Coletânea mostra atualidade de pensadores existencialistas – 30/10/2025 – Juliana de Albuquerque

Coletânea mostra atualidade de pensadores existencialistas - 30/10/2025 - Juliana de Albuquerque

Recebi na última sexta-feira uma cópia de “The Penguin Book of Existentialist Philosophy“, editado por Jonathan Webber, especialista na obra de Jean-Paul Sartre e professor no Departamento de Filosofia da Universidade de Cardiff, no País de Gales.

Com o lançamento previsto para novembro, “The Penguin Book of Existentialist Philosophy” é uma coletânea de textos que compreende desde autores que influenciaram o pensamento existencialista, como Søren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e Sigmund Freud, bem como ensaios e trechos das principais obras de Sartre, Simone de Beauvoir e Frantz Fanon.

Dividido em cinco partes —”Inspirações”, “O ser e o nada”, “A ofensiva existencialista”, “O segundo sexo” e “Colonialismo e racialização”—, o livro ainda conta com um ensaio introdutório e textos de apresentação escritos por Webber, nos quais o professor reflete sobre o que caracteriza o existencialismo enquanto movimento filosófico, além de contextualizar e justificar as suas escolhas editoriais.

Em sua introdução, Webber comenta que o rótulo de existencialista foi inicialmente usado de modo genérico para descrever a geração de artistas, músicos e escritores do final da Segunda Guerra Mundial, cujas obras abordavam questões relacionadas ao indivíduo e à realidade social. Um exemplo disso é a canção “Le Poinçonneur des Lilas”, de Serge Gainsbourg, que trata da alienante rotina de trabalho de um fiscal do metrô parisiense.

A expressão, no entanto, foi adotada por Sartre e Beauvoir na tentativa de promover as suas teorias filosóficas sobre a existência humana. Essas teorias se baseiam na premissa de que “o comportamento de cada pessoa é, em última instância, guiado por atitudes avaliativas — ou ‘projetos’ — que ela própria escolheu e pode modificar”.

Uma breve introdução à filosofia existencialista, aqui entendida de forma precisa e não apenas como um rótulo genérico, é o ensaio “O existencialismo e a sabedoria das nações” (1945), de Simone de Beauvoir, incluído na coletânea organizada por Webber.

É justamente por entender o existencialismo enquanto um movimento estruturado a partir de determinadas premissas teóricas inicialmente elaboradas por Sartre e Simone de Beauvoir que Webber não inclui no livro uma seção com textos de Albert Camus:

“O posfácio da antologia explica por que Albert Camus, frequentemente classificado como existencialista, não foi incluído no restante do livro […]. [Camus e Sartre] dialogam com alguns dos mesmos autores e abordam questões semelhantes. Eles divergem, contudo, quanto à natureza fundamental da existência humana e quanto à origem dos valores morais […]. O existencialismo é definido pelo que Sartre e Beauvoir compartilhavam na década de 1940. Dentro dessa definição, são as obras de Sartre, Beauvoir e Fanon incluídas nesta antologia, com todas as suas divergências e desacordos, que estabeleceram a arena inicial para o debate e a reflexão existencialista.”

Os textos selecionados por Webber mostram que, mesmo com suas limitações, as principais ideias de Sartre, Beauvoir e Fanon permanecem relevantes e podem, inclusive, contribuir para discussões mais recentes sobre a relação conflitosa que muitos dos nossos contemporâneos mantêm com a verdade.

Em “Reflexões sobre a questão judaica” (1946), cuja primeira parte integra a coletânea, Sartre observa, ao retratar o antissemita, que a distorção de fatos com a intenção de confirmar uma visão de mundo pode ser interpretada como uma expressão do medo diante da complexidade da vida e das incertezas que caracterizam a condição humana:

“O homem racional busca angustiosamente a verdade, ele sabe que seus raciocínios são apenas prováveis, que outras considerações acabarão por colocá-los em dúvida […]. Mas existem pessoas que são atraídas pela constância das pedras […]. Como têm medo de pensar, preferem adotar um modo de vida em que a reflexão e a pesquisa exercem um papel subordinado, em que procuram apenas o que já encontraram e se tornam tão somente aquilo que já são.”

Nesses casos, Sartre observa que a paixão se sobrepõe à razão, oferecendo a essas pessoas uma sensação de absoluta certeza, capaz de resistir à toda e qualquer experiência e permanecer inabalável ao longo de uma vida.

Além do trecho de Sartre, outros textos reunidos no volume, como os trechos de “Pele Negra, Máscaras Brancas” (1952), de Frantz Fanon, também dialogam com questões contemporâneas e fazem da coletânea organizada por Jonathan Webber uma excelente introdução ao pensamento existencialista. Deixo aqui, portanto, minha recomendação de leitura a estudantes, pesquisadores e também ao público leitor curioso, disposto a conhecer um pouco melhor essa tradição filosófica.



Fonte ==> Folha SP

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