As políticas agressivas de Donald Trump no comércio internacional, desde seu primeiro mandato, levantaram preocupações sobre seus potenciais efeitos econômicos — com analistas chegando a projetar um cenário de estagflação.
Mas, para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, um novo ciclo de investimentos em infraestrutura pode impulsionar o crescimento dos Estados Unidos, a despeito de eventuais equívocos do presidente americano.
“Estamos vendo uma onda de investimentos bilionários em data centers no interior dos Estados Unidos. A Stargate anunciou US$ 100 bilhões no Texas, o Elon Musk colocou US$ 30 bilhões no Tennessee, a Amazon investiu US$ 10 bilhões na Carolina do Norte e a Blackstone, US$ 20 bilhões na Pensilvânia. Esses projetos não são para seis meses — são para os próximos dez, vinte anos”, afirma em entrevista ao NeoFeed, durante do evento Avenue Connection.
Castro afirma que esse é um movimento que está apenas começando, com a construção das estruturas que suportarão a demanda por inteligência artificial que está por vir.
Na sua visão, muitas das empresas que serão as maiores do mundo do futuro sequer abriram capital. Potencial concorrente a assumir esse posto, a OpenAI já é avaliada em US$ 300 bilhões, mesmo antes do IPO. Mas, para Castro Alves, ainda é cedo para escolher os vencedores.
“Faz parte da dinâmica do capitalismo americano. No passado, se alguém tivesse que apostar, teria escolhido o eBay ou o Yahoo — e não a Amazon ou o Google. É totalmente plausível que as maiores empresas do futuro ainda estejam em estágio embrionário”, afirma ele.
Castro Alves compara o momento atual ao início da era da internet, quando a maior preocupação era a infraestrutura, como modem e rede.
“Você falava de Cisco, de Siemens. Hoje, ninguém mais fala dessas empresas. Fala da Amazon, do Google. Com a inteligência artificial, estamos exatamente nesse estágio inicial. Ainda estamos falando de chip e data center. Os usos nem começaram”, diz o estrategista-chefe da Avenue.
Nesse cenário de alta transformação tecnológica, Will Castro acredita que os investimentos e ganhos de eficiência gerados pela inteligência artificial vão sustentar a economia dos Estados Unidos por estarem liderando os avanços nessa frente.
“Talvez a IA ajude Trump da mesma forma que a internet ajudou Bill Clinton. O Clinton não criou a internet, mas estava lá quando o ciclo virou.”
Presidente dos Estados Unidos entre 1993 e 2001, Clinton se aproveitou do crescimento acelerado da economia digital que impulsionou a economia americana — com baixo desemprego e aumento da produtividade — como também contribuiu para sua reeleição em 1996.
Apesar do vento a favor de Donald Trump, o estrategista aponta riscos à economia americana relacionados aos potenciais efeitos de suas políticas na inflação. Segundo Castro, o efeito das tarifas ainda é incipiente, mas a desvalorização do dólar já tem tornado os produtos importados mais caros.
“Se a gente estivesse caminhando para uma recessão, beleza, aí a inflação viria abaixo. Mas não é o caso.”
Diante desse cenário, Castro avalia que o Federal Reserve vai esperar o mercado de trabalho dar sinais de enfraquecimento antes de recomeçar o ciclo de queda de juros.
“O núcleo da inflação tem rodado acima da meta, próximo de 3%. Mas o juro está entre 4,25% e 4,5%, que é o mais alto entre os países desenvolvidos. Espaço para cortar existe, mas acho que o Fed irá esperar para não ter que voltar a subir se a inflação acelerar novamente.”
A boa notícia para a inflação americana, segundo ele, é que o espaço para uma desvalorização adicional do dólar é menor. “Muitos gestores estavam over em euro e em outras moedas contra o dólar e ganharam dinheiro. Agora, estão voltando para o neutro. Não quer dizer que o dólar vai se recuperar, mas que talvez pare de cair.”
Fonte ==> NEOFEED