Por a partir de R$ 120 é possível adaptar um drone para lançar bombas, como usado por criminosos nesta terça-feira (28) durante ação policial que deixou mais de 60 mortos na zona norte do Rio de Janeiro.
Segundo o governo do estado, criminosos usaram drones para lançar bombas contra as equipes policiais e a população, no Complexo da Penha, para atrasar o avanço das forças de segurança.
É possível encontrar um lançador à venda na internet por esse valor. Esse dispositivo é similar a uma garra e pode ser acoplado ao corpo do drone. Ele se abre após acionamento no controle remoto e é usado para fazer entregas ou despejar flores, por exemplo.
Em pesquisa feita pela reportagem, o valor de um conjunto de lançador não passa de R$ 250.
Especialista em aeronaves remotamente pilotadas e em direito aeronáutico, Raphael Pustilnick Ribeiro, sócio da RPR Drones, afirma que criminosos no Rio usam equipamentos comuns, mas que tenham capacidade para decolar com ao menos 1 kg de carga.
“Adaptado para o lançamento, um drone desses pode levar até três granadas tranquilamente”, afirma Ribeiro, que ministra cursos sobre o assunto para agentes de segurança do Rio.
Além disso, afirma, a polícia já apreendeu drones cujos lançadores foram feitos com impressora 3D.
No caso das bombas arremessadas contra a polícia nesta terça, os artefatos, como granadas, são presos em ganchos que soltam a carga quando ativados via controle remoto.
Há ainda adaptações rudimentares, em que o objeto a ser arremessado é preso na garra com um barbante comum.
“Prende-se uma granada com um barbante e um elástico travando o gatilho. Após a queda e com o próprio impacto no chão, o elástico sai e a granada explode”, explica Ribeiro.
Outros métodos envolvem ainda sensores de luz e a própria força gravitacional, de acordo com o especialista. Já modelos mais sofisticados das “garras” têm “tambores”, como de revólveres, que podem dispensar um artefato de cada vez.
Já os drones podem ser comprados por R$ 7.000 no mercado de usados. Criminosos, afirma Ribeiro, por conseguem desbloquear o limite de 500 metros de altura por meio de programadores, e os aparelhos chegam a subir três vezes mais e a voar distâncias que chegam a 20 km do local do operador.
Já foram encontradas aeronaves mais sofisticadas, com preços que chegam a R$ 50 mil, equipadas com câmeras com zoom óptico e visualização noturna.
“O esforço da polícia é bloquear esses ataques”, afirma Ribeiro, que tem equipamentos com lançadores usados nos cursos que ministra para polícia ou em ações voluntárias, como nas enchentes do ano passado no Rio Grande do Sul para levar ração a animais ilhados e insumos a equipe de resgate em solo.
Para Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o uso desse tipo de armamento coloca um grau de dificuldade maior para as forças de segurança.
Segundo ele, a visibilidade que a utilização dos drones proporcionou nesta terça pode fazer com que outros criminosos queiram “fazer igual”.
“É preocupante. Por isso, precisamos enfrentar o crime organizado o mais rápido possível, porque essa situação está saindo do controle”, afirma.
Fonte ==> Folha SP