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Varig gera disputa judicial 15 anos após sua falência

Varig gera disputa judicial 15 anos após sua falência

Responsável por levar o Brasil literalmente aos ares, a Varig tornou-se ao longo de décadas o símbolo da aviação comercial nacional no mundo. Mas uma série de turbulências políticas e econômicas a partir dos anos 1990 levaram a companhia à falência, deixando um saldo de dívidas até hoje não liquidadas. A trajetória da empresa que inaugurou as rotas comerciais pelos céus do país carrega feitos impressionantes, mas também uma série de controvérsias que ajudaram a moldar o desenvolvimento da aviação civil e a retratar um pouco da interferência da política na economia nacional. Após quase cem anos de sua criação e quinze de sua falência, a Varig sobrevive na nostalgia de quem viveu o auge da companhia – e em ações judiciais em que credores disputam um passivo de cerca de R$ 3 bilhões de sua massa falida. O ponto de partida da Viação Aérea Rio Grandense A história começa na manhã de 3 de fevereiro de 1927, em Porto Alegre, quando um pequeno hidroavião Dornier Do J Wal, batizado de Atlântico, partiu das águas do Rio Guaíba com destino às cidades de Pelotas e Rio Grande. Tinha início o primeiro voo comercial do país, que inaugurou a rota chamada de Linha da Lagoa e a história da Viação Aérea Rio-Grandense (Varig), que seria oficialmente instituída no dia 7 de maio do mesmo ano. No comando estava o alemão Otto Ernst Meyer, um ex-oficial-aviador da Aviação Real Prussiana que chegara ao Brasil em 1921 e já havia tentado empreender no ramo em Recife e no Rio de Janeiro, sem sucesso. Na capital gaúcha, Meyer conseguiu realizar o sonho de fundar uma empresa de aviação no Brasil com ajuda de quase 500 acionistas. O primeiro avião e a tripulação vieram por meio de um acordo com a empresa alemã Condor Syndikat. Apesar da operação inicialmente modesta, a empresa nascia com um projeto ambicioso: levar brasileiros aos céus quando o país ainda mal conhecia o asfalto – a primeira rodovia pavimentada, que liga o Rio de Janeiro a Petrópolis (RJ), foi inaugurada no governo Washington Luís, apenas em 1928. A expansão para fora do país e um novo modelo de governança O pioneirismo da Varig não se resumiu à inauguração da aviação comercial no Brasil. Seu legado inclui desde avanços em tecnologia, gestão, infraestrutura e rotas até melhorias em procedimentos de bordo e atendimento ao cliente. Desde o início, a empresa inovava na integração multimodal de serviços ao transportar simultaneamente passageiros, cargas e correspondências.​ Nas cabines, estreou, em 1932, o uso da radionavegação no Brasil, elevando o padrão de segurança operacional dos voos regionais e nacionais.​ Em 1934, foi pioneira na operação de voos noturnos regulares, o que aumentou drasticamente a eficiência da malha aérea e possibilitou conexões inéditas.​ Em 1942, lançou o primeiro voo internacional de uma companhia brasileira, com a rota Porto Alegre-Montevidéu, abrindo caminho para a expansão da aviação nacional na malha global.​ A decisão ocorreu um ano após a polêmica renúncia de Ernst Mayer do comando da companhia (veja mais abaixo), passagem que também inaugurou um modelo inédito de gestão empresarial. A presidência passou para o primeiro empregado da empresa, Ruben Berta, que, três anos depois, criou a Fundação dos Funcionários da Varig. Com a missão de garantir bem-estar e benefícios aos colaboradores, a fundação passou também a participar do comando da companhia aérea, indicando presidentes e participando de decisões estratégicas. A estrutura funcional, única no Brasil, perdurou até a derrocada da empresa, rebatizada como Fundação Ruben Berta após a morte do então presidente. Apesar de inovador, o modelo acabaria, décadas depois, contribuindo para a perda da capacidade da Varig de se adaptar frente aos desafios e às transformações do setor. De pioneira a referência mundial na aviação comercial No fim da década de 1950, ao lado da Vasp e da Cruzeiro do Sul, a Varig participou ainda da criação da ponte aérea Rio-São Paulo (1959), marco para a integração dos principais centros urbanos brasileiros.​ Em 1960, foi pioneira na era dos jatos comerciais no país quando adquiriu modelos Boeing 707, revolucionando a eficiência das viagens para os EUA e a Europa. Inaugurou ainda voos para destinos estratégicos, como Tóquio, Frankfurt, Nova York, Lisboa, entre outros, conectando o Brasil ao resto do mundo de forma sem precedentes.​ Ao longo de sua existência, a Varig operou 354 aeronaves em 102 destinos, sendo 32 nacionais e 70 internacionais. As operações cresceram muito com aquisições de concorrentes entre os anos 1960 e 1980, que a consolidaram como um virtual monopólio no setor aéreo durante esse período. Quando comprou o consórcio Real-Aerovias-Nacional, em 1961, por exemplo, incorporou rotas para América Latina, EUA e Ásia, além de uma frota significativa de aeronaves, mais do que dobrando suas operações.​ Já em 1965, após o fechamento da Panair do Brasil pelo governo militar, herdou rotas internacionais para Europa, Oriente Médio e Ásia.​ Em 1970, expandiu seus voos para a África, inaugurando a rota Rio de Janeiro-Luanda-Johanesburgo, e, cinco anos depois, intensificou as operações domésticas e sul-americanas com a aquisição da Cruzeiro do Sul.​ Em outra frente, foi reconhecida pelo pioneirismo em tecnologia de bordo e no atendimento ao cliente, ao lançar serviços personalizados de alto padrão, com vinho francês, caviar russo e churrasco a bordo, e acumular prêmios internacionais de excelência, sendo comparada a referências internacionais, como a americana Pan Am, a alemã Lufthansa, a holandesa KLM e a francesa Air France. Entre os anos 1970 e 1980, era a maior companhia aérea sul-americana e uma das 20 maiores do mundo em volume de passageiros internacionais, segundo o relatório anual da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata). De acordo com o Anuário Estatístico do Departamento de Aviação Civil (DAC), incluindo sua subsidiária Rio Sul, contava com uma das maiores frotas da América Latina, com mais de 100 aeronaves. Em 1994, chegou a ter em seu quadro 24 mil funcionários. Mais recentemente, foi ainda a primeira companhia aérea brasileira a implantar check-in automatizado e a criar um programa de milhagem, o Smiles, referência em fidelização

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