No clipe de “In Your Fantasy”, as silhuetas dos oito integrantes do Ateez surgem num fundo vermelho, enquanto eles fazem poses para uma plateia de mascarados. Eles brincam com fogo, encaram a câmera e cantam: “Quero te levar às alturas/ Chega de ser bonzinho”. A música do grupo de k-pop, que dá nome ao álbum recém-lançado, marca uma nova fase da boyband, que adota um estilo mais sensual.
“Mostramos uma variedade de conceitos ao longo dos anos, mas desta vez realmente queríamos capturar algo mais ousado e sensual”, explica o líder Hongjoong, em entrevista. “Como grupo, e como indivíduos, crescemos muito, e este pareceu o momento certo para refletir essa maturidade através da nossa música e performances.”
Eles deram uma prévia dessa faceta em “Lemon Drop”, single do disco “Golden Hour: Part.3”, lançado no mês passado. No clipe, os ídolos, que têm de 24 a 27 anos, aparecem sem camisa na piscina. “‘Lemon Drop’ revela um charme diferente em comparação com nossas apresentações intensas habituais. Pensamos que os fãs gostariam do clima descontraído que ela transmite”, diz Seonghwa.
É uma transformação grande para quem acompanha o grupo. No k-pop, é comum que os artistas adotem um conceito —sensual ou fofo, por exemplo—, que pode mudar a cada lançamento. Os integrantes já foram piratas e rebeldes que lutavam contra um sistema opressor –daí saíram faixas que os impulsionaram, como “Guerrilla” e “Bouncy”.
O Ateez construiu uma identidade própria, conhecida pelas músicas que passeiam do EDM ao rock, performances intensas e figurinos carregados de preto e sobretudos —que agora dão lugar a looks exibindo os tanquinhos. A participação de Hongjoong e Mingi na composição das letras somada a produtores e coreógrafos que os acompanham desde o início ajudaram a formar esse estilo consistente.
A narrativa dos trabalhos é bem construída, geralmente dividida em três partes. A trilogia de “Golden Hour” é mais versátil e chegou com a popularização do grupo fora da Coreia do Sul. O primeiro single, “Work”, é descontraído com referências latinas, seguido por “Ice on My Teeth”, mais elegante. “In Your Fantasy” destaca o lado sedutor, resume Yeosang, que diz: “Queríamos mostrar o quão versáteis podemos ser”.
Yunho afirma que manter a identidade é importante, bem como adicionar “novas cores”, e que eles discutem em equipe como permanecer fiéis enquanto ainda surpreendem o público. Wooyoung vê a era “Golden Hour”, que chega ao fim, como um reflexo do crescimento do octeto e da disposição deles de se desafiar.
“Cada lançamento mostrou um lado diferente de nós. Da intensidade e atitude à descontração, conseguimos explorar um amplo espectro de estilos enquanto permanecemos fiéis a quem somos”, diz o dançarino principal. “Este capítulo tem sido sobre evolução, e acredito que isso prova que podemos continuar expandindo o que o Ateez representa musical e artisticamente.”
A nova fase traz outras primeiras vezes para o Ateez. É a primeira vez que lançam um single totalmente em inglês, que os oito membros têm uma canção solo e que entram na Billboard Hot 100, lista das músicas mais populares nos Estados Unidos —”Lemon Drop” estreou em 69º.
Jongho conta que eles receberam a notícia tarde da noite, enquanto ensaiavam para a turnê. “Pensei que pudesse ser uma brincadeira. Foi um momento tão surreal. Ficamos incrivelmente agradecidos”, diz. O caçula, no entanto, vê o marco como “um novo começo, em vez de uma linha de chegada”. “Isso me deixou ainda mais determinado a continuar crescendo e a oferecer performances melhores.”
Quando eles vieram ao Brasil pela primeira vez, em agosto de 2023, fizeram seu maior show até então, para cerca de 30.000 pessoas no Allianz Parque. Mingi diz que o país deixou uma impressão forte.
“Ainda lembro vividamente daquele momento. O fato de termos nos apresentado para 30.000 pessoas foi incrível, mas o que realmente se destacou foi a paixão do público. Eles reagiram com tanto entusiasmo e nos receberam com tanto carinho”, relembra o rapper. “Nunca esquecerei o amor e a energia que sentimos naquele dia. Isso me fez querer voltar e retribuir ainda mais na próxima vez.” A boyband, no entanto, não responde sobre um possível retorno.
De lá para cá, muita coisa mudou para o Ateez. Eles foram o primeiro boygroup de k-pop a se apresentar no Coachella, um dos principais festivais de música do mundo, no ano passado, em palco e horário nobres. San diz que o show foi um ponto de virada que os lembrou do que são capazes, e que levará essa memória pelo resto da vida.
“Mesmo até o momento em que subimos ao palco, não parecia real. A onda de energia, o som da multidão, as luzes, tudo nos atingiu de uma vez”, recorda. “Sentimos como se estivéssemos realmente vivendo nosso sonho, e foi avassalador. Isso despertou uma fome de alcançar patamares ainda maiores.”
Sobre os próximos objetivos, Yeosang reforça que os fãs são a principal preocupação. “Sempre estabelecemos novos desafios, mas no centro de tudo está o tempo que passamos com os Atinys. Aqueles momentos em que cantamos juntos e compartilhamos emoções são os que mais significam para nós”, diz. “Se pudermos continuar criando memórias como essas, esse é o sonho que queremos continuar perseguindo.”
Em meio a tantas conquistas, os oito dizem que ainda lembram do início da carreira. Eles debutaram em 2018 por uma gravadora desconhecida então, a KQ Entertainment. “Nada era garantido para nós naquela época, o que tornava nossos sonhos ainda mais urgentes e significativos”, afirma Seonghwa.
“Lembro de como nos sentíamos gratos apenas por poder nos apresentar. Estávamos longe de ser perfeitos, mas nossa paixão superava as limitações que encontrávamos.” O membro mais velho diz que essas memórias são fonte de motivação. “Elas nos lembram por que começamos e ajudam a manter nossos corações no lugar certo.”
Fonte ==> Folha SP
