O setor de serviços técnicos no Brasil tem se transformado silenciosamente em um dos motores da nova economia. Alimentado pela digitalização, pela formação profissional e pela capacidade de inovar em nichos específicos, o segmento reúne hoje milhões de pequenos empreendedores e autônomos que movimentam a economia local e estão aprendendo a escalar seus negócios por meio da tecnologia.
Segundo dados do Sebrae, mais de 70% dos novos CNPJs abertos no país pertencem ao setor de serviços, e boa parte deles está ligada à prestação técnica de atividades essenciais, como manutenção, reparo e consultoria especializada. Trata-se de um movimento que revela o amadurecimento do empreendedorismo brasileiro, que deixou de se restringir às grandes corporações e passou a valorizar o conhecimento prático e a inovação aplicada.
Entre os especialistas que acompanham de perto essa evolução está o empresário Diego Lunkes, que há 17 anos atua no setor técnico e fundou um dos ecossistemas mais completos de assistência, formação e comercialização de produtos para impressoras. Para ele, o novo mercado é movido por três pilares: domínio técnico, educação e digitalização. “O pequeno negócio não é mais o fim da linha da economia, e sim o ponto de partida da inovação. Quando um profissional domina um serviço e transforma isso em método, ele cria uma cadeia de valor”, analisa.

A trajetória de Diego é representativa dessa transição. O empresário iniciou sua carreira com um pequeno serviço de recarga de cartuchos e toners. Após enfrentar quase a falência, identificou no sistema Bulk Ink, um método de alimentação contínua de tinta, uma oportunidade de inovação. A partir dessa descoberta, estruturou a PROINK, empresa que hoje integra assistência técnica, e-commerce, treinamentos online e parcerias com fabricantes. “Transformar um serviço em negócio é o primeiro passo, mas o que garante a sustentabilidade é entender que o conhecimento precisa ser multiplicado. Foi isso que criamos: um ecossistema que une produto, capacitação e comunidade”, explica.
A digitalização foi um divisor de águas para o setor. A partir de 2019, com o fortalecimento das vendas online e o crescimento do marketing de nicho, os prestadores de serviços passaram a explorar novos canais de relacionamento e monetização. A pandemia de 2020 acelerou o processo e colocou em evidência os profissionais técnicos que conseguiram adaptar-se rapidamente ao ambiente digital. “O que mudou não foi apenas o formato de venda, mas o modo de pensar. Hoje, qualquer prestador de serviço pode se tornar uma referência nacional se dominar a comunicação digital e entregar valor real”, afirma Diego.
Estudos apontam que o Brasil tem mais de 9 milhões de microempreendedores individuais, responsáveis por cerca de 30% do PIB de serviços. A tendência é que esse número continue crescendo, impulsionado pela economia digital, pela informalidade em transição e pela busca por autonomia financeira. A especialização técnica e o acesso à formação profissional são vistos como fatores-chave para esse avanço.
Para Diego, a principal mudança não está apenas no uso da tecnologia, mas na mentalidade de longo prazo. Ele destaca que o conhecimento é o ativo mais poderoso para o novo empreendedor. “O mercado valoriza quem resolve problemas com qualidade e consistência. Quando o profissional entende isso e transforma o que faz em método, nasce um negócio sólido. E a tecnologia é a ferramenta que multiplica esse resultado”, conclui.
O crescimento da economia de serviços no Brasil reforça o protagonismo do conhecimento prático e da inovação de base. De reparos domésticos a manutenção industrial, cada nicho tem revelado um novo perfil de empreendedor: técnico, digital e resiliente. É um movimento que redefine o papel dos pequenos negócios na economia e mostra que o futuro da produtividade nacional está na capacidade de transformar especialização em impacto.