Ele está no “negócios de heróis” e é fascinado pelo caos nos personagens

Ele está no "negócios de heróis" e é fascinado pelo caos nos personagens

Há mais de três décadas, o nova-iorquino Tony Gilroy está no “negócio de heróis”, como ele mesmo gosta de dizer. O roteirista ganhou peso na indústria do entretenimento nos anos 2000, ao escrever a saga cinematográfica de Jason Bourne, um agente secreto mais inclinado a usar o seu cérebro, em vez de abusar da tecnologia ou da pancadaria.

Aos 68 anos e mais de 20 créditos na bagagem (incluindo cinema e TV), Gilroy é também o criador da série Andor, que ganha a sua segunda e última temporada no próximo dia 22, na plataforma Disney+. E grande parte do impacto da produção, que expande o universo de Star Wars, se deve ao arco dramatúrgico do herói Cassian Andor: de ladrão cínico a líder da Resistência.

“Como estou no negócio de heróis há muito tempo, sei que você precisa querer ser como eles. É essencial que eles tenham algo que o público queira ter”, disse Gilroy, de Los Angeles, em encontro virtual com jornalistas, do qual o NeoFeed participou.

Para escrever o papel de Andor na série, interpretado pelo ator mexicano Diego Luna, Gilroy se inspirou no despertar de um revolucionário. O espectador acompanha aqui o período em que o personagem descobre seu propósito de vida e pelo que vale a pena lutar.

Vale lembrar que Gilroy foi um dos roteiristas do filme Rogue One: Uma História Star Wars (2016), um spin-off da epopeia espacial criada por George Lucas, no qual Andor foi apresentado. Mas aqui ele já era um dos oficiais de inteligência da Aliança Rebelde.

A ideia da série, que, assim como os filmes, também é uma produção da Lucasfilm, foi resgatar o passado de Andor. No cinema, ele se tornou uma das figuras trágicas mais queridas da franquia, ao se sacrificar, aos 26 anos, para roubar as informações sobre a arma conhecida como Estrela da Morte. Daí o personagem ganhar uma série com a sua jornada.

“Andor é quase uma figura messiânica. Na segunda temporada, você o vê relutando muito, não querendo esse destino. Mas ele acaba seguindo em frente com essa missão, ainda que o caos o acompanhe o tempo todo. No fundo, acho que somos fascinados pelo caos nos personagens. É o que os torna um pouco mágicos também”, comentou Gilroy.

O roteirista lembrou como Tony Soprano, o mafioso violento, mas, ao mesmo tempo, irremediavelmente humano, contribuiu para o grau de complexidade dos heróis de hoje. “Até então, quase todo protagonista precisava ser simpático. Depois de Tony Soprano, todo mundo percebeu que eles simplesmente precisavam ser fascinantes”, afirmou Gilroy, referindo-se ao chefe da Família Soprano (1999-2007).

Ao longo da carreira, Gilroy concorreu a dois Oscars (de melhor direção e roteiro original) por Conduta de Risco (2007), com outro protagonista pouco ortodoxo conduzindo a narrativa. Seu Michael Clayton (interpretado por George Clooney) foi um advogado de grande firma americana que trabalhava na função de “fixer”, resolvendo problemas sujos dos clientes.

“Na parede do meu escritório, tenho uma ilustração extraída da [revista] The New Yorker. São dois homens pré-históricos. Enquanto um deles desenha na parede da caverna um caçador prestes a atacar um mamute, o outro pergunta: “Você pode deixar o caçador mais simpático?”, contou Gilroy, rindo.

O mexicano Diego Luna vive Cassian Andor, “quase uma figura messiânica”, como define Gilroy (Foto: Disney+)

Gilroy foi um dos roteiristas de “Rogue One: Uma História Star Wars”. Na imagem, a atriz Felicity Jones como Jyn Erso (Foto: themoviedb.org)

Com “Conduta de Risco”, estrelado por George Clooney, Gilroy concorreu a dois Oscars: melhor roteiro e melhor direção (Foto: themoviedb.org)

Gilroy é o criador também da saga de Jason Bourne (interpretado por Matt Demon), o agente secreto mais inclinado a usar o cérebro do que abusar da tecnologia ou da pancadaria (Foto: themoviedb.org)

Além de roteirista e diretor, ele também atua como produtor na indústria. Seu último trabalho no posto foi justamente na série Andor, que consumiu cerca de US$ 650 milhões com duas temporadas, o que representa um dos orçamentos mais caros de um projeto do selo Star Wars.

E qual é o segredo para garantir que um investimento tão alto quanto o de Andor resulte em uma série de sucesso? “É nunca desperdiçar um centavo. Foi isso que nos tornou um dos programas mais eficientes da Disney+. Nossa produção é cara, mas todo o investimento que conseguimos aparece na tela. Penso ser essa a chave para trabalhar em grande escala”, respondeu Gilroy.

Outro fator para o êxito é ter precisão, fazendo com que o dinheiro seja gasto no que realmente é preciso. “Sabemos do desperdício em outras séries grandes, com refilmagens e reconstruções o tempo todo. Nós nunca fizemos nada parecido”, destacou ele.

Foi essa filosofia que permitiu a Andor ganhar uma segunda temporada. “Quando começamos a desenvolver o projeto, em 2018, só se pensava em grandes séries.

A ordem era construir tudo o que fosse preciso, fosse uma catedral ou um porta-aviões. Até porque Game of Thrones ainda estava no auge e a indústria apostava tudo no streaming”, recordou Gilroy.

Já a segunda temporada foi desenvolvida em um momento mais delicado na indústria, ao longo de 2022.

“O cenário tinha realmente mudado, com tudo encolhendo. O streaming não era aquela galinha dos ovos de ouro que todos pensavam que seria. Foi um grande desafio para nós, já que a Disney demitia muita gente naquela época”, disse. “Felizmente, a nossa postura na primeira temporada deu à Disney a confiança necessária para se arriscar conosco novamente.”





Fonte ==> ONU

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