Contrariando as expectativas de que o celular aposentaria os relógios convencionais, a relojoaria brasileira Technos fecha 2025 com recorde de vendas e de lucro operacional, além da liderança no mercado tradicional e de smartwatches. A empresa abriu capital em 2011 e, desde a pandemia, figura entre as companhias da bolsa de valores que mais remuneraram os acionistas.
Entre 30 de setembro de 2020 e 9 de dezembro de 2025, o retorno aos investidores foi de 765%, incluindo dividendos. É a quarta posição no ranking encabeçado pela Embraer, com 1.323,3%, conforme dados da empresa relojoeira.
“Este ano crescemos quase 30%, um número expressivo para uma categoria de consumo que muitos questionavam até cinco ou dez anos atrás”, diz o CEO Joaquim Ribeiro, em entrevista ao NeoFeed.
Líder da empresa desde 2008, ele conta que a relojoaria é uma das categorias de consumo que mais avançam no Brasil, ultrapassando os setores de eletrodomésticos, vestuário, calçados e cosméticos.
Nas contas do IBGE, no acumulado até outubro de 2025, o polo relojoeiro cresceu 28% em comparação ao ano passado. O setor de farma e perfumaria, por exemplo, avançou 8,7% no mesmo período. O de alimentos, 7,6%; o de vestuário e calçados, 6,3%; e o de eletrodomésticos, 5,8%. Os dados são reforçados por relatórios da Superintendência da Zona Franca de Manaus.
Esse aumento, segundo Joaquim, resulta de fatores como o crescimento da renda nacional, o maior investimento da indústria e do varejo, inovações de produtos e a atuação de influenciadores.
Há seis anos, no entanto, a história da Technos era bem diferente: a Technos se recuperava de um erro estratégico, seguido do baque da pandemia. Em 2014, o executivo deixou o dia a dia da companhia e passou a atuar no conselho. Na época, o plano de negócios visava à diversificação em resposta à ameaça tecnológica da Apple, que, em 2015, lançou seu primeiro relógio inteligente.
“Para evitar o ‘efeito Kodak’ [referência à líder de mercado na fotografia que não soube abraçar as tecnologias digitais], a Techos decidiu transformar uma companhia de relógios em uma empresa de acessórios”, explica o CEO. “Incluiríamos joias e aceleraríamos o varejo.”
O temor era válido, mas, como reforça Joaquim, o declínio do relógio tradicional, devido ao smartwatch, nunca ocorreu: “Achávamos que o problema era muito mais macro do que micro”.
Em 2014 e 2015, o Brasil vivia uma época de tempestade perfeita: recessão, câmbio desfavorável e instabilidade política. Entre 2017 e 2018, a Technos apostou na diversificação de seus produtos, substituindo profissionais com tempo de casa e muita experiência no mercado relojoeiro por profissionais com experiência em outros segmentos. A empresa chegou a abrir ainda uma fábrica de joias em Manaus e a acelerar o varejo de franquia.
Todas estas mudanças fizeram com que a marca se distanciasse de seu “core business” e, apesar de não ter pilotado a Technos nesse período, Joaquim se responsabiliza parcialmente pelo declínio da empresa.
Ao reassumir o cargo de CEO em 2019, o executivo imediatamente redirecionou a empresa às suas origens relojoeiras, sempre com foco para os públicos B e C. A partir daquele ano, ele liderou um turnaround intitulado “back to basics”, viabilizando soluções dentro da empresa e na própria equipe.
No entanto, logo no começo do plano de reorganização, veio a pandemia, agravando uma situação financeira já bastante frágil: um endividamento elevado, um lucro suprimido, uma geração de caixa baixa, assim como a moral.
“Não havia outra saída: elaboramos um choque de gestão, acelerando o plano estratégico de três anos para seis meses e enxugando o quadro de funcionários para evitar medidas mais drásticas”, conta o CEO. “Vivemos momentos muito sacrificantes entre março e julho de 2020, desligando 50% do efetivo no escritório e na fábrica, que ficou fechada por seis meses.”
Os executivos entraram em renegociação da dívida com bancos e focaram na readequação da parte operacional, enxugando times e eliminando projetos que não eram centrais à marca, incluindo a joalheria. A Technos ainda reduziu as franquias e o portfólio de 19 para seis marcas.
“Quando a economia começou a soprar a favor, a companhia estava enxuta, muito leve e muito ágil. Em 2021, menos de um ano após o auge da pandemia, o negócio já apresentava resultados muito melhores do que nos anos anteriores”, revela.
Há 21 trimestres, a Technos tem crescido de forma sequencial, culminando no recente recorde de vendas e lucros. Em 2020, a ação da Technos chegou a valer R$ 0,90 e hoje atinge quase R$ 8.
Desde a pandemia, a empresa gerou um retorno oito vezes maior para o acionista por meio da distribuição de dividendos, da recompra de ações e da valorização de mercado.
Além dos números, este é o quarto ano que a empresa recebe o selo Great Place to Work e a certificação como Empresa B por suas práticas de ESG. “Já valorizávamos estas três letras antes de elas virarem moda”, celebra Joaquim.
A Technos foi fundada em 1924, no vilarejo de Welschenrohr, na Suíça, nas montanhas do Jura, berço da relojoaria mundial, incluindo as contemporâneas Omega, Rolex e Certina. Em 1958, o empreendedor gaúcho Mário Goettems licenciou a Technos no Brasil e operou a empresa com sua família por 50 anos.
Na década de 1990, ele comprou a marca, tornando-a brasileira e criando uma infraestrutura que inclui uma fábrica em Manaus, hoje com 600 funcionários, e escritórios em todo o Brasil.
“Ali estava um empreendedor que, já com seus 80 anos, não desejava reinvestir tempo ou capital no negócio. Tratava-se de um negócio lucrativo e sólido, bem à frente dos concorrentes. Ao mesmo tempo, observamos que o relógio deixava de ser um apontador de horas para se tornar um acessório de moda, um item colecionável e um símbolo de status”, lembra Joaquim.
E ele conclui: “Apostamos que, ao ingressar na Technos com um plano de negócios mais ambicioso, poderíamos elevar o patamar de consumo. Hoje, olhando os resultados recentes e os projetos futuros, sabemos que estamos na trajetória certa”.
Fonte ==> NEOFEED

