Quando um acidente de trânsito esconde acusações de homicídio, quem responde?
Por que um caso de morte aparentemente acidental gera tantas dúvidas, mobiliza uma renomada advogada criminalista e ganha tanta repercussão pública? Essa é a pergunta que faço ao acompanhar casos como o de Guilherme de Carvalho Dias, um jovem que faleceu em março de 2023, inicialmente em situações descritas como um acidente de trânsito. Mas, ao analisar as evidências e me aprofundar nos detalhes, percebo que a história está longe de ser tão simples.
Como advogada especialista em Direito Penal Econômico, ao examinar os laudos oficiais e os pareceres de um perito contratado pela família de Guilherme, deparei-me com acusações robustas que apontam para a possibilidade de homicídio. Entre as evidências, encontrei perfurações no capacete e no rosto da vítima, o que sugere o uso de arma de fogo e desmonta a tese inicial de um acidente. Além disso, a cena do crime foi alterada, e as provas cruciais foram manipuladas. Diante dessas irregularidades gritantes, formalizei uma exigência ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para que o caso seja reaberto e reclassificado como um crime doloroso contra a vida.
O que está em jogo?
Para além das questões técnicas, sinto que este caso levanta debates essenciais: o direito à verdade, a imparcialidade nas investigações e a confiança no sistema de justiça. “Não se trata apenas de buscar justiça para Guilherme, mas de garantir que a sociedade não seja refém de um sistema que ignora provas e silencia famílias. A impunidade é a maior aliada do descaso.” Essa é a minha verdade”.
O que me preocupa ainda mais é o papel controverso de agentes públicos, incluindo policiais militares que estiveram na cena do crime. A manipulação de provas e a violação da cadeia de custódia comprometem não apenas esse caso, mas também a compensação das instituições que deveriam proteger a população.
Por que isso é importante para todos nós?
Entendendo que o impacto de casos como este vai muito além de uma única família. Quando as autoridades falham em garantir investigações transparentes, todo o sistema de justiça é colocado em cheque. A reabertura do caso de Guilherme não é apenas o pedido de uma família em luto – é um grito por responsabilidade e verdade.
“A sociedade não pode tolerar que crimes sejam arquivados sem a apuração devida. Este caso precisa ser levado ao Tribunal do Júri, como determina a Constituição em crimes dolosos contra a vida.” Esse é o meu posicionamento.
Que lições podemos tirar?
O pedido de reabertura do caso de Guilherme expõe fragilidades que vemos diariamente em procedimentos que deveriam ser padrão: preservação da cena do crime, cadeia de custódia das provas e independência na investigação. Além disso, mostra como a atuação de advogados comprometidos e o clamor público podem pressionar o sistema para cumprir sua função.
No fim das contas, casos como este me fazem refletir: quantos outros “acidentes” escondem tragédias maiores? Acredito que a justiça só se fortalece quando não deixa perguntas sem respostas. É por isso que, com firmeza e dedicação, insisto para que este não seja mais um caso arquivado no silêncio da impunidade.
Lorena Lima
Sou advogada especialista em Direito Penal, Penal Econômico e Compliance, além de Mestre em Criminalística pela Universidad Europea Del Atlântico. Presidente da Comissão da Jovem Advocacia Criminal da ANACRIM-RJ e Delegada de Prerrogativas da OAB-RJ, também sou empresária, palestrante, analista comportamental e sócia do escritório Lorena Lima Advocacia. Como cofundadora do Instituto Afrolux, atua na luta pelos Direitos Humanos e inclusão social, apoiando entidades sem fins lucrativos e o IDDD.