Ainda que, por ora, as atenções de técnicos dos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) estejam voltadas para discutir os impactos do tarifaço de 50% imposto pelo presidente americano Donald Trump às exportações brasileiras, já há expectativa para que saia da gaveta (em breve) o plano nacional de data centers, hoje em avançada discussão e que deve atrair R$ 2 trilhões em investimentos em uma década.
E, nesse contexto, a gigante suíça de eletrificação ABB pretende absorver parte desse novo mercado, a partir de um plano de investimentos de R$ 150 milhões no Brasil, em dois anos.
“Tanto a nossa estrutura local como a global estão preparadas para esse novo momento no Brasil, ainda mais com a sinalização de novos projetos que vão além de São Paulo, indo mais para o Sul e Nordeste”, diz Marcelo Vilela, vice-presidente da ABB Eletrificação Brasil, ao NeoFeed.
Segundo dados da consultoria global Data Center Map, o Brasil tem hoje 188 data centers, sendo 65 deles no estado de São Paulo. E a energia é o principal insumo para o funcionamento desses equipamentos. Por isso, a necessidade de garantir mais eficiência e segurança, com o menor custo operacional.
“O Redata [como é conhecida a política nacional dos data centers, que inclui incentivos para os investimentos] é muito interessante, quando a gente pensa na questão do trânsito dos dados, como e-commerce e pagamentos online. O plano garante esse fomento e assegura essa soberania brasileira”, afirma.
No pacote do ciclo de investimentos da ABB está a adequação da fábrica da companhia em Sorocaba (SP) para início da produção local de um superdisjuntor de baixa tensão, chamado Emax 3, e que amplia a alta performance dos equipamentos e aumenta o nível de monitoramento do sistema.
“Ele vai ter recursos wireless. Na prática, o nosso cliente vai precisar de menos cabeamento nas suas soluções e vai garantir monitorar funções de temperatura e até as que são geridas por outros equipamentos”, explica Vilela. “E novas funções tecnológicas ainda estão sendo incorporadas.”
O produto entrou em fase de pré-lançamento na Europa e será introduzido nos mercados da companhia em fases. No Brasil, assim como nos Estados Unidos e na China, a produção começará no primeiro trimestre de 2026. Além da fábrica de Sorocaba, a ABB também tem no Brasil um parque fabril em Contagem (MG).
Parte da matéria-prima virá da fábrica principal da ABB, na Itália, e a finalização, então, é realizada no Brasil. “Isso nos dá mais flexibilidade e agilidade. Com o produto sendo feito aqui, consigo adaptar minha manufatura para, no fim, entregar um produto muito versátil”, diz o VP.
O modelo, segundo Vilela, está preparado para atender justamente a necessidade de ainda mais energia, a partir de implementações de data centers com Inteligência Artificial (IA), que deve dominar o mercado brasileiro nos próximos anos.
“Do ponto de vista de instalações, estamos muito adequados para esses novos projetos, incluindo instalações muito grandes que devem surgir, de até 6 gigawatts (GW)”, afirma. O Brasil hoje tem capacidade instalada de 600 megawatts (MW) de potência nos data centers.
Somente neste ano, o segmento de eletrificação da ABB no Brasil já contratou mais de 100 profissionais neste ano, que se somaram aos 850 que atuam na divisão. Outro plano envolve a abertura de um terceiro turno de trabalho na fábrica, caso a demanda seja ainda maior do que o previsto pela companhia.
Mas, segundo Vilela, o risco de uma espécie de ‘pane’ pela necessidade crescente de infraestrutura em energia elétrica não deve afetar o desenvolvimento dos grandes projetos de data centers com IA no Brasil. “Nos últimos anos, o Brasil tem investido muito na ampliação de sua matriz energética. E a demanda por energia elétrica realmente cada vez vai ser maior”, diz o VP da ABB.
“Nosso problema não é ter disponibilidade e sim fazer com que ela seja conectada na rede. E há muitos investimentos para isso, inclusive com a nossa participação. A gente trabalha também com soluções de eletrificação na geração, na transmissão e na distribuição.”
No segundo trimestre de 2025, a empresa reportou receita de US$ 8,9 bilhões, alta de8% sobre o mesmo período do ano passado. O volume de pedidos alcançou US$ 9,8 bilhões, um aumento de 16% sobre a mesma base de 2024.
Nesse quesito, o continente americano cresceu 27% no segundo trimestre, a maior alta entre as regiões. Europa registrou alta de 12%, e Ásia, Oriente Médio e Ásia, 7%.
No segmento de eletrificação, área que corresponde à metade do faturamento da companhia, o Brasil está entre os cinco maiores mercados globais da companhia – a companhia não revela a receita por país.
Na Bolsa de Zurique, as ações da ABB registram valorização de 7,85% no acumulado de 2025. A companhia está avaliada em US$ 121,6 bilhões.
Fonte ==> NEOFEED