A valorização da mão de obra técnica brasileira e o papel dos especialistas automotivos no mercado global

O setor automotivo vive uma das maiores transformações de sua história. Com o avanço da eletrificação dos veículos, a pressão por eficiência produtiva e o crescimento das montadoras em mercados emergentes, a demanda por mão de obra técnica qualificada nunca foi tão alta. Profissionais brasileiros, reconhecidos pela precisão e adaptabilidade, estão se tornando peças-chave em fábricas e centros de reparação no exterior, levando o know-how adquirido em montadoras nacionais para o mundo.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, o déficit de profissionais especializados na indústria automotiva global ultrapassa 1,2 milhão de pessoas. No Brasil, dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram que o país tem hoje mais de 130 mil profissionais atuando na produção e manutenção de veículos, com ênfase crescente em técnicas sustentáveis de reparo e reaproveitamento. Nesse cenário, surge um novo destaque: o martelinho de ouro, técnica artesanal de reparação que alia precisão, sustentabilidade e preservação da originalidade do automóvel.

O especialista Josoir Lemes, com duas décadas de experiência e atuação internacional, acompanha de perto essa valorização. “O mercado global está carente de profissionais técnicos com visão detalhista e padrão de fábrica. O martelinho de ouro é uma técnica que une habilidade manual, sensibilidade e ciência dos materiais. É um trabalho de alto valor, que exige anos de prática e comprometimento com a qualidade”, explica.

Josoir iniciou sua carreira na Toyota, em 2005, quando foi enviado para a fábrica da Hilux na Argentina. Lá, aprendeu técnicas de funilaria de precisão, solda e martelinho de ouro. Em seguida, atuou na General Motors, em Gravataí, Rio Grande do Sul, uma das maiores montadoras do mundo, onde se destacou pelo domínio técnico e pela capacidade de reparar danos sem uso de massa plástica ou repintura extensa.

Após mais de uma década nas montadoras, decidiu empreender e abriu sua própria empresa, atendendo concessionárias e lojas especializadas em veículos zero quilômetro e premium. O diferencial, segundo ele, está no padrão de acabamento e no tempo de reparo. “Enquanto uma pintura tradicional pode levar até 30 dias, o martelinho de ouro entrega resultados em poucos dias e mantém a originalidade do veículo. É eficiência e qualidade na mesma medida”, comenta.

Com o reconhecimento da sua competência, Josoir passou a receber convites para atuar fora do Brasil. Trabalhou no México, nas fábricas da General Motors em Saltillo e da Chrysler em Querétaro, onde participou de projetos voltados à padronização de reparos de alta precisão. Mais recentemente, estabeleceu-se em Portugal, atuando em diversos países da Europa, entre eles Espanha, França e Alemanha.

A demanda internacional, segundo ele, está diretamente ligada à sustentabilidade e ao custo-benefício da técnica. “O mercado europeu valoriza processos que reduzem resíduos e impactos ambientais. O martelinho de ouro evita o uso de massa e solventes químicos, o que o torna ecologicamente mais viável. É um trabalho que une tradição e inovação, algo muito valorizado hoje”, observa.

Especialistas do setor apontam que a reparação automotiva passa por uma fase de transição, com forte integração entre tecnologia e artesanato técnico. Ferramentas de medição a laser, simuladores de impacto e ligas metálicas mais resistentes exigem profissionais preparados para lidar com veículos de nova geração. O Brasil, com sua base industrial diversificada e tradição em capacitação técnica, tem se tornado fonte de talentos exportáveis.

Para Josoir Lemes, o futuro da profissão está na especialização. “A diferença entre um profissional comum e um especialista é o conhecimento contínuo. A técnica muda, os materiais evoluem e o mercado se transforma. O profissional que estuda, se atualiza e busca excelência será sempre valorizado”, afirma.

A exportação de mão de obra técnica qualificada não é apenas uma oportunidade individual, mas um reflexo da capacidade produtiva brasileira. Em um mundo que busca eficiência e sustentabilidade, o talento humano é o verdadeiro motor de inovação. E histórias como a de Josoir Lemes mostram que o Brasil tem, em seus profissionais, um de seus maiores ativos.

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