O mercado não pode financiar o ódio – 15/09/2025 – Natalia Beauty

O mercado não pode financiar o ódio - 15/09/2025 - Natalia Beauty

O assassinato de Charlie Kirk na quarta-feira (10), nos Estados Unidos, chocou o mundo. O ativista conservador de 31 anos foi baleado durante uma palestra na Universidade Utah Valley e morreu a caminho do hospital. Mas o que mais me impressionou como empresária não foi apenas a tragédia em si, foram as reações que vieram depois.

Enquanto a família de Kirk ainda processava a perda do jovem pai de duas crianças, centenas de pessoas nas redes sociais começaram a celebrar sua morte. No Brasil, figuras como o influenciador Jones Manoel ironizaram o assassinato, enquanto uma estilista da Vogue Brasil escreveu que “ama quando fascistas morrem em agonia”. E foi aí que o mercado mostrou sua força.

Conservadores americanos criaram um site chamado “Charlie’s Murderers” para expor quem celebrou o assassinato, identificando nomes, cidades e empregadores dos autores dessas mensagens. Segundo o site, já foram mais de 20 mil denúncias encaminhadas às empresas. O resultado foi imediato: a escritora Gretchen Felker-Martin foi demitida da DC Comics, o comentarista Matthew Dowd perdeu o emprego na MSNBC, e universidades como Mississippi e Meio-Tennessee demitiram funcionários por “comentários insensíveis”.

No Brasil, o deputado Nikolas Ferreira lançou movimento semelhante, e empresários como Tallis Gomes conclamaram colegas a vasculharem as redes sociais de seus funcionários. A Arena RM, em Belo Horizonte, demitiu um funcionário que celebrou a morte de Kirk. A startup Civics Educação demitiu Pedro Oliveira, que havia sugerido que Nikolas Ferreira deveria ser o próximo a morrer.

Como empresária que construiu sua carreira priorizando valores como respeito e inclusão, eu apoio completamente esse movimento. E explico por quê.

A maior arma que nós, empresários, temos contra o extremismo não está em manifestos ou notas de repúdio. Está na nossa folha de pagamento. Está na nossa capacidade de decidir quem merece receber nosso dinheiro todo mês.

Porque vamos ser claros: quando você mantém um extremista na empresa, você não está apenas pagando um salário. Você está legitimando aquele comportamento, dando recursos para que essa pessoa continue espalhando ódio e, pior ainda, mostrando para o mercado que aqueles valores são toleráveis na sua organização.

Esse é o argumento mais furado que existe. Se um funcionário prega intolerância no fim de semana, ele carrega essa mentalidade para dentro da empresa na segunda-feira. Ele interage com colegas, clientes, fornecedores. Ele representa a marca em reuniões, eventos, negociações.

Como você explica para uma funcionária negra que ela precisa trabalhar lado a lado com alguém que compartilha conteúdo racista? Como você diz para um cliente LGBTQIA+ que aquele funcionário homofóbico “só” expressa ódio fora do expediente?

E no caso de Kirk, estamos falando de algo muito mais grave: pessoas celebrando um assassinato. Quando alguém comemora a morte violenta de outro ser humano por motivações políticas, isso não é “opinião”, é uma ruptura moral profunda.

Empresas adoram falar de responsabilidade social, diversidade e governança. Mas o teste real não está nos relatórios anuais, está em quem você escolhe manter na sua equipe quando a coisa aperta.

De que adianta investir em programas de diversidade se você não demite quem sabota esses programas nas redes sociais? De que vale patrocinar causas sociais se você paga salário para quem ataca essas mesmas causas?

O caso Kirk se insere num contexto mais amplo de crescente violência política, que inclui os atentados contra Trump e a facada em Bolsonaro no Brasil. Vivemos um momento em que a desumanização do adversário político está alimentando atos cada vez mais extremos.

Nós, do setor privado, temos uma responsabilidade histórica nesse momento. Não podemos mais fingir que somos apenas espectadores. Cada funcionário extremista que mantemos é uma contribuição para essa deterioração social. Cada demissão por discurso de ódio é um freio nesse processo.

Quero deixar claro: demitir por extremismo não é censura. Censura é quando o Estado proíbe manifestações. Gestão responsável é quando uma empresa decide que não vai financiar comportamentos que vão contra seus valores e colocam em risco seus funcionários e clientes.

A pessoa continua livre para falar o que quiser, só não será mais bancada por uma empresa que não compactua com esses valores. É simples assim.

O empresário Tallis Gomes disse algo que me marcou: “Nossa arma hoje é o emprego”. E ele está certo. Nós temos o poder de criar uma cultura na qual o extremismo tem consequências reais: quem escolhe o ódio perde oportunidades. É fato que empresas sérias não dão espaço para quem promove violência.

Isso não é sobre perseguição política ou ideológica. É sobre desenhar uma linha clara: dentro das nossas empresas, há espaço para divergência, debate, pluralidade —mas não há espaço para ódio, intolerância ou celebração da violência.

As empresas que quiserem prosperar no longo prazo vão ter que escolher um lado. Não dá mais para surfar na neutralidade enquanto a sociedade se fragmenta.

Os consumidores estão cada vez mais atentos aos valores das marcas que consomem. Os funcionários querem trabalhar em ambientes seguros e coerentes. Os investidores estão priorizando empresas com governança sólida.

Manter extremistas na folha de pagamento é um péssimo negócio —moral, social e financeiramente.

Como empresária, eu faço um apelo aos meus colegas: usem o poder que vocês têm. Demitam por discurso de ódio. Criem políticas claras sobre comportamento nas redes sociais. Mostrem que suas empresas não são financiadoras do extremismo.

A morte de Kirk deve servir como ponto de inflexão. Se nós não fizermos isso agora, estaremos construindo um país onde o ódio é não apenas tolerado, mas recompensado financeiramente.

O caso Kirk nos mostrou algo importante: quando empresas agem em conjunto, extremistas enfrentam consequências reais. Dezenas de demissões em poucos dias provaram que o mercado pode, sim, ser uma força poderosa contra a intolerância.

E esse não é o Brasil que eu quero deixar para as próximas gerações.



Fonte ==> Folha SP

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