Na semana em que o conflito entre Hamas e Israel completou dois anos, finalmente veio o anúncio de acordo para o fim da guerra. Mas, no Brasil, houve ao menos uma celebração que ficou mal explicada. Passaram sem grande comoção, no jornal, as declarações e a comemoração na Apeoesp, o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, do ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023.
Uma leitora questionou: “Procurei como a Folha noticiou o ato de celebração ao atentado de 7 de outubro organizado pelo PCO e Apeoesp. Só encontrei menções em duas colunas”.
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No evento, um dos dirigentes do sindicato dos professores afirmava que o 7 de outubro é “uma data de enorme importância para ser saudada, para ser lembrada em toda a história, para ser ensinada nas nossas escolas (…) como um exemplo para a luta de todos os povos oprimidos”. Um jornalista do Metrópoles e alguns poucos sites pinçaram as declarações. Pela centralidade do sindicato na educação paulista, não parece boa a indiferença dos jornais.
A leitora aproveitou para repetir uma questão que volta e meia é feita ao jornal e ainda não tem respostas satisfatórias. “Por que se fala tão claramente em extrema direita e não em extrema esquerda? Uma é ameaça ao mundo democrático (concordo), a outra parece que não existe… Ou que é tão ‘residual’ que não ameaça… Para reflexão”, diz ela, que ressalta o contexto de “um país que debateu acaloradamente a necessidade de regular as mídias sociais para combater as fake news e o discurso de ódio”.
Talvez hoje os jornais estejam repetindo, com as franjas da esquerda, o mesmo erro que foi cometido na década passada, enquanto o movimento de direita ganhava corpo e a mídia achava que poderia ignorá-lo. Nada naquela direita era exatamente novidadeiro –exceto o ambiente de rede em que amealhava e/ou radicalizava adeptos.
Por outro lado, no próprio dia 7, o jornal dedicou apenas um de seus artigos da seção Tendências/Debates à efeméride da guerra.
O leitor Thiago Candido observou: “Raramente me incomodo com páginas editoriais do jornal, me preocupa mais o noticiário. Mas escrevo para questionar por qual motivo, no dia em que a agudização da infâmia na região do Oriente Médio completa dois anos, só temos artigo pró-Israel no Tendências/Debates. Nós leitores seriamos melhor atendidos com um artigo olhando também o lado palestino da situação. E honraria o nome do espaço”.
Ele tem razão quando afirma que a data pedia um artigo de contraponto. O jornal até havia publicado antes, mas não na efeméride.
THEATRO MUNICIPAL
Outro “efeito-borboleta” ocorreu na crise no Theatro Municipal de SP. Ela foi agravada por uma postagem sobre a morte do ativista de direita Charlie Kirk, nos EUA, feita por um funcionário da organização social que administra a casa. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, pegou carona na onda gringa de indignação contra mensagens que poderiam colocar o caráter de Kirk em dúvida e afirmou que rescindiria o contrato da OS.
Em seguida, o sindicato dos músicos do Theatro pegou outra carona e divulgou nota acusando o diretor de gestão da Fundação Theatro Municipal de conflito de interesses. Curiosamente, a nota não citava o nome do diretor, mas a Folha decidiu reproduzi-la e nomeá-lo. O problema é que faltou a parte jornalística: ouvir o acusado.
Dalmo Magno Defensor só foi procurado pelo jornal quatro dias depois da publicação original, que continua sem nenhuma menção à sua versão de que não concentra os poderes para favorecimento da OS. “Faço um questionamento óbvio: que motivo eu teria para favorecer a Sustenidos? Gratidão por ter trabalhado lá? Ora, faça-me o favor. Trabalho a favor da Fundação Theatro Municipal e, por conseguinte, do contribuinte paulistano.”
A forma de notificação de casos de contaminação por metanol parece um pouco menos sensacionalista, com foco em casos confirmados.
Nesta sexta, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública procurou a ombudsman com a preocupação de que a menção ao órgão, na coluna passada, fosse compreendida como se estudo do FBSP relacionasse a extinção do Sicobe (Sistema de Controle de Produção de Bebidas) à má qualidade da bebida.
No texto da BBC reproduzido pela Folha, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública “relata a suspensão de um sistema de controle de produção de bebidas, o Sicobe, que tornou a fiscalização ‘mais fragmentada e frágil’”.
“O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) esclarece que suas análises e estudos têm apontado para a importância de mecanismos como o Sicobe como ferramenta para recuperar perdas fiscais, enfrentar o mercado ilícito e fortalecer o combate às organizações criminosas. O FBSP reforça que não fez em suas análises qualquer vínculo entre a ausência de controle e a qualidade das bebidas, como dava a entender.”
Agradeço pelo esclarecimento. Reforço, porém, que o trecho tratava da pouca ênfase na cobertura à resposta do governo sobre a correlação, feita por várias entidades, atores e meios, inclusive do ponto de vista fiscal. Era um dos muitos aspectos confusos nessa cobertura, que melhorou mas ainda carece de ajustes.
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Fonte ==> Folha SP