As marcas dos quadros recém-tirados das paredes estão por toda a parte no luxuoso apartamento localizado em um dos endereços mais exclusivos de São Paulo. “Eu morava numa galeria de arte“, diz Dani Fagundes, 39, a dona do duplex, que começa a ganhar nova decoração à imagem e semelhança da sua proprietária.
Até o final do ano passado, a ex-corretora de imóveis dividia o espaço com o banqueiro Roberto Setubal, copresidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco.
A separação foi anunciada pela própria Dani em um vídeo postado no Instagram às vésperas do Natal, em 23 de dezembro.
“Meu casamento com Roberto chegou ao fim. Decidimos seguir caminhos diferentes, mas fica uma relação de carinho e respeito. Até mesmo porque temos a nossa filha. Que agora mais do que nunca é a nossa prioridade.”
O divórcio amigável se deu em tempo recorde. “Saiu em cinco dias. Até a advogada que tem 30 anos de experiência falou que foi o mais rápido que ela já viu.”
Para falar dessa nova fase, em que afirma já ter “recalculado a rota”, Dani recebeu a Folha para uma entrevista sobre a continuidade do negócio que abriu em sociedade com o ex-marido, a D-Gaia, uma marca de moda voltada para consumidoras de luxo.
Para posar para as fotos, ela escolheu um modelito em brocado animal print da própria marca, assinado pelo estilista Eduardo Pombal, e joias em diamante e topázio amarelo para compor o look tigresa.
Em 20 de março, a grife lança a coleção de inverno que marca a nova fase sob administração exclusiva de Dani, com a saída do ex-marido, que detinha 99% do negócio. “Ele saiu da sociedade. Agora a D-Gaia é 100% minha”, explica.
A marca tem o D de Daniela e o Gaia, que significa mãe-natureza, e é também o nome da cacatua branca, pet da fase senhora Setubal, que se juntou à cadelinha Aisha, que a acompanha há dez anos.
Com 85 funcionários e direção criativa de Pombal, contratado em agosto de 2023, a D-Gaia tem 27 pontos de venda e uma loja própria na Haddock Lobo, no valorizado quadrilátero da moda dos Jardins.
Com a mentoria de luxo do ex-marido, Dani anuncia orgulhosa que a D-Gaia cresceu 253% no último ano. “Como sou muito de estratégias e de números, eu quero botar todas as ideias que tenho em prática para fazê-la crescer mais ainda”, diz a empresária e influencer, que se define como “a cara da marca”.
Ela cita como contribuição pessoal as araras móveis, revestidas de plástico como um mini-armário, que são enviadas para as casas das clientes, em substituição a malas e sacolas.
“As roupas chegavam amassadas. Agora vão penduradas”, conta Dani, orgulhosa da inovação. No começo, as peças eram transportadas até a casa das clientes a bordo da Corujinha, uma Kombi verde com faróis em forma de cílios, mascote da marca.
“Ela está velhinha, quebrava toda hora”, relata a dona. A Kombi foi aposentada das entregas e vai ganhar um lugar especial nos jardins da flagship da grife, a ser inaugurada até o final do ano.
A loja conceito vai funcionar em um ponto da antiga Tânia Bulhões na rua Colômbia, no Jardim América. O espaço de 1.500 metros quadrados é três vezes maior que o atual.
O negócio nasceu do desejo de Dani continuar trabalhando, mesmo com o novo status de “mulher de banqueiro”. “A única certeza que eu tinha era de que não nasci para ser madame.”
Na empreitada para estruturar a D-Gaia, a ex-corretora de imóveis de luxo contou com a parceria e expertise de Pombal, nome conceituado no mundo fashion, com passagens por grifes como Animale e Tufi Duek.
“A gente descobriu que para a coisa se pagar, era preciso ir para o atacado. O custo para fabricar 10 é igualzinho ao de fabricar 100”, explica Pombal. A marca saiu de um patamar de 2.000 para 6.000 peças anuais, a um tíquete médio de R$ 1.200.
O patrão dava as metas e a patroa injetava sua energia no negócio, explica o diretor criativo. “Ela é uma pessoa maximalista em todos os sentidos”, define o designer, que abraçou os brocados, marca registrada da D-Gaia. “Dani tem um fornecedor que traz os tecidos. Ela olha e vai comprando cortes e eu escolho o que quero usar na coleção.”
O estilo “maximalista sofisticado” da marca combina com o astral que a proprietária quer imprimir no seu lar repaginado.
A começar pelo sofá vintage, recoberto de veludo violeta, que substituiu o modelo bege que reinava na sala do piso superior do apartamento que agora ela divide com os dois filhos: Tarek, 16, e Manu, de 1 ano e 3 meses, fruto do segundo casamento.
