Os 31 votos recebidos por Marcel van Hattem (Novo-RS) na disputa à Presidência da Câmara detonaram uma crise na bancada bolsonarista. Como o Novo tem apenas quatro deputados, os demais votos foram colocados na conta de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que se insurgiram contra a orientação dele de votar em Hugo Motta (Republicanos-PB), que saiu das urnas consagrado no último sábado (1), com 444 votos.
Os maiores ataques aos apoiadores de Van Hattem foram externados pelo vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, e pelo deputado Mário Frias (PL-SP), ex-secretário de Cultura de Bolsonaro. Os principais alvos: o próprio Van Hattem e o deputado Ricardo Salles (Novo-SP), ex-ministro do Meio Ambiente. Sem citar o nome de Bolsonaro, os deputados do Novo comemoram a votação alcançada sem “acordão”. Carlos reclamou quem não saiu em defesa de Bolsonaro por ter decidido apoiar a candidatura de Motta. Quem assim agiu assim, segundo ele, é “moleque” e “covarde”. Para Frias, eles traíram o ex-presidente e se valem de “joguinho de se fingir morto ou de “[mandar] indiretinhas de puta”. O ex-ator também cobrou “hombridade” de quem criticou o acordo feito por Bolsonaro.
Carlos escreveu um longo texto sobre o assunto nesta segunda-feira no X: “Hoje, se repete mais um momento idêntico e rotineiro, especificamente na eleição da Câmara e do Senado. Praticamente nenhum parlamentar ou político se pronunciou para explicar os movimentos necessários e, hoje, alguns poucos falam algo para não ficarem mal na fita e a maioria quando abre a boca, lava as mãos e diz que fez o que o Presidente pediu. É muito fácil agir assim sempre, como moleques. O principal responsável por ter feito todo esse movimento chegar até aqui é propositalmente ‘esquecido’ em prol de projetos pessoais de outros”.
Sem citar o apoio a Motta, o vereador cobrou que aliados explicassem os motivos da decisão do ex-presidente de apoiar o mesmo candidato do PT e do Centrão. “Infelizmente, para que cresçamos, precisamos fazer coisas que fazem parte do processo. Como diz o Presidente: quando você entender a diferença entre o ideal e o real, você estará pronto para servir à sua Pátria”, acrescentou em um longo texto (veja a íntegra do texto mais abaixo).
Bate-boca
O bate-boca entre Mário Frias e Ricardo Salles começou no domingo, no X, após o ex-ministro do Meio Ambiente comemorar os 31 votos recebidos por Marcel van Hattem no sábado. Com apoio de quase todos os partidos, inclusive PL e PT, Motta foi eleito com 444 votos. Frias não gostou e cobrou do ex-companheiro de governo e partido que fosse “homem” para assumir o “teatro” que ele, Van Hattem e outros deputados fizeram, com a candidatura do deputado do Novo, para se promover eleitoralmente e desgastar a imagem de Bolsonaro. O PL foi considerado na Câmara a principal fonte dos 31 votos recebidos pelo deputado gaúcho, cuja bancada soma apenas quatro deputados.
Sem mencionar o nome de Bolsonaro, Salles publicou no X que os votos obtidos pelo deputado do Novo representavam os valores da “direita liberal conservadora” e condenou a aliança do grupo com o Centrão. Em agosto de 2023, Salles deixou o PL e se filiou ao Novo, de olho em uma candidatura ao Senado em 2026.
“Apesar da nossa ainda reduzida, porém honrosa bancada de apenas quatro deputados federais do Novo, conseguimos obter 31 votos para o Marcel van Hattem na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Esses votos efetivamente representam os valores da direita liberal conservadora, que não transige com o Centrão, não coaduna com posturas e práticas incompatíveis com as nossas crenças”, escreveu o ex-ministro.
A publicação foi compartilhada no X por Van Hattem: “”Ainda reduzida’, mas que vai EXPLODIR em 2026. Sem contar nas nossas candidaturas ao Senado. Bora!!!”. O deputado gaúcho também pretende concorrer a senador em 2026.
“Vitimização ridícula”
Em resposta, Mario Frias acusou os colegas de tentarem desgastar Bolsonaro para obter votos nas eleições de 2026. “Então finalmente vocês estão abrindo o jogo, o teatro que vocês criaram nas eleições das casas, no intuito de desgastar o presidente Bolsonaro, tinha o objetivo de garantir votos para vocês em 26. Quem poderia imaginar!?”, escreveu o ex-secretário de Cultura.
Salles rebateu, negando intenção de atacar o ex-presidente. “Essas ilações conspiratórias e vitimizações forçadas são ridículas. Não queremos gente corrupta, fisiológica, adesista etc. nos cargos-chave do país e, tenho certeza, você também não quer”, afirmou.
