A arquiteta que “caçou” os projetos brasileiros e os levou ao resto do mundo

A arquiteta que “caçou” os projetos brasileiros e os levou ao resto do mundo

A arquitetura brasileira atravessou os oceanos e fincou sua bandeira no mundo pela primeira vez nos anos 1940, após o sucesso dos projetos de Oscar Niemeyer, o arquiteto modernista mais relevante do País.

Hoje, mais de 80 anos depois, seu nome ainda é lembrado como referência e serve de guia para grandes arquitetos que buscam galgar seu espaço no exterior. Amanda Ferber, arquiteta e fundadora do perfil de arquitetura Architecture Hunter (AH), tomou para si a “missão” de levar o Brasil para fora — quase sem querer.

A jovem de 30 anos é responsável pelo maior perfil independente de arquitetura do mundo, com uma base de 3,2 milhões de seguidores apenas no Instagram, e mais cerca de 300 mil divididos por outras redes sociais. No total, 90% dessa audiência vem de fora do País, sendo 25% da Europa, 25% América Latina, 22,5% Ásia e 10,7% Estados Unidos — o restante se divide entre África, Austrália, Canadá, Índia e México, com porcentagens menores. O Brasil representa apenas 9,4% desse montante.

Na prática, esse público está em busca da curadoria do Architecture Hunter, que literalmente “caça” os mais relevantes projetos arquitetônicos do mundo e os divulga, por meio de fotos, vídeos e aos mínimos detalhes em suas páginas, em um formato editorial.

“Eu sempre fui apaixonada por arquitetura e criei o Architecture Hunter em 2013 como um hobby, uma coletânea de projetos que eu amava e achava que o mundo precisava ver também”, conta Ferber ao NeoFeed. “Como muito daquilo era feito por profissionais internacionais, eu decidi fazer o perfil todo em inglês, para que ele fosse entendido além do Brasil, mas não tinha nenhuma intenção com isso”.

Apesar de não ter esse pensamento, os retornos são nítidos. Carlos Maia, diretor da Tetro Arquitetura e Engenharia, conta que seu primeiro projeto internacional veio do Architecture Hunter.

“Nós tivemos um projeto da Tetro publicado no perfil e um tempo depois uma pessoa na Índia, que não tem nenhuma ligação com o Brasil, nem conhece ninguém daqui, nos encontrou. Ele era apaixonado por arquitetura, seguia o AH, viu o nosso trabalho e entrou em contato com a gente”, afirma Maia. “Ainda estamos na fase de projeto executivo, a obra ainda não começou, mas essa conexão foi muito marcante pra gente”.

Luiz Paulo Andrade, do escritório de arquitetura LPAA, acredita que esse retorno é causado pelo alto nível dos projetos selecionados pelo AH, que virou como uma chancela no mercado mundial. “Após sair no perfil, nós recebemos contato de pessoas das mais diversas partes do mundo como Emirados Árabes, Costa Rica, Tanzânia, que estavam em busca da boa arquitetura vista no AH”, diz o empresário.

Nem nos sonhos mais incríveis de Ferber ela acreditou que o Architecture Hunter poderia se tornar um negócio. “Lembro que, em 2015, eu fazia estágio no escritório do meu ídolo Marcio Kogan, o mk27, e a página atingiu 200 mil seguidores, o que foi um choque”, conta Ferber. “Foi ali que eu percebi que queria fazer isso da minha vida e que efetivamente poderia dar certo.”

Perfil do Architecture Hunter no Instagram

Foi apenas em 2018 que ela decidiu efetivamente se dedicar ao projeto de corpo e alma. Aos poucos, formou um time que hoje conta com 15 colaboradores, sendo dois deles sócios do Architecture Hunter, Luiz Ferriani e Matheus Gait. Hoje, seu modelo de negócio é voltado para parcerias com marcas do mundo da arquitetura e decoração que querem utilizar essa audiência do perfil a seu favor.

Em 2024, a empresa criou seu primeiro prêmio de arquitetura, o Architecture Hunter Awards. Apesar de criado no Brasil, ele valoriza profissionais e projetos de todas as partes do mundo, assim como o perfil.

Agora, sua mais recente iniciativa é o Hunter International Forum (HIF), que ocorrerá nos próximos dias 20 e 21 de agosto, no Masp. Por lá, estarão presentes nomes brasileiros como Kogan e Paulo Jacobsen, além de representantes internacionais como Simon Marius Zehnder, head do famoso escritório de arquitetura Le Corbusier, da Suíça, para discutir uma visão completa da arquitetura.

“Nós sentimos que temos a responsabilidade de trazer assuntos para o Brasil que não estão sendo discutidos e ao mesmo tempo dar visibilidade aos estrangeiros sobre o que temos feito de bom por aqui”, explica Ferber. “Foi para isso que o projeto nasceu”.

Para Amanda, o momento do Brasil na arquitetura nos últimos cinco anos não poderia ser mais positivo na visão internacional, o que dá oportunidade ao País de sair da posição de ouvinte para o lugar de participante ativo da comunidade mundial.

“A ideia é que, em algum momento, esse fórum se torne um festival completo, que traga atenção para a arquitetura, algo que ainda não acontece por aqui”, explica Ferber. “Nós queremos furar a bolha, ir além de São Paulo e até do Brasil e, quem sabe, atingir a América Latina com o evento em breve”.

Apesar de todas as iniciativas, a empresária afirma que nunca pretende deixar de sondar o mercado em busca dos melhores projetos, que foi o que deu início ao AH. Hoje, ela está à procura de projetos que beiram o minimalismo, com visão contemporânea, mas sem perder a autenticidade e as características do país de origem do projeto.

“Não importa se é um escritório com 100 anos de existência ou se ele foi criado há um ano, o que queremos é encontrar projetos inovadores e surpreendentes. Essa é a nossa missão”, complementa Ferber.





Fonte ==> NEOFEED

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