Os dados do IBGE divulgados na última semana pegaram economistas de surpresa: a queda da taxa de desemprego, que recuou de 6,2% para 5,8%, foi mais forte que a esperada.
“O mercado de trabalho é lento, demora para bater o tempo necessário. Primeiro tem que bater na atividade econômica, desacelerar o setor de serviços, que é o último a ser impactado pela taxa de juros. Se ficar olhando para o mercado de trabalho para fazer um diagnóstico se o juro está batendo ou não, vai errar”, disse Aurélio Bicalho, economista-chefe da Vinland, em call com investidores.
O economista defende que, a despeito do mercado de trabalho, os sinais de arrefecimento da economia já estão aparecendo em setores mais sensíveis à taxa de juros, como na construção civil, na produção de bens de capital e em índices de confiança.
“Não é linear. Tem meses que vai crescer um pouquinho e depois volta a recuar, mas os sinais são muito claros.” Ele também destaca que, embora elevada, a inflação já começa a dar sinais de reversão em alguns de seus componentes. “Já foi pior”, complementa.
A expectativa de Bicalho é de que a Selic comece a cair entre as reuniões de dezembro e janeiro. O que irá definir, segundo ele, será a política monetária americana. “Se o cenário internacional se consolidar com o Federal Reserve (Fed) cortando juros, o que tende a enfraquecer o dólar, o Banco Central pode até antecipar esse ciclo de cortes para a reunião de dezembro.”
Nesse sentido, as projeções estão mais otimistas. Na avaliação da gestora, o cenário se tornou mais favorável para o Fed começar a cortar juros após uma forte revisão para baixo dos dados do mercado de trabalho americano, na semana passada. Combinadas as revisões de maio e junho, a criação de empregos do payroll foi ajustada para baixo em 258 mil.
“Lembrando que o Fed já contempla números mais elevados de inflação nos próximos dois meses, provavelmente, por efeito da tarifa. Então, aqui precisaria surpreender bem para que não houvesse corte de juros”, disse Bicalho.
“Alguns [membros do Fed] que vinham com o discurso de manutenção da taxa de juros, já alteraram esse discurso para possibilidade de corte de juros no curto prazo”, complementa.
José Monforte, gestor da Vinland, explica que o fundo macro tem feito posições aplicadas táticas na parte curta da curva de juros brasileira.
“O prêmio, na medida que o prêmio de corte vai sendo incorporado, a gente vai praticamente reduzir a posição, e quando ele voltar a ficar menor, a gente volta a aplicar”, afirma o gestor
Na frente de moedas, a Vinland está vendida em volatilidade de dólar contra o real e contra a África do Sul. O fundo ainda carrega uma posição direcional vendida em dólar contra o peso colombiano, prevendo a recompra de títulos e venda de dólares pelo Tesouro da Colômbia ao longo dos próximos meses.
A gestora também segue com posições aplicadas nas curvas de juros da Colômbia e México, com expectativa de que se beneficiem do ciclo de cortes de juros do Fed. “Mas estamos com bastante cautela, porque há um risco para a inflação americana de curtíssimo prazo”, diz Monforte.
A expectativa do gestor é de que a precificação sobre os cortes de juros nos Estados Unidos ainda passem por alguma volatilidade. Da semana passada para esta, recorda, praticamente dobrou o prêmio de corte na curva americana para este ano, passando de 35 bps para próximo de 60 bps.
“Isso é o reflexo do payroll, mas também das mudanças no board do Fed e de uma percepção mais ampla de que a economia americana vai arrefecendo e que os cortes de juros serão necessários em algum momento. O peso da inflação nesse cenário passa a ser um pouco menor, mas não significa que não teremos volatilidade adiante.”
Fonte ==> NEOFEED