As novas tarifas impostas pelo governo americano aos produtos brasileiros entraram em vigor nesta quarta (6) e já mostram seus primeiros efeitos na economia nacional. O decreto assinado pelo presidente Donald Trump estabelece uma alíquota adicional de 40% sobre diversos produtos importados do Brasil – que, somada à tarifa global de 10% já existente, resulta em uma taxação total de 50%. Apesar da lista de 694 produtos isentos do adicional amenizar o impacto inicial, o setor produtivo brasileiro já contabiliza prejuízos.
Impacto das tarifas americanas em números
Estudo detalhado da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) projeta uma redução de R$ 25,8 bilhões no PIB brasileiro no curto prazo (1 a 2 anos), perda de 146 mil postos de trabalho formais e informais e uma redução de R$ 2,74 bilhões na renda das famílias.
No longo prazo (5 a 10 anos), as perdas podem alcançar R$ 110 bilhões, com eliminação de mais de 618 mil postos de trabalho e redução de R$ 11,56 bilhões na renda das famílias.
Setores em alerta: agronegócio e indústria pagam a conta mais cara
Os produtos sujeitos às novas tarifas somam US$ 22,2 bilhões em exportações – 54,9% do total vendido aos EUA em 2024. Entre os mais afetados estão semimanufaturados de ferro ou aço (6,9% das exportações), café (4,7%) e carne bovina (2,2%).
“Se a tarifa de 50% se mantiver, o Brasil deixará de ser competitivo”, alerta Joseph Couri, presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria (SIMPI). “O importador buscará alternativas em países com tarifas médias de 15%. Continuarão comprando de nós apenas onde não há opções, e mesmo assim com volume restrito.”
O caso da carne bovina: com tarifas de Trump sobre o Brasil, a exportação se torna inviável
Para o segmento de carnes, o impacto é devastador: com tarifa total de 74%, as exportações tornam-se economicamente inviáveis. Os frigoríficos já estudam redirecionar a produção para o mercado doméstico, movimento que pode provocar queda temporária nos preços internos, mas com risco de redução futura na oferta. Regiões como Goiás e Mato Grosso, polos da pecuária nacional, serão diretamente impactadas.
A análise setorial da entidade empresarial mineira sinaliza para quedas expressivas na produção: siderurgia e tubos de aço (-8,11%), produtos de madeira (-7,12%), calçados e artefatos de couro (-3,07%) e pecuária (-1,74%). Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos, adiciona à lista de perdedores a piscicultura (especialmente tilápia), minério de ferro, açúcar, autopeças, máquinas e equipamentos, celulose e papel, têxteis e calçados.
A lógica de Washington: por que alguns produtos foram poupados?
A lista de exceções revela a lógica pragmática de Washington: preservar produtos essenciais para suas cadeias produtivas. Os 694 itens isentos representam 45% do valor total exportado pelo Brasil aos EUA em 2024, incluindo derivados de petróleo, pasta química de madeira, ferro fundido bruto, aeronaves e sucos de laranja.
“A decisão não é ideológica nem simbólica. Segue a lógica do custo-benefício”, analisa Hugo Garbe, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Os EUA pouparam produtos dos quais dependem para manter sua economia funcionando. Para o resto, o recado é direto: ‘precisamos de vocês, por enquanto’.”
Pragmatismo das tarifas de Trump sobre o Brasil beneficia Petrobras e Embraer
Petrobras e Embraer figuram entre as principais beneficiadas. A fabricante de aeronaves obteve isenção para componentes específicos, resultado tanto da dependência americana de peças brasileiras quanto da articulação estratégica de seu CEO, Francisco Gomes Neto. O setor de suco de laranja também manteve acesso privilegiado ao mercado americano, dado que os EUA não dispõem de alternativas de fornecimento para compensar a oferta brasileira.
Resposta do Brasil: os caminhos entre diplomacia e adaptação
Diante do cenário adverso, governo e setor privado mobilizam-se em múltiplas frentes. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que acumula o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, lidera negociações para ampliar a lista de exceções, especialmente para café e carne bovina – produtos que podem pressionar a inflação americana.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, aponta para a preparação de um plano de contingência, que pode ser anunciado ainda nesta quarta, com linhas de crédito subsidiadas e medidas de proteção ao emprego, inspiradas nas políticas adotadas durante a pandemia.
Estratégia empresarial: diversificar mercados para sobreviver
Para as empresas, o Simpi propõe três estratégias imediatas:
- Negociar a divisão do impacto tarifário com parceiros comerciais,
- Assumir temporariamente o prejuízo (comprometendo margens e capital de giro), ou
- Buscar novos mercados.
“É um cenário de guerra tarifária, e os pequenos negócios são os primeiros a cair”, adverte Couri, que recomenda a diversificação para América Latina, Ásia e África, além do aproveitamento de acordos regionais como o Mercosul.
Flávio Roscoe, presidente da Fiemg, enfatiza a importância da via diplomática: “A imposição dessas tarifas foi unilateral e sem negociação. É fundamental que o Brasil atue para ampliar o número de produtos isentos e proteger empregos e investimentos nacionais.”
Fonte ==> Gazeta do Povo.com.br