Mercado pet de alta complexidade: como especialidades veterinárias estão redefinindo padrões de atendimento

O mercado pet brasileiro vive uma mudança estrutural. Antes dominado por consultas gerais e atendimentos de rotina, o setor caminha para um modelo cada vez mais especializado, impulsionado por um cenário de tutores mais exigentes, avanços tecnológicos e aumento da longevidade dos animais.

Especialidades como nefrologia, cardiologia e oncologia, antes restritas a grandes centros de referência, agora começam a ganhar espaço em clínicas e hospitais de médio porte, transformando o padrão de cuidado oferecido aos animais de companhia.

Em 2024, o setor pet no Brasil movimentou mais de R$ 75 bilhões e já figura como o terceiro maior mercado do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China. Parte desse crescimento vem do segmento de saúde, que responde por uma fatia cada vez mais relevante da receita de clínicas veterinárias. Com uma população estimada entre 150 e 160 milhões de pets — sendo mais de 27 milhões de gatos — e um número crescente de animais idosos, a demanda por serviços especializados é uma consequência natural.

Segundo a médica-veterinária Gloria Magalhães Rodrigues Ramos, especialista em nefrologia e urologia de pequenos animais, a mudança de perfil dos pacientes exige um salto na qualificação técnica e na infraestrutura das clínicas. “Hoje, é comum receber casos que, há alguns anos, seriam considerados complexos demais para atendimento fora de um hospital veterinário de grande porte. O tutor quer e espera que seu veterinário tenha acesso a protocolos, exames e tecnologias de ponta, mesmo em cidades menores”, explica.

A especialização também acompanha uma evolução na mentalidade dos tutores, que passaram a ver o investimento em saúde preventiva como parte essencial da relação com seus animais. Exames laboratoriais de alta precisão, imagem avançada e marcadores específicos — como a SDMA para avaliação precoce da função renal — permitem detectar doenças em estágios iniciais, aumentando as chances de tratamento eficaz e reduzindo custos de longo prazo.

Gloria Magalhães

Para Gloria, a tendência é que o mercado continue a expandir seu portfólio de serviços de alta complexidade. “Assim como na medicina humana, a medicina veterinária caminha para o cuidado integral, com equipes multidisciplinares e protocolos individualizados. Isso é o que vai diferenciar as clínicas que prosperam das que ficam no básico”, afirma.

A consolidação das especialidades veterinárias no Brasil abre novas oportunidades para profissionais e empreendedores do setor, mas também impõe desafios: a necessidade de atualização constante, investimento em equipamentos e parcerias estratégicas com laboratórios e centros de referência. No ritmo atual, a alta complexidade está deixando de ser diferencial para se tornar um padrão de mercado — e quem se posicionar cedo nesse cenário terá vantagem competitiva.

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