Dezesseis meses depois de ser anunciada, a fusão entre Petz e Cobasi, as duas principais redes do mercado pet no Brasil, ainda espera o martelo ser batido no âmbito do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O tão aguardado sinal verde chegou a ser dado. No início de junho, o acordo foi aprovado, sem restrições, pela Superintendência do Cade. Mas, na sequência, o recurso de um terceiro interessado fez com que o processo seguisse para a análise do tribunal do órgão.
O novo trâmite no Cade não significa necessariamente que a transação entre Petz e Cobasi “subiu no telhado”. Mas marca mais um movimento da Petlove, em direção à aplicação de remédios ou até mesmo o veto do Cade.
Em meio a esse embate, e em um sinal de que essa “guerra fria” está esquentando, Sergio Zimerman, fundador e CEO da rede, deixou de lado os números do segundo trimestre e usou boa parte da call com investidores para rebater os argumentos contrários à fusão, nesta sexta-feira, 8 de agosto. Sem citar, no entanto, o nome da Petlove.
“Temos pressão de redes regionais e em cada lugar que estamos com lojas físicas”, afirmou o CEO. “O segmento pet era e continua sendo muito fragmentado. E a competição, seja no online ou no físico, é extremamente dinâmica. O cenário está cada vez mais acirrado, sobretudo com os marketplaces.”
As palavras competição e acirrada foram usadas reiteradamente pelo CEO da Petz no decorrer da teleconferência. E serviram também como base para que ele ressaltasse o racional por trás da fusão com a Cobasi.
“Como é que você compete com o preço sem destruir a empresa?”, disse Zimerman. “Só tem um caminho para acompanhar essa competição: ser mais produtivo, reduzir custos e baixar preços para o consumidor. E a fusão é uma das iniciativas, de grande porte, que mexe esse ponteiro.”
Nesse contexto, quando questionado sobre as perspectivas de avanços na margem bruta da Petz, de 39,2% no trimestre, um avanço de 0,2 ponto percentual sobre igual período, um ano antes, Zimerman falou sobre como a rede vem tentando equilibrar os pratos.
“Até para ser consistente com o que eu disse sobre o aumento da competição, nós não enxergamos um cenário de expansão da margem”, observou. “Nós não queremos ficar expandindo margem e crescendo 4% no online. Isso não faz sentido. Precisamos ser competitivos.”
Cachorro grande
Da mesma forma, sua contestação ao acordo entre Petz e Cobasi não ficou restrita ao último recurso registrado no Cade. No fim de julho, a empresa aderiu à campanha da ONG Instituto Caramelo, contrária à fusão.
“Conforme dados apresentados ao Cade, a fusão tem o potencial de fechamento de pequenos e médios petshops, que não terão chance de competir”, afirmou a companhia, em nota divulgada na época, acrescentando que Petz e Cobasi são os únicos players que concorrem de forma efetiva entre si.
A adesão foi seguida de uma campanha fortemente divulgada nas redes sociais, com a hashtag #NãoAoMonopólioPet e apoiada por dois vídeos, criado pelo Instituto Caramelo e produzidos com inteligência artificial, com “depoimentos” de cães e gatos afirmando que a fusão é uma catástrofe.
Procurada pelo NeoFeed, a Petlove reforçou sua tese. Em nota, a empresa afirmou que, uma vez eliminada a concorrência entre Petz e Cobasi, as duas redes ficarão livres para aumentar preços e poderão pressionar fornecedores em benefício dos seus próprios interesses e não dos consumidores.
“É importante que o Tribunal do Cade aprofunde a análise do mercado relevante feita pela Superintendência-Geral, que ignorou as diferenças de escala entre as megastores de Petz e Cobasi e os pequenos pet shops de bairro, o que resulta em diferenças de preços, portfólio de produtos e estratégias competitivas”, escreveu a empresa.
A empresa também observou que a decisão não leva em consideração precedentes da própria autarquia estabelecidos em outros mercados de varejo, onde a diferenciação entre grandes redes e pequenos estabelecimentos é reconhecida como essencial para uma análise adequada da dinâmica competitiva.
