Roubo no Museu do Louvre reacende debate sobre o passado colonial e os “tesouros” pilhados por potências europeias

Por Ycarim Melgaço, professor e doutor em Geografia pela USP

 

O roubo ocorrido em 19 de outubro de 2025 no Museu do Louvre, em Paris, voltou a colocar em pauta não apenas a segurança de um dos espaços culturais mais visitados do planeta, mas também as polêmicas em torno da origem de boa parte de seu acervo. A discussão vai além do crime pontual: ela toca em uma ferida antiga da história ocidental — a pilhagem cultural praticada por impérios ao longo dos séculos.

É curioso observar que o Louvre, símbolo máximo da cultura e do patrimônio mundial, também é resultado de um outro tipo de roubo — o da memória de povos colonizados. Boa parte de suas peças mais emblemáticas foram retiradas de países africanos, asiáticos e do Oriente Médio durante campanhas militares ou períodos de dominação política.

Um exemplo emblemático é o espólio egípcio: muitas das obras hoje expostas em Paris foram levadas por Napoleão Bonaparte durante a invasão ao Egito no século XIX. “Napoleão não levou apenas soldados — levou também estudiosos, arqueólogos e artistas, que catalogaram e exportaram tesouros que nunca mais voltaram aos seus países de origem”, explica.

A recente tentativa de furto serve como um “alerta simbólico”: “O museu que se tornou guardião das riquezas do mundo também precisa refletir sobre o peso de ter sido, em parte, o protagonista das pilhagens de outros tempos.”

Lembro que, nas últimas décadas, vários países vêm pedindo formalmente a repatriação de peças históricas — como a Grécia com os mármores do Partenon, e o Egito com artefatos de faraós. O que estamos vendo é uma mudança de narrativa: a cultura deixa de ser troféu e volta a ser identidade.

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