No roncado da sanfona, animou arraiais e celebrou a fé – 13/07/2025 – Cotidiano

No roncado da sanfona, animou arraiais e celebrou a fé - 13/07/2025 - Cotidiano

Aos 12 anos, Wanderley aprendeu sozinho a tocar sanfona. O menino aproveitava quando o pai, o sanfoneiro José Belarmino, guardava o instrumento em casa e ia cuidar da roça. Era o momento em que ele, escondido, tirava os primeiros acordes.

Um dia foi pego em flagrante e recebeu um desafio: se tocasse corretamente não teria problema, mas levaria uma surra caso desafinasse. O garoto colocou a sanfona no colo e surpreendeu ao manusear o instrumento. Daquele dia em diante, recebeu autorização para tocar e tomou gosto pela música.

Começou a acompanhar o pai nos bailes de casamento e aniversários de povoados pela redondeza. Ajudava a animar as noitadas e corridas de argolinha.

Wanderley José da Silva nasceu em 1974, na fazenda Baraúna, à época no município de Senhor do Bonfim (BA), hoje parte de Andorinha (BA). Foi criado junto aos cinco irmãos na lida da roça, trabalhava na enxada ajudando a capinar e catar feijão, milho e mamona.

Mudou-se para Juazeiro (BA), em 1996, onde iniciou a carreira profissional e passou a usar o nome Wanderley do Nordeste. Ao longo de três décadas, gravou oito álbuns.

O sanfoneiro ficou conhecido na região pelo seu carisma. Estava sempre de sorriso no rosto, por isso chamavam-no de risadinha nas rádios em que ia tocar.

“Quando ele estava no palco, transmitia aquela sensação de alegria. Ele tinha uma energia muito boa. Quando pegava a sanfona, ninguém ficava parado, o povo balançava mesmo”, afirma o irmão Evanildo Belarmino da Silva, 47, que fazia parte de sua banda.

O parceiro musical também revela como era Wanderley nos bastidores. Ensaiava bastante, algumas vezes dedicava um dia inteiro para treinar uma única canção, tanto que chegava a incomodar os vizinhos. “Gostava das coisas bem-feitas.”

Wanderley, que sempre foi católico, apegou-se à fé quando descobriu um câncer no intestino, em 2016, e fez uma promessa para se curar. Após cirurgia e algumas sessões de quimioterapia, alcançou a graça pedida. Desde então, trocou os forrós por igrejas. Passou a se dedicar à música religiosa e cada vez menos cantava em festas “do mundo”.

O músico também dedicava-se a projetos sociais. Foi parceiro de unidades de saúde do Vale do São Francisco, como o Hospital Dom Tomás (HDT), referência no tratamento contra o câncer na região.

Morreu no dia 16 de maio, aos 52 anos, de insuficiência renal.

Deixa dois filhos, Jamerson e Geisa, e dois netos, além dos pais, José Belarmino e Maria Lúcia.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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Fonte ==> Folha SP

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