso seria uma agenda para estimular a competição, a produtividade e a integração com mercados internacionais. Isso inclui medidas usualmente associadas à direita (livre comércio, reformas microeconômicas) e medidas mais associadas à esquerda (ações contra formação de monopólios, ampliação da cooperação nos fóruns mundiais). Isso poderia ser chamado de “centro” em oposição a essa direita e a essa esquerda que se parecem.

O equilíbrio fiscal não é uma prioridade de Lula —nem da oposição no Congresso. O colunista Marcos Mendes traz toda semana uma ilustração desse ponto. O governo Trump também não está preocupado com o equilíbrio fiscal. Projeções do Congressional Budget Office indicam que o déficit federal pode chegar a 6% do PIB americano.

Há diferenças: Trump é obcecado pela ideia de cortar impostos das empresas, enquanto o governo de esquerda aqui defende regimes tributários especiais, mas também toma medidas que visam reduzir a desigualdade de renda.

Como cortar impostos sem cortar tanto os gastos? A resposta de Trump é que os impostos menores estimularão o crescimento e aí tudo se resolverá. A esquerda daqui gosta desse argumento.

A alternativa a isso requereria desagradar alguém. Para um gasto aumentar, um imposto teria que subir. A redução de um tributo teria que ser compensada pelo aumento de outro ou por uma redução no dispêndio.

Há vários outros exemplos de semelhanças. A esquerda de Lula não gosta da ideia de um Banco Central independente. Trump gosta menos ainda —ou, pelo menos, faz mais esforço para interferir no Banco Central.

Há, também, vários outros exemplos que vão na direção contrária do que eu estou dizendo. O papel do BNDES foi se reduzindo no governo Bolsonaro e voltou a aumentar no governo Lula. Ações contra o desmatamento aumentaram no primeiro governo Lula, quando a ministra Marina Silva tinha algum poder.

Mesmo assim, não dá para resumir as plataformas políticas em um ponto que vai da esquerda para a direita. A realidade não cabe nessa régua.


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Fonte ==> Folha SP

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