O caso Master atravessou 2025 e já projetou sua sombra sobre o ano e a campanha eleitoral de 2026. Todo o cuidado com ele, portanto, é pouco.
Desde março, os negócios na rede do Master vinham sendo acompanhados em público pelo jornalismo. A informação do que seria a compra do banco de Daniel Vorcaro pelo BRB, de Brasília, foi revelada pela coluna Lauro Jardim no jornal O Globo, no dia 28 daquele mês.
O que aconteceu nos meses seguintes foi o equivalente a um caminhão sem freio numa curva esburacada, sob chuva de granizo.
A Folha informava, naquela ocasião, que, “sob pressão política e de bancos, BC precisará decidir sobre compra do Master em até 360 dias”. Não precisou de tudo isso, e, em meio a outras discussões (Donald Trump, tarifaço, bolsonarismo, Lei Magnitsky), esse assunto virou outro furo, em setembro, dessa vez da própria Folha. O Banco Central rejeitara o negócio.
Em novembro, o Master voltou à carga com o que seria uma oferta de um grupo obscuro. Ao mesmo tempo, Vorcaro era pego pela polícia ao tentar embarcar para fora do país. Comentei aqui sobre o estranho crédito que a imprensa deu ao negócio das arábias.
O Globo assumiu a dianteira novamente quando informou que a investigação havia encontrado documentos sobre o contrato entre o Master e o escritório de advocacia da mulher e dos filhos do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Também no concorrente carioca, Malu Gaspar indicou que o contrato seria de R$ 129 milhões. Ela mesma, ainda em abril, havia revelado a existência de ligação profissional entre o Master e o escritório da mulher de Moraes. Quando publicou nota sobre uma suposta conversa entre Moraes e o presidente do BC, Gabriel Galípolo, a jornalista virou alvo de escrutínio maior do que o reservado às autoridades.
Para Marcio Tierno, leitor da Folha, “em que pese que o contrato da esposa do ministro seja muito esquisito e merecedor de toda atenção e crítica (senti falta de cópia do contrato), essa outra história do Xandão pressionando o Galípolo me parece mera incineração de reputação”.
As críticas de Tierno são razoáveis e se atêm à questão jornalística. Ele questiona se não está havendo uma “escola Base do Xandão”, em referência a um dos mais graves erros do jornalismo brasileiro. O que se viu nas redes, porém, foram sobretudo ataques baixos à jornalista, numa reedição de episódios contra outras profissionais em casos ruidosos.
Mas o leitor cobra: “Cadê as evidências? Xandão pediu? Ameaçou? Deu carteirada? Que tiro foi esse? Não tenho político de estimação e adoraria ver uma história escabrosa dessas exposta com rigor jornalístico. Mas, até agora, só areia nos olhos”.
Sobre essas questões, o jornalista Pedro Doria propôs uma discussão interessante no Instagram. “A prova existe para a necessidade de condenação. Não é isso que o jornalismo faz. Tem conversas que estão acontecendo entre parlamentares, entre juízes, entre procuradores, que nunca chegam à sociedade. E muitas dessas conversas são de interesse público.”
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Doria cita o caso Watergate para mostrar que, “se esses critérios de ‘tem que provar desde o início’ fossem trazidos, Nixon teria terminado a presidência dele, e a história de investigação mais famosa do jornalismo profissional não teria existido”.
Ele pondera que isso não quer dizer que um jornalista pode publicar qualquer coisa. “A gente vive da nossa credibilidade.” Mas também lembra: “É um sinal de alerta se você acredita com facilidade quando é denúncia contra o outro lado e tende a denunciar como mau jornalismo quando a notícia é do seu lado”.
A CONTA DAS MENSAGENS DO ANO
Desde 1º de janeiro de 2025 e até a última segunda (22), houve 2.780 manifestações de leitores dirigidas à ombudsman pelo email ombudsman@grupofolha.com.br. Dessas, 455 mensagens eram relacionadas a assinaturas (entrega, cancelamento, atendimento e acesso). Houve um pequeno aumento no número de mensagens totais em relação ao ano passado (2.743) e diminuição nas notificações de problemas com assinatura (543 em 2024).
Fora o pelotão das assinaturas, os principais temas das mensagens deste ano foram as colunas da ombudsman, moderação de comentários e guerra Israel-Hamas.
O percentual de homens e mulheres fica em 83% e 17%, respectivamente, padrão semelhante ao de levantamentos passados. Um dado interessante é que, em janeiro, as mulheres estiveram mais presentes, proporcionalmente, com 23% do total.
No site, a coluna havia recebido 3.531 comentários até o sábado (27). O campeão foi um texto de março sobre os próprios comentários (“A Folha deveria fechar a seção de comentários?“, 15.mar), com 288 feitos e 271 publicados. A diferença se deve à moderação, justamente um dos principais pontos das críticas dos assinantes.
Em seguida, veio “O que o jornal fala quando fala em editorial“, de 9 de agosto, com 222 comentários feitos e 211 publicados, e “Folha reconhece problemas nos comentários e testa IA na moderação” –neste caso, foram 216 comentários feitos e todos eles publicados!
Esta coluna faz uma pausa e volta em 18 de janeiro. Agradeço a leitores, missivistas e comentaristas pela colaboração ao longo do ano e desejo a todos um 2026 “com saúde, porque paz em ano de eleição não vai rolar”, como bem observou o grande Carvall, autor das ilustrações deste espaço.
Fonte ==> Folha SP

