No rastro dos avanços da revolução digital, a bilionária indústria de equipamentos de ginástica inventa máquinas que só faltam falar. Nem os simples halteres escapam às inovações. Os modelos mais modernos ajustam a carga por comando de voz, medem as repetições, velocidades e potência do movimento e oferecem treinos personalizados por inteligência artificial, entre outras novidades.
Vem lá dos rincões rurais do sudeste de Iowa, nos Estados Unidos, uma inovação da qual até agora não se tinha notícia. Ao mudar a aparência dos pesos, a publicitária Rachel Steffensmeier inventou os halteres dois em um. Elegantes e minimalistas, os produtos de sua marca, a Subtle Impacts, servem tanto para a prática de exercícios físicos quanto para a decoração. E, sem nenhuma parafernália hightech, mas altamente instagramáveis, eles agitam as redes sociais e conquistam uma legião de fãs.
A história da Subtle Impacts começa na empresa de soldas do pai da empreendedora, na pequena comunidade de Pilot Grove. Em 1982, Ben fundou a Steffensmeier Welding & Manufacturing, dedicada sobretudo ao reparo de máquinas agrícolas para os fazendeiros locais.
Com a morte de Ben, há cerca de uma década, a viúva Jennifer, técnica de raio-X e mãe de cinco filhos, assumiu os negócios da família. Depois de concluir a faculdade, Rachel ainda trabalhou em outras empresas, mas acabou voltando para casa para ajudar a mãe. Mas ela queria inovar.
“Nós nunca tivemos nossa própria linha de produtos”, conta a empreendedora no podcast da decoradora Nicole Roe. “Um dia eu estava na minha sala de estar e pensei: ‘O que pode ser feito de metal aqui?’. Vi meus halteres no chão. Um monte de empresas fabrica halteres, o que eu poderia fazer de diferente?”
Como muita gente, ela detestava deixar os pesos à vista — de tão feios, “poluíam” a decoração. Por outro lado, se os escondia, esquecia deles. Rachel então foi para a prancheta.
Depois de uma montanha de formas rascunhadas e cálculos de ângulos e gravidade, ela chegou aos sete modelos disponíveis hoje no e-commerce da Subtle Impacts. Um dos mais engenhosos é o que pode fazer as vezes de apoiador de livros.
Como todo produto de design, os halteres da Subtle Impacts são mais caros do que os tradicionais. Com cargas entre um quilo e nove quilos, variam de cerca de US$ 80 e US$ 160 — dez vezes mais, em média, do que seus similares sem estilo. Frescura? De jeito nenhum.
Receitas maiores e retornos mais polpudos
Um estudo da McKinsey & Company é revelador do poder do design. Ao longo de cinco anos, as empresas com os melhores desempenhos de design costumam registrar um aumento de 32% nas receitas e de 56% de retorno aos acionistas em comparação a seus pares. Ou seja, a beleza faz bem aos negócios.
Para chegar a tais resultados, a consultoria americana monitorou as práticas de design de 300 companhias de capital aberto, de vários setores, em diversos países, entre 2013 e 2018. Foram avaliados cerca de dois milhões de dados financeiros e 100 mil iniciativas de design.
“Apesar dos óbvios benefícios comerciais de desenhar ótimos produtos e serviços, concretizar esse objetivo é reconhecidamente difícil — e está se tornando cada vez mais complicado”, lê-se no relatório The business value of design. “Apenas os melhores designs se destacam na multidão hoje, devido ao rápido aumento das expectativas dos consumidores, alavancadas pelo acesso instantâneo a informações e avaliações vindas de todas as partes do mundo; e as linhas não muito claras entre hardware, software e serviços. As empresas precisam, mais do que nunca, de competências de design mais robustas.”
O mesmo peso da imagem que abre esta reportagem é aqui usado como peça de decoração (Foto: subtleimpacts.com)

Um dos projetos mais engenhosos da Subtle Impacts é o peso que faz as vezes de apoiador de livro (Foto: subtleimpacts.com)

