Ler o resumo da matéria
A exposição Bancos Indígenas do Brasil: Rituais, considerada a maior do país, exibe 600 bancos de 51 etnias. As peças fazem da Coleção Beĩ, com mais de 1,3 mil peças de diferentes regiões do Brasil, amealhadas durante 20 anos por Marisa Moreira Salles e Tomás Alvim.
A mostra ocorre em três prédios de Brasília e envolve curadoria de artistas indígenas.
Os bancos, feitos de madeira com grafismos, têm significados espirituais e sociais, variando entre objetos cotidianos e peças centrais em rituais das etnias.
A coleção busca valorizar a arte indígena e promover a autonomia artística dos criadores, destacando o papel dos povos originários como primeiros designers brasileiros e sua visão integrada com o meio ambiente.
* Resumo gerado por inteligência artificial e revisado pelos jornalistas do NeoFeed
Há poucos dias, ao divulgar as dez melhores mostras de Native Art de 2025, a revista norte-americana First American Art Magazine incluiu na lista Bancos Indígenas do Brasil: Rituais, em cartaz em Brasília, no Palácio do Itamaraty, no Museu Nacional da República e no Memorial dos Povos Indígenas.
“Isso é muito significativo, porque é a primeira exposição de bancos indígenas em órgãos públicos de Brasília. E a maior já feita no País. Ela está dividida em três prédios do Niemeyer que, na verdade, sempre nos exportou como modernidade e fez o mundo conhecer o modernismo da arquitetura brasileira”, diz ao NeoFeed Marisa Moreira Salles, proprietária, com Tomás Alvim, da Coleção Beĩ.
Considerado um dos maiores e mais importantes acervos de bancos indígenas do Brasil, a coleção conta com mais de 1,3 mil peças, de vários grupos que se espalham por todo o País — da fronteira com a Guiana ao Rio Grande do Sul. A ser encerrada em março, a mostra traz 600 delas, com bancos de 51 etnias.
Uma outra exposição foi feita no Museu Goeldi, em Belém, no Pará, durante a COP 30, em novembro. “Mas para nós era importante estar em Brasília neste ano, porque até o fim de 2026 o Brasil é presidente da COP e muita gente vai passar pela capital”, diz Marisa.
Ela e Tomás começaram a coleção por acaso — por motivos apenas estéticos. Depois do encantamento inicial e ao longo de mais de 20 anos, o aprendizado se aprofundou. “A arte indígena vai além da beleza, ela preserva as características individuais de cada uma das etnias, transmite valores culturais desses povos e até seu universo místico”, explica Marisa. “A arte nos possibilitou um enorme aprendizado. Digo isso com toda a humildade do mundo.”
A coleção não tem qualquer fim comercial e nenhuma peça está à venda. Marisa e Tomás têm tentado inserir esses artistas no mercado para que possam vender diretamente suas peças e, com isso, manter o seu “savoir-faire” e o estilo de vida no qual os bancos são carregados de significado.
“Nessas etnias, os bancos são um objeto corriqueiro, do cotidiano, mas central nos rituais. Tem bancos de pajé, de cacique e bancos femininos. Há várias distinções nos bancos que fazem parte de rituais de reclusão, de passagem, de agradecimento pela colheita, por alguma cura ou por memória dos falecidos”, completa ela.
Na visão de Marisa e Tomás, os índios são os primeiros designers brasileiros. “Acho que a gente não tinha um aprofundamento do significado desses povos ancestrais no país, nas nossas vidas, de quem nós somos. Por que nós, brasileiros, somos do jeito que somos?”, pergunta-se a colecionadora.
Iniciada no ano 2000, de forma intuitiva, a Coleção Bei foi precursora de toda essa valorização da arte originária que hoje domina exposições de arte contemporânea no Brasil e fora dele. Para os colecionadores, esse tipo de arte nunca foi um modismo passageiro.
“Eu costumo dizer que a grande lição que os povos originários nos dão é a maneira como eles olham o meio ambiente”, afirma Marisa. “Eles possuem uma simbiose com os outros animais, com a floresta, com as plantas em geral. Não se sentem superiores. Olham de igual para igual.”
“A arte indígena vai além da beleza, ela preserva as características individuais de cada uma das etnias” diz Marisa Moreira Salles (Foto: Rafael Costa/Coleção Beī)
Marisa Moreira Salles e Tomás Alvim começaram a Coleção Beĩ cerca de 20 anos atrás e, desde então, já somaram quase 1,3 mil peças ao acervo (Foto: Arquivo Pessoal)
Banco com forma de tamanduá criado por Uruhu Mehinako, da aldeia Kaupüna, na Terra Indígena do Xingu, em Mato Grosso (Foto: Marisa Moreira Salles)
Banco do Alto Xingu, autor desconhecido. Ao fundo, obra de Alfredo Volpi (Foto: Marisa Moreira Salles)
Bancos de diversas etnias, com pintura de Dayara Tucano, ao fundo (Foto: Marisa Moreira Salles)
Banco Karajá, sem autor definido, com estudo do quadro “O Grito do Ipiranga”, de Pedro Américo (Foto: Marisa Moreira Salles)
Todos os bancos são feitos em madeira e com diferentes pinturas. Alguns são pequenas esculturas, outros grandes; a maior parte tem formato de animais. Os grafismos também sempre foram muito importantes nos corpos indígenas quando pintados para os rituais. Hoje, em certas regiões, houve uma migração dos desenhos dos corpos para os bancos.
“Há uma coisa interessante: os bancos são pesados e feitos pelos homens, mas a mulher faz o grafismo”, conta Marisa. “Essa era uma arte efêmera, executada no corpo para as festas, que agora ganha uma dimensão perene, material e duradoura.”
Os bancos já foram expostos no Teien Art Museum, em Tóquio, no Japão, e no Kennedy Center, em Washington, nos Estados Unidos. No Brasil, têm participado regularmente da SP-Arte com um espaço para venda direta.
“Os indígenas entendem que a coleção é uma plataforma de exposição da arte deles. A gente não vende, mas eles já fizeram vendas diretas para o Japão, Alemanha, México”, conta Marisa.
O preço dos bancos varia conforme o tamanho, a elaboração e a região: vai de R$ 1 mil a R$ 20 mil.
Óbvio que, quando esse trabalho é reconhecido em feiras de arte, começa também a entrar em algumas galerias.
“O que muda completamente a visão que a gente tinha daquele banco que se encontrava perdido, cheio de poeira, sem saber qual artista estava por trás, numa loja de artesanato”, afirma a colecionadora. “Essa diferença de patamar eles sentem.”
A exposição de Brasília tem também curadoria de um grupo de artistas indígenas, como Akauã Kamayurá, Mayawari Mehinaku, Salomão Tikuna e Rael Tapirapé, entre outros.
Fonte ==> NEOFEED

