A Berkshire Hathaway, holding multinacional liderada pelo investidor Warren Buffett e considerada uma das empresas mais lucrativas do mundo, vive uma das semanas mais turbulentas em seus 60 anos de história.
O pesadelo teve início com o anúncio no sábado, 2 de agosto, dos resultados do segundo trimestre – que registraram uma baixa contábil de US$ 3,8 bilhões e uma queda de 4% no lucro operacional. Desde a abertura do mercado, na segunda-feira, 4, as ações da empresa caíram 4,45%.
A Berkshire, porém, está longe de passar por dificuldades, pois ostenta US$ 350 bilhões de receita total, US$ 6,69 bilhões de lucro líquido no segundo trimestre e US$ 1 trilhão de ativos.
A redução da participação de 27,4% da Berkshire Hathaway na Kraft Heinz, empresa de alimentos e bebidas que tem enfrentado desafios à medida que mais consumidores recorrem a opções mais saudáveis e produtos de marca própria, tem sido apontada como o principal motivo para o resultado ruim do trimestre da Berkshire.
Mas outros indicadores e uma percepção sedimentada no mercado financeiro revelam o que está por trás de números ruins poucas vezes vistos nos balanços da Berkshire: a decisão de Buffett, de 94 anos, se aposentar.
As ações classe A da Berkshire despencaram 14% desde 2 de maio, o último dia de negociação antes de Buffett anunciar que entregaria o controle da Berkshire ao executivo-chefe Greg Abel em dezembro.
A queda da Berkshire contrasta com a alta de 11% do S&P 500, incluindo dividendos – resultado anormal para o currículo de Buffett à frente da Berkshire, que desde 1965 obteve retornos que superaram o índice de referência S&P 500 em mais de 5 milhões de pontos percentuais.
A defasagem em relação ao S&P 500 está entre as maiores que a Berkshire já sofreu em qualquer período trimestral desde 1990, de acordo levantamento do jornal britânico Financial Times.
A empresa só ficou mais atrás do índice em um período trimestral no início da pandemia, quando os investidores reduziram suas posições em ações, com seguradoras e empresas de serviços financeiros — principais participações da Berkshire — sendo particularmente afetadas.
“O preço das ações continua caindo, mesmo com a recuperação do mercado de ações dos EUA, o que talvez sugira que os investidores ainda não se convenceram de que a Berkshire Hathaway será a mesma sem Warren Buffett e Charlie Munger como era com eles no comando”, disse Russ Mould, diretor de investimentos da corretora AJ Bell.
Munger, vice-presidente de longa data da Berkshire e braço-direito de Buffett, morreu em 2023 aos 99 anos, episódio que teria levado Buffett a amadurecer a ideia de se aposentar.
Mold observa que a Berkshire, empresa sediada em Omaha, Nebraska, não recomprou nenhuma ação desde maio de 2024, indicando que continua cautelosa quanto às avaliações de mercado em meio à incerteza contínua sobre tarifas e crescimento econômico.
“O veículo de investimento parou de acumular dinheiro, encerrando uma série de onze trimestres consecutivos que começou no terceiro trimestre de 2022 e dobrou a quantidade de liquidez disponível”, afirma Mold.
Receita de Buffett
Buffett moldou gerações de investidores por impor sua filosofia de investimento em valor e foco no crescimento de longo prazo.
O modelo se baseia em aquisição de ativos subvalorizados, mas com alto potencial de valorização, gestão descentralizada, reinvestimento de lucros em novos negócios promissores sobrepondo a distribuição de dividendos e diversificação extrema.
Com essa receita, a Berkshire controla negócios próprios nas áreas de seguro, energia, transporte, manufatura, varejo e distribuição.
Além disso, detém participação acionária em grandes empresas, como Apple (44,4% do portfólio), Bank of America, Coca-Cola, American Express, Chevron, Amazon, Visa e Mastercard, além da Kraft Heinz – apesar do desinvestimento, a Berkshire segue como maior acionista da empresa de alimentos e bebidas.
As vendas dos últimos três meses se materializaram mesmo com a Berkshire continuando a relatar resultados operacionais saudáveis em todos os seus negócios. Os lucros operacionais da empresa foram afetados por oscilações cambiais, mas, excluindo esse indicador, a Berkshire gerou um aumento de 8% nos lucros em relação ao ano anterior.
As ações da Berkshire, no entanto, dispararam nos meses que antecederam a reunião anual deste ano, em maio, na qual Buffett anunciou a aposentadoria, subindo 18,9%. O índice preço/valor patrimonial da Berkshire, uma medida de como sua capitalização de mercado se compara ao valor de seus ativos líquidos, subiu para quase 1,8 vez, seu nível mais alto desde outubro de 2008.
Os investidores compraram ações enquanto os mercados oscilavam com a guerra tarifária do presidente americano Donald Trump, recorrendo à Berkshire como um porto seguro.
Mas os resultados tímidos da empresa após o anúncio de aposentadoria do investidor reforçaram a certeza de que o chamado “prêmio Buffett” nas ações da Berkshire pode não ser repassado imediatamente ao seu sucessor, que assume no final deste ano.
Fonte ==> NEOFEED