No Porto de Santos, a corrida frenética para embarque de produtos rumo aos EUA

No Porto de Santos, a corrida frenética para embarque de produtos rumo aos EUA

A preocupação com a proximidade do início do tarifaço do presidente americano Donald Trump aos produtos brasileiros chegou de fato ao maior terminal portuário da América Latina, acelerando o ritmo de trabalho entre os terminais.

Desde que a Casa Branca anunciou a taxa de exportação de 50% para o Brasil, em 9 de julho, o volume de embarques de contêineres com proteína animal, especialmente carne bovina, aumentou 96% no Porto de Santos.

Levando-se também em consideração a semana seguinte à carta anunciada por Trump, o embarque de café do cais santista cresceu 17%. No caso de celulose, que não teve embarque na semana anterior ao tarifaço, o volume de saída registrada foi de 50 mil toneladas desde 9 de julho. O movimento de caminhões também cresceu 70%.

O temor real entre os empresários é que a cobrança comece a ser aplicada a partir de 1º de agosto, prazo estabelecido por Trump, caso não haja nenhum adiamento ou início de negociação comercial com o governo brasileiro.

“Esta movimentação dos exportadores indica preocupação com o que pode vir a acontecer e com os possíveis reflexos na economia, como desaquecimento e até desemprego, em consequência da queda nas vendas para os Estados Unidos”, diz Anderson Pomini, presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS), gestora do terminal santista, em entrevista ao NeoFeed.

Ainda assim, segundo ele, executivos de empresas têm compartilhado que ainda nutrem esperança de que a força-tarefa formada pelo governo federal, e liderada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércios e Serviços (MDIC) Geraldo Alckmin, tenha efeito prático.

Durante a semana, Pomini esteve em Brasília para participar de reuniões com Alckmin e com o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa, para levar a perspectiva do reflexo da tarifa americana sobre o setor portuário brasileiro.

“Senti em Brasília grande disposição do governo federal em defender a soberania do Brasil e, também, em dialogar com nossos clientes americanos, além do próprio governo dos Estados Unidos”, afirma o presidente da APS.

De qualquer forma, segundo Pomini, o Porto de Santos está pronto para absorver esse crescimento repentino do volume, caso esse ritmo siga firme pelo menos até o fim de julho, sem que isso afete o trabalho dos terminais.

“O porto está preparado para este aumento, tanto que vem apresentando um crescimento médio anual de 10%, levando-se em conta todas as cargas, já que atende todos os setores produtivos”, diz Pomini.

Anderson Pomini, presidente da Autoridade Portuária de Santos

Até para absorver essa alta, o presidente da APS diz que está em curso o volume de investimentos de R$ 12,5 bilhões em infraestrutura por parte do governo federal, incluindo a construção do túnel Santos-Guarujá, que custará R$ 6,8 bilhões, divididos entre União e governo de São Paulo.

A preocupação para despachar a carga o mais rápido possível e fugir de um possível início de cobrança de taxa estava justamente no prazo curto para que os navios possam atravessar o Oceano Atlântico e atracar em algum porto americano.

Para desembarcar no Porto de Houston, no Texas, por exemplo, a demora gira em média de 20 dias, de acordo com questões climáticas e se a embarcação não fará paradas. No caso de Miami, são 14 dias, e para o porto de Nova York, 18 dias.

Dentre os países que recebem exportações vindas de Santos e que enviam produtos para o Brasil, a China lidera, com 47,1% do movimento do porto. Na segunda posição, os Estados Unidos têm menos da metade do volume chinês e são responsáveis por 22,2% das trocas comerciais. Alemanha está em terceiro, com 8%, à frente de Índia (5,3%) e Japão (5%).

Entre os produtos que o Brasil mais vende para o mercado americano via Porto de Santos estão petróleo bruto, produtos semimanufaturados de aço e ferro, carga bovina congelada. Do total que sai de Santos, 52% são produtos ligados ao agronegócio.

Segundo apurou o NeoFeed, não há carga parada nos terminais privados que fazem transporte de contêineres em Santos. Entre as companhias que atuam no porto estão Santos Brasil, BTP, DP World e Ecoporto.

O Porto de Santos, que representa 30% da movimentação da balança comercial brasileira, registrou volume recorde 179,8 milhões de toneladas em 2024 (131,1 milhões de embarques e 48,5 milhões de desembarques), alta de 3,8% sobre o ano anterior. O volume de contêineres cresceu 14,7%.

A APS reportou uma receita líquida operacional de R$ 1,64 bilhão, alta de 5,5%. O lucro líquido alcançou R$ 884,6 milhões, crescimento de 29,8%.

“Santos é a principal janela de conexão com o mundo, com acesso a 200 países e 600 destinos. Isso releva o termômetro do impacto da efetivação dessa tarifa. Mas a gente está fazendo a nossa parte”, afirma Pomini.

Para 2025, a perspectiva é de movimentar 188 milhões de toneladas de cargas. O recorde até aqui é maio, com 16,6 milhões de toneladas. Em contêineres, foram movimentados no primeiro trimestre 1,3 milhão de TEUs (unidade de medida de contêineres, equivalente a 20 pés), 7% acima do que o mesmo período do ano anterior.



Fonte ==> NEOFEED

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