Em fase de redecorar os ambientes, saíram de cena os muitos Volpi, Portinari, Anish Kapoor, Brecherets, Maria Martins, Andy Wharol e Adriana Varejão, do acervo pessoal do ex-marido.
Para compor o ambiente com o novo sofá roxo, ela escolheu uma peça do artista Jean Araújo, em acrílico sobre cartão, no estilo Op Art.
Dani mostrou a aquisição em um story no Instagram. Ela anuncia que em breve vai voltar a postar os vídeos alegres, nos quais costumava saudar os 127 mil seguidores com a música Na Fazendinha. “Bom dia, o sol já nasceu lá na fazendinha/ Acorda o bezerro e a vaquinha/ Que já cocoricou dona Galinha.”
O sol ainda não voltou a brilhar em sua intensidade máxima para a dona do perfil @danifagun. “A força se consegue com fracassos e não com sucesso”, escreve ela na identificação na rede social, parafraseando Coco Chanel.
A seguir, os principais trechos da primeira entrevista que a empresária concede desde que retirou o sobrenome de casada.
“Eu estava Setubal, não sou Setubal”, faz questão de frisar, ao falar sobre o comentado fim do relacionamento com um dos homens mais ricos do país. Ela fala ainda sobre o seu estilo “esfuziante e autêntico” que atrai tanto elogios quanto haters, ao postar sua rotina de neobilionária.
ORIGEM SIMPLES
Sou natural de Abaeté, bem interiorzão de Minas. Vim para São Paulo em 2004, com 18 anos. Saí de lá pra trabalhar, estudar. Acabou que não estudei e fui percorrendo o meu caminho. Inicialmente, eu trabalhei em lojas, perfumarias, em shopping.
Desde 2010, eu trabalhava no mercado imobiliário. Foi assim que eu conheci meu ex-companheiro. Até hoje eu brinco que acho mais fácil vender apartamento do que roupa.
Consegui fazer carreira no mercado de alto padrão e construir um patrimônio. Sou visionária, me considero uma pessoa à frente do meu tempo em todos os sentidos. Sou vibrante, intensa, positiva, enérgica.
TRABALHAR SEMPRE
Depois de um ano e meio de casada, a minha vida começou a ficar pacata. O meu dia a dia não estava sendo preenchido. Tenho um lado meu pulsante, que é de fazer alguma coisa pelo outro. Eu falava pro meu ex-marido: ‘Ah, eu quero fazer alguma coisa que mexa comigo’.
Pensei em ter um asilo [para idosos], depois um abrigo para animais doentes ou que foram abandonados, tipo Luisa Mell. Cheguei a olhar uns sítios no interior. As ideias foram mudando.
A minha única certeza era a de que eu não queria ser uma madame e ficar dentro de casa procurando pelo em ovo. Não queria me aposentar com 36 anos.
EMPRESÁRIA DE MODA
Foi assim que iniciei a D-Gaia. Sou uma pessoa que gosta de ter admiração por mim mesma. Tenho que estar produzindo, conquistando. Ter o meu próprio negócio.
Comprei um ponto na Haddock Lobo. E agora? Minha ideia inicial ia ser um salão de beleza com uma lojinha no fundo. Fui no Bom Retiro, comecei a comprar as roupas, de forma despretensiosa. Eu era muito ingênua. As pessoas falavam: ‘Você vai vender roupa do Bom Retiro nesse ponto? Não combina’.
Então, abri um ateliê em um escritório na Faria Lima, com 10 funcionários, duas costureiras, um estilista e a modelista.
PROFISSIONALIZAÇÃO
A D-Gaia foi inaugurada em 2022. O DNA da marca hoje tá bem consolidado, mas foi um long way [caminho longo].
A loja por si já sai totalmente dos padrões. É maximalista, com muitas texturas, cores. Aquele bagunção todo lá, que ninguém entende nada. Sou esse bagunção. Calmaria não faz parte do meu dia a dia!
A D-Gaia tem o antes do Edu e o pós-Edu [Eduardo Pombal]. Com a minha inexperiência, estava muito desorganizada a casa.
Hoje, os números falam por si. O Roberto, com visão empresarial, usou a expertise dele em alguns pontos onde ele via que dava certo e chegamos até aqui.
É um bom negócio. Não é um hobby. Tá praticamente no “breakeven” (ponto de equilíbrio), se pagando. Precisa de um aporte aqui outro ali. Vou continuar fazendo os investimentos necessários.
Meu principal papel é ser a cara da marca. Para estar no Instagram botando a cara, tem que vender algum produto.
CASAMENTO
Meu casamento foi uma mudança de mundos. Eu venho do mundo muito simples, do qual eu me orgulho. Depois veio esse segundo mundo, onde eu tive acesso a muitas coisas. A única diferença é a posição social. Não vamos ser hipócritas: ter dinheiro é poder ter acesso a coisas e lugares que antes eu não tinha.