A ideia para a empresa de halteres surgiu de uma necessidade de sua fundadora: poder deixar os pesos à mostra, sem “poluir” a decoração da casa (Foto: subtleimpacts.com)

Os halteres da empresa de Iowa custam cerca de dez vezes mais do que os halteres tradicionais (Foto: subtleimpacts.com)

Rachel Steffensmeier (à esquerda) criou a Subtle Impacts depois da morte do pai para ajudar a mãe Jennifer a tocar a fábrica de soldas da família (foto: subtleimpacts.com)

Quando o primeiro iPhone foi apresentado, em 2007, muitos duvidaram que o aparelho faria sucesso, sobretudo por causa de seu preço. Hoje ele é presença garantida nas listas dos melhores designs (Foto: commons.wikimedia.org)

Lançada em 1947, a poltrona The Womb Chair, do arquiteto filandês Eero Saarinen é um exemplo do design que atravessa o tempo (Foto: knoll-int.com)
Durante muito tempo, design foi apenas sinônimo de aparência. Mas, conforme as fronteiras entre produtos e serviços caem, design é hoje também sobre experiência. Sobre como tornar o nosso cotidiano mais simples e agradável. E, se ele ainda pode ser estiloso, por que não?
Além dos halteres, a Subtle Impacts, por exemplo, oferece aos clientes um programa de treino online por US$ 97 — e isso também tem a ver com design. Mas, de serviço.
Experiência completa
“Cada vez mais, o design tem interface com áreas como a psicologia e a neurociência”, diz Carolina Raffainer, coordenadora do curso de design da ESPM, em conversa com o NeoFeed.
Ela cita o Banco Itaú, com “mais de mil designers” em seu quadro de funcionários. Uma equipe dedicada a estudar como tornar a experiência dos clientes mais completa.
Nada, porém, combina adorno visual, funcionalidade e usabilidade com tanta maestria quanto o iPhone, uma unanimidade entre os especialistas.
“Quando se fala do design do celular da Apple, não está se falando apenas de sua estética, de sua parte física”, explica a professora. “Está se falando também de como ele melhorou a vida das pessoas.”
Em 2007, ao apresentar o iPhone para o mundo, Steve Jobs resumiu assim sua invenção: “Um iPod, um telefone, um comunicador de internet”. Muitos duvidaram de que um produto com tantas funcionalidades (e, além disso, de fachada apurada) pudesse dar certo. Como a história mostrou, eles apostaram errado e smartphone de Jobs fez um tremendo sucesso, apesar de seu preço alto.
Desde então, a Apple vendeu mais de 2 bilhões de celulares e se tornou uma das empresas mais valiosas do mundo.
Há cinco anos, a revista Fortune apresentou os cem maiores designs dos tempos modernos — uma atualização da lista elaborada pela publicação em 1959. “
Os resultados mostram uma clara mudança na filosofia do design nas últimas seis décadas”, lê-se na apresentação da pesquisa.
O design evoluiu de agregação de valor para geração de valor, aponta Denis Weil, diretor do Instituto de Design da Illinois Tech e consultor do levantamento.
Na pesquisa, além do iPhone, na primeiríssima colocação, aparece também o mecanismo de busca do Google, que nos livrou da tarefa de ter de organizar o vasto acervo de informações disponíveis na internet. E o Spotify, que colocou todas as músicas já gravadas a um toque de distância. O Airbnb, a Wikipedia, a pulseira digital da Disney… estão ao lado de criações de designers clássicos presentes no primeiro rol, como Eero Saarinen e Ray e Charles Eames, com seus móveis, e Ferdinand Porsche, com seus carros.
Não será surpresa se algum modelo da Subtle Impacts aparecer nas próximas listas dos grandes designs. Halteres que, graças à sua beleza, servem como peças de decoração e, assim, incentivam a prática de exercícios físicos.
Fonte ==> NEOFEED