A casa dos Ohtake e a casa dos Chu: dois cartões de visita da arquitetura brasileira

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A casa de Chu Ming Silveira, no Morumbi.

Não é todo dia que uma exposição brasileira é destaque no Financial Times, Wallpaper, Vogue, Architectural Digest e outras publicações internacionais – ao mesmo tempo. 

Desde agosto, a mostra ABERTO 03, agora em sua terceira edição, tem sido um sucesso de público e crítica nas duas casas onde acontece em São Paulo: no Morumbi e no Campo Belo.

Com mais de 20 mil visitantes desde que abriu, o projeto idealizado por Filipe Assis e com direção artística de Claudia Moreira Salles e de Kiki Mazzucchelli, tem a arquitetura como protagonista, mas também é uma exposição de arte e design.

Este ano, a mostra se divide entre duas casas de influentes artistas de origem asiática: Chu Ming Silveira, no Morumbi; e Tomie Ohtake (imagem de destaque), no Campo Belo.

“Essas casas oferecem uma intimidade inesperada, inspirada em designs orientais com tetos baixos que aumentam o envolvimento com a arte, promovendo a contemplação e a interação,” Claudia Moreira Salles disse ao Financial Times.

“Nossa curadoria usa cuidadosamente elementos arquitetônicos – aberturas, ângulos e luz natural – para colocar obras de arte, transformando cada casa em uma tela que combina forma e função para uma experiência imersiva além dos padrões típicos de exposição.” 

A casa/ateliê de Tomie, nascida em Kyoto, foi projetada por seu filho, o arquiteto Ruy Ohtake, servindo de moradia da família e ateliê da artista por quase 50 anos. Hoje a casa é o escritório de seu neto.

O concreto vai do chão ao teto, e é intercalado por paredes coloridas estilo Mondrian.

A casa de Chu, uma arquiteta e designer visionária nascida em Xangai, foi desenhada por ela para viver com sua família. A casa é térrea, toda de concreto aparente, com pisos de madeira e pouquíssima alvenaria. A família ainda mora lá, e desocupou a casa temporariamente para a exposição.

Chu foi uma arquiteta brilhante, mas ficou mais conhecida pelo design do famoso “orelhão” – os telefones públicos que eram comuns no Brasil até a década de 90. 

O protótipo do orelhão ainda está na casa, onde era usado pela família como interfone – e foi exibido na Bienal de Arquitetura de Veneza nos anos 70. 

As escolhas estéticas de Chu e Tomie inspiraram um mobiliário criado por seus descendentes.

Em parceria com a Etel – a icônica loja de móveis modernos – o filho mais novo de Chu, Alan, criou um mobiliário baseado no trabalho original de sua mãe, enquanto Rodrigo Ohtake, o neto de Tomie, lançou peças de design, incluindo a reedição de duas peças de Ruy Ohtake. 

Em ABERTO 03, as obras foram divididas entre as casas por núcleos: o contemporâneo fica na casa de Tomie; o moderno, na Casa de Chu.

Com artistas jovens e promissoras – como Ana Prata e Sophia Loeb – e consagradas como Carmen Herrera e Lygia Clark, dentre outros, a curadoria é excepcional. Maria Klabin, Luiz Roque e Marcius Galan fizeram obras especificamente para a casa de Tomie.

“O interesse da imprensa internacional se deu principalmente pelo ineditismo de casas tão emblemáticas e até então nunca vistas pelo público, e pelas obras comissionadas em diálogo com a arquitetura,” Filipe Assis disse ao Brazil Journal. “A visitação nesta edição foi acima das nossas expectativas.”

De fato, o visitante sai impactado pela oportunidade única de estar na residência das artistas, rodeado por tanta beleza e elegância. Não é comum uma combinação tão bem sucedida entre arte, arquitetura e design.

“Existem iniciativas semelhantes no mundo, mas elas normalmente duram uma ou duas edições. Estamos já planejando o quarto ano, apresentando um trabalho criterioso, com muita qualidade, buscando surpreender o público a cada edição,” disse Filipe. 

Para 2025, a ideia é aproveitar a segunda edição do Ano do Brasil na França – e os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países – para realizar a primeira ABERTO internacional.  

O Aberto 04 será em Paris, na Maison La Roche, um imóvel ícone modernista de Le Corbusier que é também Patrimônio Mundial da UNESCO. A casa foi desenhada para Raoul La Roche, um banqueiro e colecionador de arte moderna que encomendou uma casa dividida em duas partes: a galeria, para expor sua coleção de pinturas, e a área de convívio privado.

Filipe quer trabalhar a influência de Le Corbusier na arquitetura modernista brasileira e aproveitar a oportunidade de expor obras brasileiras em Paris.

A oportunidade de visitar a mostra vai até 5 de outubro.

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