Cinema: Filmes coreanos têm recorde de estreias no Brasil – 28/12/2025 – K-cultura

A imagem mostra três homens em um ambiente interno, possivelmente um quarto. Um dos homens está segurando uma câmera, enquanto os outros dois parecem estar em uma posição de alerta ou surpresa. O ambiente tem paredes com papel de parede vintage e há um ar condicionado visível. A iluminação é suave, e o cenário parece um pouco desordenado, com alguns tubos e equipamentos visíveis.

A Coreia do Sul esteve em alta nas telonas brasileiras em 2025. Os cinemas exibiram um recorde de lançamentos do país asiático: foram 33 filmes, documentários musicais e sessões de shows de k-pop —um crescimento de 200% em relação ao ano passado.

Esse movimento acompanha o crescente interesse pela cultura coreana, impulsionada pelos k-dramas, música e fenômenos como “Round 6”. Essa popularização também tem influenciado o que chega nos cinemas daqui.

A programação deste ano foi marcada pela explosão de produções que combinam performances ao vivo, entrevistas e bastidores de artistas de k-pop —ao todo, foram 20—, mas também teve espaço para longas de cineastas renomados, como “As Aventuras de uma Francesa na Coreia”, do já carimbado Hong Sang-soo, e “Na Teia da Aranha”, estreia de Kim Jee-woon no Brasil.

Títulos mais comerciais ganharam terreno, a exemplo da comédia romântica “A Menina dos Meus Olhos” e do blockbuster “12.12: O Dia”. É um cenário bem diferente de uma década atrás, quando os cinemas recebiam poucos ou nenhum (2014 e 2015) lançamento sul-coreano.

Antes, os longas que chegavam ao país eram de diretores consagrados, como Park Chan-wook (“A Criada”), Bong Joon-ho (“Mother – A Busca pela Verdade”) e Lee Chang-dong (“Em Chamas”). Eram obras consumidas sobretudo por cinéfilos, observa Dong Hyun Lee, coordenador de filmes do Centro Cultural Coreano no Brasil (CCCB).

Além deles, entravam no circuito comercial aqueles que repercutiam em festivais internacionais, como “Invasão Zumbi”, exibido em Cannes –e que aqui atraiu 425 mil pessoas. O cenário começou a mudar com “Parasita”, vencedor do Oscar de melhor filme, em 2020.

“‘Parasita’ foi um divisor de águas”, afirma André Sturm, fundador da Pandora, responsável por importar o longa de Bong Joon-ho e outros títulos coreanos. Até então, os lançamentos da distribuidora eram restritos a um circuito menor, e passaram a entrar num circuito maior, diz Sturm. “Depois dele, aumentou o interesse por filmes coreanos.”

De 2019 a 2020, “Parasita” levou 1 milhão de pessoas aos cinemas e arrecadou R$ 18,8 milhões então —disparado a maior bilheteria de uma produção coreana no Brasil. Na mesma época, veio a pandemia, período em que muitos brasileiros descobriram os k-dramas e filmes no streaming. Surgiu um público novo que demandava mais conteúdo vindo da Coreia do Sul.

“A expansão da ‘hallyu’ [onda coreana] começou com ‘Parasita’ e uma orquestrada ação do governo com empresas do audiovisual. Isso criou uma base de fãs engajada”, avalia Nelson Sato, fundador da Sato, distribuidora especializada em produções asiáticas.

A partir daí, obras estreladas por cantores e atores populares começaram a ganhar espaço entre os lançamentos, afirma Dong, do CCCB. Um exemplo é “A Menina dos Meus Olhos”, protagonizado por ídolos da música pop, que atraiu 25 mil espectadores.

A maior bilheteria deste ano foi “RM: Right People, Wrong Place”, documentário sobre o líder do BTS, com público de 47 mil pessoas e R$ 1,5 mi arrecadado –a melhor performance no mundo, segundo Sato.


COMO FOI FEITO O LEVANTAMENTO

O levantamento feito pela Folha compilou dados da Ancine e do Filme B de lançamentos no circuito comercial de 2009 –ano mais antigo disponibilizado pela Ancine– até dezembro de 2025. Foram reunidas obras produzidas ou co-produzidas pela Coreia do Sul que tenham alguma relação com a cultura do país.

Nessa lógica, ficaram de fora títulos como “Mickey 17” e “O Rei dos Reis”, que, embora sejam dirigidos por sul-coreanos, são produtos hollywoodianos. Também ficaram de fora filmes como “Guerreiras do K-pop” e “Minari”, que, apesar da temática coreana, foram produzidos inteiramente pelos Estados Unidos. Os dados de público e bilheteria foram obtidos no portal da Ancine.


Os títulos que dominam as salas hoje são os documentários musicais e transmissões de shows de k-pop, modelos que surgiram na pandemia, quando eventos eram restritos. As sessões desembarcaram em 2020 e já em 2021 superaram os filmes tradicionais em estreias ao ano.

“Trazer shows e docs dos ídolos se tornou uma opção inteligente de conectar fãs em eventos no cinema. Aos exibidores, é uma nova forma de ganhar espectadores”, diz o fundador da Sato, responsável por grande fatia dessas distribuições.

Há mais interesse do público e de empresas de olho nessa onda, mas o principal desafio para aumentar a oferta de filmes coreanos, dizem os distribuidores, continua sendo a disputa por espaço com as produções hollywoodianos.

As melhores performances coreanas nos cinemas ainda estão atreladas à quantidade de praças onde estreiam. O documentário do líder do BTS, por exemplo, chegou a 315 salas espalhadas pelo país, e “A Menina dos Meus Olhos” a 268, números altos para esse nicho.

“A entrada no circuito comercial ainda exige trabalho de convencimento. Trabalhamos com uma região pouco conhecida pelos exibidores, que estão aos poucos experimentando os conteúdos”, afirma Sato. “É uma equação que precisa ser alinhada para ampliar a exibição de filmes asiáticos.”

Outro desafio é conquistar o interesse das grandes distribuidoras sul-coreanas, que concentram os esforços no Sudeste Asiático, Europa e América do Norte. “Mais recentemente, o mercado brasileiro vem atraindo atenção positiva, pelo resultado expressivo em plataformas online e pelo potencial”, diz Dong.

Além do circuito comercial, festivais temáticos ganharam destaque em 2025. A Mostra de Cinema Coreano chegou à 14ª edição e trouxe a São Paulo os cineastas Kim Jee-woon e Chun Sun-young. O Korean Film Fest (Koff), criado em 2023, percorreu seis estados e entrou para o calendário oficial de eventos paulistano. O Korean Film Archive (Kofa) investiu em duas mostras grátis por aqui, no MIS e na Cinemateca.

Entre os festivais tradicionais, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo trouxe “Sem Outra Escolha”, de Park Chan-wook, que tenta vaga no Oscar, e o Festival do Rio exibiu “O que a Natureza te Conta”, o mais recente de Hong Sang-soo –e seu 10º lançado em telas brasileiras.



Fonte ==> Folha SP

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