As taxas anunciadas pelo governo Donald Trump à importação de produtos brasileiros, que entrarão em vigor em 6 de agosto, pouparam a SkyWest, a maior companhia aérea regional dos Estados Unidos e a principal compradora de aviões da Embraer no segmento comercial. Essa isenção fez, inclusive, com que as ações da Embraer (EMBR3) disparassem mais de 10% na quarta-feira (30).
Fundada em 1972 no estado de Utah, a SkyWest não opera hoje com a própria marca. Por meio de contratos de operação que são comuns na aviação regional norte-americana, os aviões da empresa ostentam a identidade visual de seus clientes. São quatro companhias e seus respectivos braços regionais na carteira atual:
- Alaska SkyWest (Alaska Airlines)
- American Eagle (American Airlines)
- Delta Connection (Delta Air Lines)
- United Express (United Airlines)
Em nome desses clientes, a SkyWest opera cerca de 2,5 mil voos diários para mais de 250 destinos nos EUA, Canadá e México. Em 2024, a empresa transportou 42,3 milhões de passageiros — este número é superior ao das três maiores companhias aéreas brasileiras — e reportou uma receita de US$ 2,9 bilhões.
Maior parte da frota da SkyWest é de aviões da Embraer
A capilaridade da SkyWest está apoiada em uma frota de 502 aviões em operação para as empresas parceiras — número relativo a 30 de junho. A capacidade varia entre 50 e 76 passageiros, dependendo da aeronave e da configuração interna. O Embraer E175 é o mais representativo da frota, com 265 unidades, o equivalente a 53% do total de aviões, divididos da seguinte maneira entre os parceiros:
- United Express – 116 aeronaves
- Delta Connection – 87
- American Eagle – 20
- Alaska SkyWest – 42
Também fazem parte da frota os modelos Bombardier CRJ-200, CRJ-700 e CRJ-900, mais antigos e que não estão mais em produção desde 2020, o que abre mais espaço para a aeronave brasileira no mercado norte-americano.
O E175 da Embraer tem capacidade para entre 70 e 76 passageiros e se encaixa na estratégia das companhias aéreas de alimentar os voos nos principais aeroportos dos EUA. Consequentemente, essa estratégia é a base do negócio da SkyWest, a maior operadora do modelo no mundo.
A SkyWest é a empresa que mais tem pedidos firmes para o E175. São 288, sendo que já foram entregues 214 — o restante na frota veio de outras empresas. Com isso, a fabricante brasileira tem ainda 74 aeronaves do modelo para entregar, incluindo o pedido de junho para 60 unidades com opção para mais 50.
“Como a maior proprietária e operadora de E175 em todo o mundo, temos a satisfação de continuar a expandir nossa frota de E175 e de aprimorar nossa presença nos dois segmentos. Este pedido nos permite avançar em nossa estratégia de frota de longo prazo e continuar a entregar o principal produto regional da indústria”, afirmou o presidente e diretor-executivo da SkyWest, Chip Childs, no anúncio do novo acordo.
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De geração anterior, E175 é produzido para atender os EUA
A família E-Jets saiu do chão pela primeira vez em 2022 e entrou em operação dois anos mais tarde. Com mais de 1,7 mil unidades produzidas, representa o maior sucesso comercial da Embraer e se trata de um avião feito sob medida para atender o mercado regional dos EUA.
Das quatro variações dos E-Jets — E170, E175, E190 e E195 — somente o E175 segue em produção. Isso levando-se em conta que a Embraer lançou em 2017 uma atualização da família, a geração E2, que contempla o E190-E2, E195-E2 e o E175-E2. Só que a menor versão, o E175-E2, não vendeu nenhuma unidade até agora. E a explicação vem exatamente dos EUA.
Entre as várias cláusulas de escopo entre sindicatos dos pilotos e companhias aéreas norte-americanas, há uma especificamente sobre regras dos jatos regionais que podem ser operados pelas empresas parceiras. E ela se apoia no peso máximo de decolagem permitido, que é de 39 mil kg. O E175 tem 38.790 kg, quase no limite. Em compensação, o projeto do E175-E2 — mais longo e com motores maiores e mais pesados — elevou esse peso para 44.600 kg, escapando das cláusulas de escopo.
Com isso, e sem um concorrente com especificações semelhantes, as empresas regionais dos EUA continuam buscando o E175, o que manteve a Embraer produzindo o modelo, mesmo sendo menos eficiente do que o da nova geração. Além da SkyWest, a Republic Airlines, a Horizon Air e a American Airlines têm pedidos firmes — as quatro empresas somam 202 aviões a serem entregues pela fabricante brasileira.
A entrega dessas aeronaves por parte da SkyWest poderia ser adiada devido às novas tarifas anunciadas por Trump. Segundo o diretor comercial da companhia, Wade Steele, “se a tarifa de 50% com o Brasil for implementada, planejamos trabalhar com nossos principais parceiros e a Embraer para adiar a entrega até que a situação tarifária seja resolvida”. O presidente norte-americano, porém, acrescentou os aviões na lista de produtos que não serão taxados em mais 40%, mantendo-se no patamar de 10%.
Fonte ==> Gazeta do Povo.com.br