“A operação, tal como proposta, deve ser reprovada pelo CADE, a fim de evitar danos irreparáveis à concorrência e ao consumidor, prejudicando tutores e seus pets. Uma eventual aprovação exigiria um pacote robusto e extenso de remédios, estruturais e comportamentais, suficientes para criar um rival efetivo à empresa fusionada”, acrescentou a Petlove.
Resultado decente
No segundo trimestre de 2025, o canal digital da Petz registrou vendas de R$ 445,3 milhões, um crescimento de 4,5% em base anual. A cifra respondeu por uma participação de 41,8% da receita bruta registrada no período, de R$ 1,06 bilhão, alta de 8,6%.
“Não estamos, de forma alguma, satisfeitos com esse crescimento do online”, ressaltou Zimerman. “Agora que corrigimos o crescimento das lojas físicas, é o online que está deixando a desejar. E isso compromete o crescimento da empresa como um todo.”
As lojas físicas puxaram o desempenho no período. E ajudam a explicar boa parte do que a Petz tem feito para enfrentar a alegada competição mais acirrada. Assim como o que endereçou, entre abril e junho, após o balanço do primeiro trimestre acender o sinal de alerta para problemas operacionais.
Em uma das frentes, a rede desacelerou o ritmo de abertura de lojas, buscando se beneficiar do amadurecimento do parque de lojas já em operação, reduzindo a pressão de rentabilidade de novas unidades.
O crescimento de 43% das marcas próprias, que alcançaram uma fatia de 12,5% – 3 pontos percentuais a mais – na receita total de produtos foi outro fator que contribuiu para manter a margem relativamente estável nesse contexto.
Da mesma forma, a série de iniciativas de redução e controle de custos ajudaram a rede a reportar despesas gerais e administrativas também estáveis, de R$ 81,2 milhões, um crescimento de 0,3 ponto percentual.
Em outros dados, a Petz encerrou o segundo trimestre com um lucro líquido de R$ 23,8 milhões, contra o montante de R$ 818 mil reportado no mesmo intervalo do ano passado. Enquanto o lucro líquido ajustado avançou 81,8%, para R$ 18,5 milhões. A receita líquida cresceu 8,5%, para R$ 887,3 milhões.
Entre abril e junho, a companhia registrou um Ebitda ajustado de R$ 83,6 milhões, o que representou uma evolução de 39,5%. Na mesma base de comparação, a margem Ebitda ajustada ficou em 39,2%, uma expansão de 0,2 ponto percentual.
A empresa divulgou uma geração de caixa operacional de R$ 56,5 milhões. Já a dívida líquida ficou em R$ 45,5 milhões, uma redução de R$ 30 milhões ante o primeiro trimestre de 2025. Nessa mesma base, a alavancagem permaneceu em 0,2x.
Com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 4,50 para a ação da Petz, o Santander destacou o resultado sólido, com a aceleração das vendas sustentada por um crescimento mais equilibrado entre os canais e o mix de produtos, e maior disciplina de custos. O que, por sua vez, levou à expansão da margem bruta.
Já o BTG Pactual apontou que o resultado foi “decente” e melhor que o esperado. O banco destacou linhas como a expansão de 5,5% nas vendas mesmas lojas e a “sólida melhora na lucratividade”. Mas ressaltou que todo os olhos ainda estão voltados para a fusão com a Cobasi.
“Embora os números operacionais tenham sido positivos no segundo trimestre, as ações devem continuar sendo negociadas com base no fluxo de notícias sobre o acordo entre a Petz e a Cobasi”, escreveu o banco, com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 5 para o papel.
Nessa direção, Zimerman disse estar bastante confiante na “senioridade” e na orientação técnica dos conselheiros do Cade. E, sob esse último aspecto, afirmou que a expectativa é de que haja uma decisão até setembro.
“Mas pode haver um pedido de prorrogação por parte do tribunal, o que seria absolutamente normal e razoável”, observou. “E se esse for o caso, o julgamento se estenderia até o fim do ano. Então, esse é o melhor cenário que temos hoje.”
Após registrarem alta de mais de 5% pela manhã, as ações da Petz fecharam o pregão dessa sexta-feira com alta de 0,47%, cotadas a R$ 4,25, dando à empresa um valor de mercado de R$ 1,91 bilhão. No ano, os papéis têm valorização de 4,4%.
Fonte ==> NEOFEED