A saúde em 2025 – 17/01/2025 – Marcia Castro

Usuários e usuários do SUS sentados à esquerda da imagem aguardando atendimento em um corredor de uma unidade básica de saúde de Ceilândia, no Distrito Federal.

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O ano de 2024 quebrou recordes. Foi o mais quente, com 1,6°C acima da média pré-industrial, ultrapassando a meta do Acordo de Paris. Enchentes e secas históricas. Incêndios devastadores. Cerca de 6,6 milhões de casos e mais de 6.000 mortes de dengue no Brasil. A lista é longa. O ano terminou com um sopro de esperança de melhoria da atenção especializada e redução das filas no SUS. Mas ainda há muito o que fazer na agenda da saúde.

É preciso fortalecer a vigilância!

Apesar de o Brasil possuir sistemas de informação nacionais e de boa qualidade, a capacidade local de analisar esses dados para guiar ações de prevenção e controle ainda é limitada.

Há casos exemplares que merecem destaque e poderiam servir de inspiração. Aqui cito dois.

Em Fortaleza, a Secretaria de Vigilância construiu e usa sistemas que permitem cruzar dados, investigar e monitorar mortes infantis e maternas evitáveis, mapear concentrações atípicas de casos, etc. Recentemente, o Piauí foi o primeiro estado a digitalizar a caderneta da criança em um aplicativo que integra dados de saúde, educação e assistência social para auxiliar políticas públicas voltadas à crianças menores de 6 anos.

Uma efetiva vigilância epidemiológica precisa gerar rápidas respostas para prevenir e combater agravos. Esse é o papel da vigilância como intervenção, contribuindo para melhorar a saúde em todo o ciclo de vida.

A vigilância genômica também é fundamental. A recente expansão do vírus Oropouche além da região amazônica é um exemplo. Isto porque uma nova linhagem recombinante do vírus circulou silenciosamente por cerca de uma década até o recente aumento de casos.

Ou seja, é urgente que haja um esforço para estruturar a vigilância genômica e epidemiológica contribuindo para a melhoria da prevenção, preparação e resposta a agravos e emergências de saúde pública.

Entretanto, imagine um cenário em que a vigilância é exemplar, ações de saúde são proativas e patógenos em circulação são identificados de forma rápida.

A origem de alguns problemas está na condição precária de moradias e na insegurança de algumas áreas, resultado de múltiplas camadas de desigualdades sociais ao longo de décadas.

Portanto, o retorno do investimento em ações de saúde pública seria muito maior se acompanhado por programas multisetoriais com foco na redução de desigualdades sociais e vulnerabilidades locais.

Por exemplo, a explosão de casos de dengue em 2024 está relacionada ao clima, mas não somente. Criadouros de Aedes se proliferam em áreas sem acesso regular a água e coleta de lixo.

Além disso, a violência local dificulta o trabalho de agentes de controle vetorial. Entre 2011 e 2015, em Fortaleza, um aumento de 10 homicídios por 100 mil pessoas estava associado a um aumento de 6% na incidência de dengue.

A agenda da saúde é enorme e depende de outros setores para que seja otimizada. Não basta assinar acordos e lançar programas. É preciso agir de forma integrada, numa agenda focada nos grupos populacionais e áreas mais vulneráveis.

Lutar por essa agenda significa otimizar os recursos investidos em programas e maximizar os resultados. Lutar por essa agenda deveria ser um compromisso humanitário de todos os poderes.



Fonte ==> Folha SP

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