“Governo impõe barreiras ao Ensino a Distância e ameaça o futuro da educação no Brasil”

EAD no Brasil
Ead no Brasil

A educação a distância (EaD) tem se consolidado como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento socioeconômico de diversas nações. Sua capacidade de transcender barreiras geográficas e temporais permite que o ensino superior alcance regiões remotas e populações que, de outra forma, estariam excluídas do acesso à educação formal. No Brasil, essa modalidade tem desempenhado um papel crucial na democratização do ensino, especialmente para indivíduos com rotinas intensas ou residentes em áreas de difícil acesso.

Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revelam um crescimento significativo da EaD no país. Entre 2009 e 2019, o número de matrículas em cursos a distância aumentou impressionantes 378,9%. Em 2019, 43,8% dos ingressantes no ensino superior optaram por cursos na modalidade EaD, evidenciando uma mudança na preferência dos estudantes brasileiros, em 2022 o EAD detinha cerca de 46% das matriculas do ensino superior no Brasil, já em 2023 alcançou 49,2% do total de matriculas. Os cursos tecnológicos representam 20,4% do total de matrículas de graduação realizadas entre 2022 e 2023, 82,4% delas em cursos EAD. Em 2023, 81% (827.285) dos ingressantes em cursos de licenciatura optaram pelo EAD.

Esse avanço não apenas amplia o acesso à educação, mas também contribui para a capacitação profissional e o desenvolvimento econômico regional. Ao permitir que moradores de áreas periféricas ou rurais obtenham qualificações superiores, a EaD promove a inserção de profissionais qualificados no mercado de trabalho local, estimulando a economia e melhorando indicadores sociais.

Contudo, apesar dos benefícios evidentes, o atual governo brasileiro tem adotado medidas que restringem o crescimento e a eficácia da educação a distância. Em 2024, o Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu que cursos de licenciatura e pedagogia devem oferecer pelo menos 50% de sua carga horária de forma presencial. Essa decisão, ainda pendente de homologação pelo Ministério da Educação, tem sido alvo de críticas por parte de especialistas e entidades educacionais.

A Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) manifestou preocupação com essas restrições. O presidente da ABED, João Mattar, alertou que tais exigências podem inviabilizar a oferta de cursos a distância, especialmente em regiões onde a infraestrutura para atividades presenciais é limitada. Mattar enfatizou que “a EaD estava ajudando muito na formação de professores no Brasil. Nós corremos um sério risco de, no futuro próximo, termos um apagão de professores”.

Além disso, a ABED destaca que a imposição de 50% de presencialidade pode resultar na extinção de cursos de licenciatura na modalidade a distância, afetando mais de 3 mil municípios brasileiros que dependem dessa forma de ensino para a formação de docentes. A entidade solicita que a resolução seja revista, argumentando que “o CNE definiu 50% de carga horária presencial sem apresentar justificativas”.

A recente Resolução CNE/CES nº 2, de 19 de dezembro de 2024, também gerou incertezas ao não esclarecer de forma objetiva o reconhecimento de títulos de pós-graduação obtidos na modalidade a distância. Essa ambiguidade pode desestimular estudantes que buscam qualificação em instituições estrangeiras, comprometendo o avanço acadêmico e científico do país.

As consequências de um país que restringe ou elimina a educação a distância são profundas. Além de limitar o acesso ao ensino superior para parcelas significativas da população, especialmente aquelas em áreas remotas ou com restrições de tempo, tais medidas podem levar a um déficit de profissionais qualificados em setores essenciais. Isso não apenas compromete o desenvolvimento econômico, mas também perpetua desigualdades sociais e regionais.

É imperativo que o governo brasileiro reavalie suas políticas em relação à EaD, reconhecendo seu papel estratégico na promoção da educação inclusiva e no fortalecimento da economia nacional. Sem uma abordagem que valorize e expanda a educação a distância, o país corre o risco de retroceder em conquistas educacionais e comprometer seu futuro desenvolvimento.

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