O setor de saúde estética vive um crescimento acelerado no Brasil, impulsionado pelo aumento da demanda por procedimentos faciais e corporais, pela digitalização das clínicas e pela busca contínua do público por tratamentos que entreguem resultados rápidos, seguros e personalizados. Mas, enquanto o mercado se expande, cresce também o nível de exigência: pacientes mais informados, regras mais claras e profissionais mais preparados definem um cenário onde a qualidade técnica não é o bastante. A sustentabilidade do negócio passa, cada vez mais, pela capacidade de gestão.
Nos últimos anos, consultorias especializadas apontam que clínicas de estética e odontologia enfrentam desafios recorrentes relacionados à administração, governança, compliance, relacionamento com pacientes e qualificação de equipes. O setor, embora aquecido, apresenta alta taxa de mortalidade empresarial devido a problemas de gestão e à dificuldade de alinhar técnica, liderança e finanças.
Para especialistas do setor, é justamente esse desalinhamento que separa clínicas bem estruturadas daquelas que não sobrevivem às crises. A dentista Renata Simioni Labella, com 23 anos de experiência clínica e administrativa, explica que o setor ainda sofre com uma falsa ideia de que conhecimento técnico é suficiente para garantir resultados. Segundo ela, a sustentabilidade exige visão de longo prazo, liderança ética e construção diária de processos. Ela afirma que a clínica só cresce quando existe consistência, e consistência só existe quando técnica, gestão e humanização caminham juntas.

Renata Simioni Labella
A profissional destaca que muitos empreendedores da saúde não foram formados para lidar com temas como fluxo de caixa, planejamento estratégico, métricas, liderança de equipes e relacionamento comercial. Esse déficit se torna crítico quando a clínica entra em expansão. O crescimento rápido, especialmente em formato de franquias ou múltiplas unidades, aumenta a complexidade administrativa e exige competências que vão além da prática clínica.
Em mercados competitivos, a diferenciação passa pela construção de um modelo de atendimento baseado em confiança e transparência. O paciente atual deseja ser ouvido, compreendido e acompanhado. Ele valoriza não apenas o resultado final, mas a jornada completa. Nesse contexto, clínicas que adotam protocolos personalizados, escuta ativa e acompanhamento pós-procedimento fortalecem reputação, fidelização e recorrência de atendimento.
O aumento da procura por harmonização facial potencializou ainda mais esse movimento. A área se tornou uma das mais promissoras na estética, mas também uma das que mais exigem capacitação contínua. Para Renata, que se especializou intensivamente no campo, a formação séria é uma obrigação ética. Ela explica que a popularização dos procedimentos gerou uma corrida por cursos rápidos, mas que esse caminho coloca o paciente em risco e compromete a credibilidade da área. A profissional afirma que o mercado precisa valorizar aprendizado constante, domínio anatômico e responsabilidade técnica.
Outro ponto crítico é a gestão de equipes. Em clínicas que crescem rapidamente, o comportamento dos profissionais determina a unidade do modelo de atendimento. Equipes alinhadas com propósito, cultura e ética entregam experiências melhores e constroem relações mais sólidas com os pacientes. A falta de direcionamento, por outro lado, resulta em ruídos, queda de qualidade e desgaste da imagem do negócio.
A pandemia trouxe lições importantes para o setor. Clínicas que possuíam processos organizados, planejamento financeiro, gestão de dados e comunicação estruturada conseguiram sobreviver com mais estabilidade. O período evidenciou a importância de um modelo empresarial preparado para imprevistos e reforçou a necessidade de manter padrões altos mesmo em cenários adversos.
O futuro da saúde estética aponta para um mercado ainda mais profissionalizado. Tendências como personalização extrema, protocolos híbridos, tecnologias não invasivas e integração entre estética e bem-estar exigem empresas mais maduras, com governança clara e estratégia definida. O paciente não busca apenas um procedimento; ele busca confiança.
Para especialistas, a construção de uma carreira ou de uma clínica sólida é um processo que depende menos de fama e mais de consistência. Esse pensamento é reforçado por Renata Simioni Labella, que resume o setor de forma objetiva: sucesso em saúde estética não é sobre aparecer, é sobre entregar resultado, respeitar pessoas e manter integridade mesmo quando ninguém está olhando.
O setor caminha para uma fase em que apenas profissionais e clínicas preparados para unir técnica, gestão e humanização conseguirão competir. Em um cenário de expansão acelerada e exigência crescente, sustentabilidade será o verdadeiro diferencial competitivo.