Frias então acusou o ex-colega de mandar indiretas contra Bolsonaro, insinuando que o ex-presidente teria se vendido ao Centrão. “Claro, Salles, você dar indiretas (bem corajoso da sua parte) dizendo que ele vai ganhar de quatro, que se vendeu para o Centrão ou que não é conservador de verdade não desgasta em nada ele. Já que toda hora você arrota sobre coragem, ao menos tenha coragem de ser honesto e direto. Não me trate como um idiota, tenha o mínimo de hombridade, já que, até agora, isso lhe falta, ao menos seja homem o suficiente para assumir o que está fazendo. Esse papelão que você está se prestando a desempenhar com o cara que viabilizou sua eleição é ridículo”, disparou.
Mário Frias continuou as discussões nesta segunda. “Carlos, nós, parlamentares eleitos pelo Presidente Bolsonaro, temos a obrigação não só de respeitar sua liderança, mas de defende-la. É bastante cômodo adotar discursinho ambíguo (na tentativa de ficar bem com todo mundo) ou se fazer de morto, para não criar indisposição. Isso, para mim, é falta de hombridade”, escreveu Frias, fazendo eco aos comentários do filho do ex-presidente.
Veja a crítica publicada por Carlos no X:
“Mais um dia normal no Brasil. Jair Bolsonaro sempre colocava a cara para defender os ataques que seus ministros sofriam diariamente, sem que quase nenhum deles se pronunciasse sobre algo que cabia a eles. Hoje, se repete mais um momento idêntico e rotineiro, especificamente na eleição da Câmara e do Senado.
Praticamente nenhum parlamentar ou político se pronunciou para explicar os movimentos necessários e, hoje, alguns poucos falam algo para não ficarem mal na fita e a maioria quando abre a boca, lava as mãos e diz que fez o que o Presidente pediu. É muito fácil agir assim sempre, como moleques. O principal responsável por ter feito todo esse movimento chegar até aqui é propositalmente “esquecido” em prol de projetos pessoais de outros.
Esqueçam nomes, apenas olhem para quem votamos e vejam as reações antes e depois. Pronto, tudo fica muito claro. É todo dia, todo dia, todo dia: o cara se coloca na boca do leão em nome de outros que querem entregar sua cabeça como troféu e, então, saírem limpinhos num movimento derrotado, após termos todos chegado num ponto em que não podemos mais apenas ter bônus, diante do tamanho que chegamos. Fazer isso é muita covardia. O exposto vale para qualquer um que foi eleito, me incluindo, fazendo uma autorreflexão.
É de uma maldade sem tamanho fazer isso com quem se sacrifica todos os dias para que evoluamos e ocupemos espaços reais, não aqueles que vendem falsas promessas apenas para benefício próprio. No fim, somente eles saem beneficiados e a conquista do povo volta à estaca zero na ocupação de espaços. Infelizmente, para que cresçamos, precisamos fazer coisas que fazem parte do processo. Como diz o Presidente: quando você entender a diferença entre o ideal e o real, você estará pronto para servir à sua Pátria. Não há inocentes na política. Cobremos a todos, algo que não é feito. Todo o movimento é direcionado e de um baixo nível de dar inveja a um esquerdista.”
O comentário de Mário Frias nesta segunda-feira no X:
“Esse é o ponto, Carlos. Nós, parlamentares eleitos pelo Presidente Bolsonaro, temos a obrigação não só de respeitar sua liderança, mas de defende-la. É bastante cômodo adotar discursinho ambíguo (na tentativa de ficar bem com todo mundo) ou se fazer de morto, para não criar indisposição. Isso, para mim, é falta de hombridade.
Então, para colher os frutos, durante a eleição, a turma se estapeia para aparecer com ele, na primeira necessidade de união todos somem e/ou se vendem como magnânimos demais para aceitar a liderança dele.
Eu tenho como filosofia algo simples, posso até não concordar com uma estratégia de ação, mas isso fica para dentro do partido, a liderança tomou uma posição, irei seguir. Se a posição da liderança violasse os meus princípios morais eu romperia abertamente, não ficaria nesse joguinho de se fingir de morto ou de indiretinhas de puta. Até hoje, o Presidente Bolsonaro nunca tomou uma decisão que violasse meus princípios morais, por mais difíceis que fossem, sempre vi nele a vontade de mudar nosso país para melhor.
Nunca tomou uma decisão política pensando apenas em si mesmo. Isso, por si só, já é o suficiente para ter total respeito pela sua liderança. É calhorda e injusto gritar que um dos caras mais perseguidos do país, uma das principais vítimas do regime de exceção, vendeu-se ao sistema que tenta a todo custo destrui-lo. Todos vocês, que estão nessa campanha, são, além de injusto, uns covardes.
Até aceitaria um debate honesto, mas como honestidade é uma mercadoria inexistente, não vejo a menor possibilidade de debater com quem já sai, de largada, chamando ele de cadela, traidor, vendido, covarde ou fala de acórdão (como se houvesse algo ilícito e imoral por trás). Todos que partem desse pressuposto são canalhas, não são críticos a espera de um debate justo, são meros agentes no assassinato de reputação. E vocês, parlamentares mudos, são cúmplices por omissão.”
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Fonte ==> Congresso em Foco