Neste 2025, quando se completam quatro décadas de redemocratização, uma pergunta surge vez ou outra entre aqueles que se preocupam com o país: o Brasil melhorou de 1985 para cá?
Naqueles anos, a inflação era um suplício para os brasileiros, especialmente os mais pobres. Em 1985, ultrapassou 230%; no ano passado, foi de 4,8%.
Há 40 anos, a taxa de mortalidade infantil foi de 67 óbitos de crianças menores de 1 ano para cada mil nascidas vivas. Esse índice caiu para 13 em 2020, ainda um número expressivo, considerando que o Chile, por exemplo, registrou 6,2 nesse mesmo ano. Mas o avanço é incontestável.
Essa taxa é um dos resultados do SUS, concebido na Constituição de 1988. Não são poucas, evidentemente, suas limitações, mas esse sistema de saúde funciona melhor que o modelo anterior, fragmentado e ineficaz.
Em meados da década de 1980, os analfabetos representavam mais de 20% da população com 15 anos ou mais. No ano passado, 5%. Aqueles eram anos em que brancos bem-nascidos, fossem alunos ou professores, dominavam as universidades. Hoje, graças às ações afirmativas, a paisagem é bem mais diversa. Dá para melhorar? Claro que sim, mas vamos reconhecer os passos dados.
Houve retrocessos desde então. A precariedade da segurança pública, um fracasso de todos os matizes ideológicos, é provavelmente o principal malogro desta Nova República. O balanço geral, porém, é positivo.
A memória de um passado sempre mais reconfortante é uma armadilha em que adoramos cair. Por essa nostalgia ou uma viralatice renitente, hesitamos antes de dizer o óbvio: há muito para progredir, mas o Brasil melhorou substancialmente nestes 40 anos.
Ter isso em mente em nada ajuda se o efeito for criar Polianas. Otimismo inócuo é um desserviço para a cidadania. Mas pode ser útil lembrar onde e como acertamos para, a partir daí, ampliar as conquistas da redemocratização.
Fonte ==> Folha SP