As tarifas impostas pelo governo de Donald Trump sobre o comércio internacional não têm afetado apenas as empresas que fazem negócios com os Estados Unidos, mas também a percepção sobre as próprias companhias americanas envolvidas em exportação e importação de bens e serviços.
Em meio à escalada protecionista, investidores e credores têm reavaliado o risco de operações com exposição cross-border, diante da incerteza sobre o alcance e a duração das medidas. Esse é o caso da frente de crédito privado da gestora canadense Garrington Group, com mais de US$ 6 bilhões em financiamentos originados desde sua fundação, em 1999.
A gestora acaba de chegar ao Brasil por meio de um fundo feeder administrado pelo Daycoval. Voltado apenas a investidores institucionais, o produto irá replicar a estratégia do Garrington Private Credit, de investimento em crédito para empresas de médio porte do Canadá e, sobretudo, dos Estados Unidos. Aberto em 2015, o fundo tem US$ 200 milhões sob gestão e acumula uma performance de 10,83% ao ano, totalizando 240% no período.
Em entrevista ao NeoFeed, Toreigh Stuart, gestor do Garrington Private Credit, afirma que, diante das incertezas relacionadas às tarifas, tem evitado fazer operações com empresas voltadas ao comércio internacional. “É uma bagunça essas tarifas, como sabe-se aqui no Brasil. É um verdadeiro desastre. Estamos preocupados com isso”, diz Stuart.
A chegada da Garrington ao Brasil, segundo Start, vem para atender à crescente demanda do investidor local por estratégias de crédito nos Estados Unidos. “É um grande movimento em diversificação em dólar no país.”
No Garrington Private Credit, os empréstimos são concedidos sempre com garantia real, com foco em ativos tangíveis como imóveis, equipamentos, estoques e, principalmente, recebíveis. A gestora calcula o valor de liquidação desses ativos e empresta, em média, até 60% desse montante, sempre com prioridade no reembolso em caso de inadimplência.
Embora a garantia proporcionem uma maior segurança na operação, o gestor disse que vinha com uma menor exposição a empresas cross-border, o que atenuou potenciais perdas no momento do anúncio das tarifas globais, em abril. Ele, porém, não descarta voltar a olhar para esse tipo de companhia, especialmente se as taxas ficarem ainda mais atrativas no mercado de crédito.
“É como investir em ações. Quando o medo é maior, consegue-se os melhores preços.” Mas, afirma, é necessário ter estruturadas boas garantias, como terras, imóveis e recebíveis.
Os recebíveis são o principal instrumento da estratégia da Garrington. Segundo Stuart, esse tipo de ativo representa uma parcela relevante da carteira, por oferecer liquidez, previsibilidade e segurança. “Recebíveis são melhores que imóveis, porque têm prazo muito curto — normalmente se pagam em 45 dias”, afirma.
Apesar da segurança das garantias, há setores que Stuart prefere manter fora do portfólio, como alguns tipos de commodities e financiamentos à construção. “Se está debaixo da terra, a gente não financia – pode ser gás, minério ou petróleo, pois há risco de o ativo nunca sair do chão. O mesmo vale para projetos imobiliários em desenvolvimento. São longos demais e pode ser que nunca fiquem prontos.”
Com o primeiro fundo da Garrington sendo distribuído no Brasil, Stuart vê o país como uma oportunidade para se tornar, eventualmente, um dos líderes desse mercado entre os investidores locais.
“Tenho a chance de conquistar uma fatia relevante de mercado e me tornar um dos líderes no Brasil, no México, no Uruguai ou na Argentina. Posso ser um dos principais players. Não tenho essa oportunidade em Nova York, porque lá já existem muitos outros.”
Fonte ==> NEOFEED