A trama girará em torno de duas cantoras mulheres em busca do sucesso e na luta contra o machismo do meio. Dez anos depois de o tal feminejo aparecer no cenário musical, o tema parece ter sensibilizado a emissora carioca.
Segundo a coluna de Gabriel Vaquer, a ideia das autoras Izabel de Oliveira e Maria Helena Nascimento foi explorar na ficção situações que se tornaram públicas. As escritoras tiveram assessoria da dupla Maiara e Maraísa e de Lauana Prado para se inspirarem na escrita.
Mas a trama não parece nova. Trata-se de algo parecido com a mediana série “Rensga Hits”, lançada pelo Globoplay em 2022 e já na terceira temporada.
A pauta da luta contra o machismo é a lente preferencial da emissora carioca em várias produções. Mas há outros temas que poderiam ser mais interessantes e que poderiam ser trabalhados pela dramaturgia sobre a música sertaneja.
Um dos temas quase nunca abordados em produções sobre o mundo sertanejo é a vaidade e as disputas internas das duplas. Ao longo da história da música sertaneja tivemos vários casos de separações cheias de rancor e mágoas, mas que quase nunca entram nas histórias oficiais dos artistas.
No próprio feminejo, a disputa e a vaidade ególatra também são comuns. Em 2022, depois de anos de ego inflado e surtos nos quais Simaria diminuía publicamente a irmã Simone, elas se separaram.
Luciano já chorou em público e exigiu a separação do irmão Zezé em 2011, em pleno palco num show em Curitiba, surpreendendo a todos. “Realmente está impossível para mim”, disse o segunda voz na época. A operação abafa foi eficaz e Luciano desistiu de abandonar a dupla.
Chrystian e Ralf, Milionário e José Rico, Edson e Hudson, Rick e Renner, Victor e Leo, Gian e Giovani, Bruno e Marrone, João Mineiro e Marciano são casos de duplas que também se separaram depois de anos de estrada. Em todos eles as explicações para as separações passavam pelo argumento das tais “diferenças incompatíveis” a mera “briga de irmãos”. Mas, nos bastidores, era sabido que os egos avantajados tornavam impossível a convivência.
A maior parte destas duplas voltou depois que a “operação abafa” foi eficaz e a perda de dinheiro com shows cancelados suavizavam as arestas. Mas há casos em que não houve reconciliações. Quando Chrystian morreu, ele estava há quatro anos sem falar com o irmão Ralf. João Mineiro e Marciano se separaram em 1993 para nunca mais trocarem uma palavra sequer até a morte de João em 2012.
O ego dos artistas, embalado pelo sucesso e dinheiro, ganha cores na música sertaneja que em outros gêneros não têm. Até o advento do sertanejo universitário nos anos 2000, era quase obrigatório formar uma dupla para almejar o sucesso. Essa tensão entre a carreira a dois e o crescente individualismo do mundo atual traz conflitos ao mundo sertanejo que ainda não foram abordadas nas dramaturgias atuais. E no caso de irmãos, há o complicador família, que catalisa mágoas e ranços freudianos dos artistas.
Uma dupla sertaneja é um casamento entre amigos ou irmãos. E ainda há o caso de artistas que tornaram-se marido e mulher, como Cascatinha e Inhana e Maria Cecília e Rodolfo. As dificuldades da relação a dois poderiam proporcionar um roteiro melhor do que as já manjadas pautas identitárias que hegemonizam a produção audiovisual atual.
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Fonte ==> Folha SP