Nunca tive um acesso a arte, por exemplo. Meu ex-marido era um colecionador. Eu morava dentro de uma galeria. Uma pessoa desse nível social no máximo tem, 5, 6 obras de arte em casa. Na nossa, eram mais de 300.
Ter dinheiro é muito bom, sobretudo, por dois fatores. O primeiro é você poder estar em um hospital bom, não ter que ficar numa fila do SUS.
E o segundo é poder ajudar quem você ama. Não é sobre viagens, não é sobre joias, não é sobre obras de arte.
Claro, não vou mentir, que eu gosto de morar numa cobertura na frente do Jockey, mas ter dinheiro não é sobre isso. Não adianta nada você ter tanto dinheiro sozinho. Trouxe minha família. Minha mãe trabalha comigo, meu irmão trabalha comigo, a minha amiga de infância trabalha comigo. Ajudei todas as pessoas que me rodeavam.
Mas a maior realização do nosso matrimônio é a nossa filha. Não foram as viagens nem nada material.
SEPARAÇÃO
Tem dois meses que eu me separei. Nada entrou nos trilhos ainda. Eu tô fazendo três obras. No meu apartamento, num sítio que eu comprei e na nova loja. Eu tô com a cabeça ainda a mil, ajustando os ponteiros da minha vida.
Uma separação nunca é fácil pra ninguém. Foi tudo muito abrupto. Imagina que da noite para o dia eu acordo separada. Meu divórcio saiu em cinco dias. Até a advogada que tem 30 anos de experiência falou assim que foi o mais rápido que ela já viu.
Nós tínhamos muitas coisas atreladas. Tinha a D-Gaia, o haras que a gente estava construindo a todo vapor e que ia ficar pronto agora.
SOBRENOME SETUBAL
Eu entrei pela porta da frente e saí pela porta da frente. Fui muito bem acolhida pela família do meu antigo companheiro. Acho que essa amizade vai ficar.
Eu me considero muito adaptável. Gosto de viver intensamente, independentemente se eu sou Setubal, Fagundes ou Silva. Não é o sobrenome que faz a gente. Quis tirar o sobrenome, porque eu não sou Setubal, eu estava Setubal.
Agora posso ser eu mesma. Tem uma liberdade maior. Enquanto estávamos casados, o que ele mais prezava e me apoiava era minha autenticidade. Isso nunca foi um problema na nossa relação.
O Roberto é um homem muito generoso. Fui o quarto casamento dele. Ele sempre deixou as ex-esposas super bem. O padrão de vida que eu tinha com ele vai continuar. Até porque a gente tem uma filha.
RECOMEÇO
Eu me vejo como uma fênix. Eu falo brincando que se eu fosse um homem, eu casava comigo. A minha admiração por mim mesma é muito grande. Eu me considero uma mulher muito forte.
Continuo no mesmo apartamento. A mudança foi a saída de coisas que pertenciam ao meu companheiro. Não faz sentido mais ter uma adega daquele tamanho. O espaço vai virar um escritório.
Estou comprando tapetes objetos, livros, quadros, mobiliário. Quero deixar a casa com a minha cara.
A reforma no sítio leva alguns meses. Em breve teremos uma nova fazendinha, com vídeos alegres dessa nova vida.
REPERCUSSÃO
O fim do meu casamento foi atrelado à saída de dois profissionais de alto nível lá do banco. Embolou tudo isso, mas não tem nada a ver. Eu nunca falei o nome do banco na minha rede social.
Eu sinto que fui muito mal vista. E não só agora, mas desde quando assumi o relacionamento. Era um preconceito que eu vivia dia a dia. Os olhares, as críticas, os burburinhos.
Não me importa como as pessoas me veem ou tiram as suas conclusões sobre mim. O que importa é que eu sei quem sou. Tenho minhas qualidades e os meus defeitos. Tem pessoas que vão me amar, tem pessoas que vão me odiar.
Na separação, senti uma corrente bem forte feminina. Tem também comentários indevidos. Mas isso nunca me incomodou. Passei muitas dificuldades na minha vida. Sempre precisei encarar tudo de frente mesmo. Não vai ser uma Maria ali da esquina que fala alguma coisa na minha foto que irá me abalar.
Não gosto de me vitimizar. A minha separação foi bem resolvida. Recomeçar é difícil em todos os aspectos. Te faz sair da zona do conforto E isso gera sofrimento.
Já recalculei a rota. Quero que a D-Gaia cresça cada vez mais. Já vinha nessa crescente profissional. Pessoalmente, tenho dois filhos maravilhosos. Só tenho de agradecer e ser feliz. Quero curtir meu sítio, meus bichinhos, minhas fazendinhas. E ter saúde. Não sou muito ambiciosa, não.
Fonte ==> Folha SP