A nutrição esportiva passou de um nicho voltado a atletas de alto rendimento para se tornar um dos setores mais dinâmicos e diversificados da economia da saúde. O mercado global de nutrição esportiva deve ultrapassar 80 bilhões de dólares até 2030, segundo projeções da Allied Market Research. No Brasil, o crescimento acompanha o aumento da prática de atividade física, do interesse por bem-estar e da busca por longevidade com qualidade.
Por trás desse avanço está uma mudança profunda de mentalidade: o foco da nutrição já não se restringe ao desempenho físico. Hoje, ela é vista como ferramenta de equilíbrio e transformação comportamental. Profissionais especializados têm adotado abordagens funcionais e humanizadas, que levam em conta a rotina, as emoções e os hábitos de cada indivíduo.
A nutricionista Amanda Hypólito Fernandes, especialista em nutrição esportiva funcional e fisiologia do exercício, destaca que o setor vive uma transição de paradigmas. “Durante muito tempo, a nutrição foi vista como algo mecânico, focado em números e restrições. Agora, o objetivo é promover autonomia e consciência. Cada paciente precisa entender seu próprio corpo e participar ativamente do processo de mudança”, explica.
Com mais de dez anos de atuação, Amanda observa que o mercado brasileiro está mais preparado para integrar ciência, comportamento e performance. O avanço da nutrição funcional e a popularização de modalidades como CrossFit, triatlo e esportes de endurance impulsionaram a demanda por profissionais qualificados. Segundo dados do Conselho Federal de Nutricionistas, o país já ultrapassa 180 mil profissionais registrados, um crescimento de mais de 60% na última década.

Para Amanda, a qualidade do serviço depende da combinação entre conhecimento técnico e escuta ativa. “A nutrição é uma ciência exata aplicada ao ser humano, e o ser humano é complexo. Por isso, a empatia é tão importante quanto a bioquímica. Quando o profissional entende a realidade do paciente, o resultado é duradouro e sustentável”, afirma.
Sua experiência em equipes multidisciplinares reforça essa visão. Ao longo da carreira, trabalhou com atletas de alto rendimento e também com atletas paralímpicos da Seleção Brasileira de Rugby, desenvolvendo protocolos nutricionais personalizados para performance e recuperação. Essa vivência revelou o impacto da individualização e da integração entre áreas da saúde. “O trabalho em equipe é essencial. O atleta ou o paciente precisa de uma rede de suporte que envolva médico, psicólogo, treinador e nutricionista. O corpo é uma máquina, mas também é emoção, mente e comportamento”, observa.
O atendimento humanizado e funcional, antes restrito a clínicas especializadas, começa a ganhar espaço em academias, clubes e startups de saúde. O modelo de consultoria nutricional online também cresce, impulsionado pelo aumento da conectividade e pelo desejo das pessoas de manter um acompanhamento constante. De acordo com levantamento da McKinsey, 70% dos consumidores que utilizam aplicativos de bem-estar buscam orientação personalizada de nutricionistas e coaches.
Amanda, que também se certificou como coach de nutrição pelo ISSA (International Sports Sciences Association), ressalta que a personalização é o grande diferencial competitivo da nova nutrição. “As pessoas querem ser compreendidas. A tecnologia é uma aliada, mas o fator humano continua sendo insubstituível. É a empatia que cria vínculo e gera transformação real”, explica.
Além do atendimento clínico, Amanda dedica parte de sua carreira à formação de novos profissionais. Oferece orientação a estudantes e nutricionistas em início de carreira, com foco em ética, comunicação e prática baseada em evidências. Para ela, o futuro da nutrição está na educação continuada e na responsabilidade social. “O profissional de saúde precisa ser agente de mudança. Quanto mais ele ensina e compartilha, mais contribui para o fortalecimento da área”, conclui.
O crescimento do setor de nutrição esportiva no Brasil reflete não apenas o avanço da ciência, mas a valorização de um novo olhar sobre o ser humano. A nutrição humanizada e funcional se consolida como tendência global porque enxerga o indivíduo antes do paciente e o propósito antes do protocolo.