O setor de fitness e bem-estar atravessa uma transformação profunda. Antes impulsionado quase exclusivamente pela busca estética, o mercado agora vê crescer a demanda por programas que priorizam autoaceitação, saúde integral e resultados sustentáveis.
Esse reposicionamento está criando novas oportunidades para academias, estúdios, plataformas digitais e profissionais especializados — e movimentando cifras bilionárias no mundo todo.
De acordo com o Global Wellness Institute, o mercado global de bem-estar já ultrapassa US$ 5,6 trilhões e deve crescer 8,6% ao ano até 2027. Dentro desse universo, o segmento de fitness e atividade física representa mais de US$ 1,1 trilhão, com uma tendência clara: a integração de serviços que cuidam não apenas do corpo, mas também da mente e do comportamento.
Essa mudança acompanha um movimento social mais amplo. Pesquisas da Dove Self-Esteem Project apontam que 8 em cada 10 mulheres já se sentiram pressionadas a atingir padrões de beleza irreais, e 70% consideram que isso afeta diretamente sua saúde mental. No Brasil, onde o culto ao corpo sempre foi um traço cultural, cresce o número de consumidores que buscam treinos e orientações nutricionais alinhados à saúde emocional e à construção de hábitos consistentes.
Para Jessyka Fernanda dos Santos, biomédica, personal trainer e coach de nutrição certificada pela National Academy of Sports Medicine (NASM), essa mudança representa uma oportunidade para reposicionar modelos de negócio no setor.
“O consumidor está mais consciente e não quer soluções rápidas que se percam em semanas. Ele busca um acompanhamento que una ciência, estratégia e cuidado humano, porque entende que o corpo saudável é consequência de um processo contínuo de autocuidado”, afirma.

Jessyka observa que esse público está disposto a investir em programas personalizados, acompanhamento nutricional, apoio psicológico e experiências imersivas de bem-estar. “Negócios que oferecem um ecossistema completo têm mais chances de fidelizar clientes, porque entregam não só resultados físicos, mas também transformação de mentalidade”, completa.
A tendência já influencia a oferta de serviços no Brasil. Academias boutique, estúdios especializados e plataformas digitais estão expandindo portfólios para incluir aulas de meditação, programas de desenvolvimento de autoestima, consultorias de imagem corporal e grupos de apoio. Além disso, a tecnologia tem papel central, com aplicativos e wearables que permitem monitorar não apenas desempenho físico, mas também indicadores de estresse, sono e bem-estar emocional.
Segundo relatório da McKinsey & Company, consumidores dispostos a pagar mais por experiências de bem-estar integradas gastam, em média, 20% acima do ticket médio do setor. Para investidores e empreendedores, o recado é claro: criar soluções que alinhem propósito, personalização e tecnologia é o caminho para liderar o mercado na próxima década.
Para Jessyka, o futuro do fitness consciente está em compreender que o exercício não é um fim, mas um meio. “Quando ajudamos alguém a se reconectar com o próprio corpo de forma saudável, estamos oferecendo algo muito maior do que estética. Estamos entregando qualidade de vida, confiança e autonomia”, conclui.