Como seria o impacto nos EUA da tarifa de 50% sobre o Brasil

Como seria o impacto nos EUA da tarifa de 50% sobre o Brasil

Setores empresariais dos Estados Unidos se mobilizam para que haja negociações entre Washington e Brasília e a tarifa de 50% sobre importações de produtos brasileiros, anunciada pelo presidente Donald Trump na semana passada e que entraria em vigor em agosto, seja ao menos reduzida.

Caso essas conversas fracassem e a taxa seja aplicada na íntegra, os impactos para os americanos seriam mais sentidos em setores pontuais, já que, em termos gerais, o Brasil não está entre os maiores exportadores para os Estados Unidos.

Segundo dados do governo americano, o comércio bilateral com o Brasil foi de US$ 92 bilhões em 2024. As exportações de bens dos Estados Unidos para o Brasil totalizaram US$ 49,7 bilhões, enquanto as importações de produtos brasileiros somaram US$ 42,3 bilhões.

Estatísticas da base de dados sobre comércio internacional Comtrade, das Nações Unidas, apontaram que o Brasil foi apenas o 16º país que mais vendeu para os americanos no ano passado, representando 1,4% das importações americanas.

“A importância do Brasil para os Estados Unidos é bastante reduzida. Essa é a verdade. O impacto para a economia americana é muito baixo”, afirmou William Castro Alves, estrategista-chefe da plataforma de investimentos internacionais Avenue, em entrevista à Gazeta do Povo.

Entretanto, Leonardo Roesler, advogado tributarista e conselheiro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, disse que, caso seja realmente aplicada, a tarifa de 50% traria impactos significativos a setores específicos da economia americana.

As vendas brasileiras aos Estados Unidos se concentram em petróleo cru de médio teor de enxofre, produtos de ferro e aço semielaborados, aeronaves e partes de aviões, café verde (grão de café não torrado), carnes bovinas refrigeradas e suco de laranja concentrado, destacou.

Segundo Roesler, embora tenha participação relevante nas compras americanas de petróleo e aço, o Brasil poderia ser substituído com relativa facilidade por outros países.

“No entanto, em café e suco de laranja, a substituição seria complexa. O Brasil responde por cerca de um terço do café verde introduzido no mercado americano e por mais de quatro quintos do suco de laranja importado, num momento em que a produção da Flórida está no menor nível em oito décadas. Nessas duas cadeias globais, não há excedentes exportáveis equivalentes em outros fornecedores capazes de preencher o vazio no curto prazo”, alertou.

Roesler também destacou uma dependência relativa elevada nas importações americanas de carne bovina do Brasil.

“Os frigoríficos brasileiros já representam perto de um quarto das compras externas dos Estados Unidos, que atravessam escassez de gado. O esforço de reposição poderia recorrer a Austrália ou Canadá, mas com prazos logísticos maiores e custo adicional relevante”, projetou o especialista.

“No segmento de aeronaves, a Embraer possui participação expressiva em jatos regionais e executivos nos Estados Unidos, categoria em que o principal concorrente é a Airbus, com produção distribuída entre Europa e Canadá. Para programas em curso, os compradores enfrentariam atrasos e custos de transição se migrassem de plataforma”, disse Roesler.

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O analista apontou outras dificuldades para os americanos substituírem importações do Brasil. No café verde, as alternativas “clássicas” – Colômbia, Vietnã e Honduras – não possuem escala suficiente para compensar uma retirada abrupta do café brasileiro do mercado.

No suco de laranja, relatou Roesler, o único exportador com representatividade parcial é o México, “que, contudo, não dispõe de excedente para cobrir o déficit, já que a citricultura mexicana prioriza fruta in natura em detrimento da indústria de sucos”.

“No setor aeronáutico, onde o Brasil oferece jatos regionais de 90 assentos e aeronaves executivas de médio porte, a Airbus canadense (antigo programa Bombardier) e a própria Boeing em categorias adjacentes formam a concorrência mais direta, mas não disponibilizam substitutos idênticos em prazos curtos”, explicou.

A capacidade de assimilar a tarifa de 50% variaria conforme o setor, afirmou o especialista. Nas aeronaves de maior valor agregado, há alguma margem para repasse parcial de preço porque o custo do equipamento envolve projetos de longo prazo, contratos de manutenção e conteúdo americano nos sistemas de propulsão e aviônicos, relatou.

“Mesmo assim, a Embraer estima um sobrecusto de US$ 9 milhões por avião, que pode provocar revisão ou cancelamento de pedidos, sobretudo de companhias aéreas regionais com rentabilidade limitada”, disse Roesler.

“Na carne bovina, estudiosos do mercado calculam que a escassez de oferta doméstica permitiria aos frigoríficos americanos repassar parte do acréscimo ao consumidor, porém, ganhos de competitividade de Austrália e Canadá tornariam o produto brasileiro paulatinamente inviável, situação já antecipada por plantas exportadoras que suspenderam abates destinados aos Estados Unidos após o anúncio da sobretaxa”, disse o especialista.

No café, onde o setor de torrefação trabalha com margens apertadas, a tarifa de 50% forçaria renegociações de contratos ou busca de fontes alternativas.

“No suco de laranja, a tarifa tenderia a ser repassada quase integralmente ao consumidor, porque não há substitutos suficientes e a produção doméstica segue em declínio”, projetou Roesler.

“A consequência provável seria forte pressão inflacionária em bebidas derivadas de citros, mantendo, ainda assim, certo volume de importações brasileiras, dada a ausência de alternativa.”



Fonte ==> Gazeta do Povo.com.br

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