A inteligência artificial nos torna estúpidos? Uma pesquisa recente do MIT diz que sim. Intitulado “Seu Cérebro no ChatGPT”, o estudo concluiu que, embora a IA torne as tarefas mais fáceis, os efeitos colaterais podem ser devastadores para nossa autonomia cognitiva.
Durante quatro meses, 54 adultos foram divididos em três grupos para escrever uma série de ensaios. O primeiro usou o ChatGPT. O segundo, o Google. O terceiro, o bom e velho cérebro analógico. Para monitorar a atividade cerebral, os pesquisadores acompanharam, por eletroencefalograma, o funcionamento de 32 regiões do cérebro enquanto cada participante escrevia.
O resultado foi desconfortavelmente previsível. Os usuários do ChatGPT apresentaram o menor engajamento neural e o pior desempenho nos níveis linguístico, comportamental e cognitivo. Resumo: foram os que menos usaram o cérebro. Para piorar, o declínio intensificou-se com o tempo. Tornaram-se mais passivos, mais dependentes e mentalmente letárgicos.
O estudo foi recebido de forma apocalíptica. Reacendeu o velho temor de que a tecnologia esteja roubando aquilo que restava da consciência crítica. Mais relevante do que perguntar se a IA nos emburrece é pensar no que temos feito com a inteligência que ainda nos resta.
Se depender desse estudo, a era da estupidez talvez ainda não tenha chegado. Ao menos não se comparada ao grau de estupidez que somos capazes de alcançar naturalmente.
Lembremos quando as calculadoras surgiram. Elas nos deixaram mais burros? Depende. Quem usa para calcular 7 x 8, provavelmente. Se for para dedicar os esforços cognitivos para tarefas mais complexas, eu diria que não. Fazer divisões longas não é exatamente uma demonstração de produtividade mental.
O cálculo mais importante a ser feito não é técnico, mas existencial: o quanto a conveniência pode nos alienar. Esse cálculo nenhuma máquina pode fazer por nós —a IA não é pensamento artificial.
Pensar exige energia. Se existe uma tecnologia que nos poupa de tarefas mecânicas e libera espaço mental para elaborar melhor o pensamento, deveríamos agradecer, não demonizar. O problema é que nem sempre usamos esse espaço para colocar o cérebro para trabalhar. O essencial, no fim das contas, é o que fazemos com o tempo e a energia que a IA nos devolve.
O estudo do MIT ignora essa nuance. Foca no que foi economizado, sem considerar o que poderia ser feito com essa economia. Se uma tarefa exige menos esforço, é evidente que a carga cognitiva diminui. Foi isso que os autores registraram. Ponto.
Reduzir o uso da IA a uma erosão do esforço é ignorar sua potência, que pode ser criativa ou destrutiva. Um bom escritor com IA não vai deixar de ser brilhante. Um mau escritor com IA apenas se torna mais prolífico em sua mediocridade. Se a IA nos poupar algumas horas de trabalho mental árduo em nossas rotinas diárias, será uma bênção, não uma maldição.
Estamos diante de um divisor de águas. Talvez a maior revolução que nossa geração já viveu. A IA mudou a nossa forma de pensar, de nos relacionar e, em alguns casos, até como sentimos. O que ela nos oferece (pelo menos até aqui), não é necessariamente um rebaixamento intelectual, mas uma escolha.
O ChatGPT tem o que nós não temos. E nós, o que ele não tem. Inteligente que é, sabe nos usar com eficiência. A diferença está em como vamos usá-lo. A depender da resposta, os inteligentes ficam mais inteligentes. E os tolos, apenas mais eficientes em sua tolice.
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Fonte ==> Folha SP